30 julho 2008

Esperanças (3)

Imagem retirada daqui.


Continuo perplexo com o caso dos subsídios a antigos combatentes no Ultramar, assunto que se arrasta há anos em gabinetes governamentais, com avanços fictícios e recuos estratégicos, tão penosamente quanto se movimentam hoje muitos dos primeiros homens enviados para essa guerra.

O assunto interessa a cerca de 900.000 portugueses que por lá passaram durante 14 anos e ainda mais estranho é o alheamento do país real em relação aos sacrifícios que a tantos foram pedidos.
Sirvo-me de um exemplo local. Existe em Alcochete uma artéria a que foi atribuído o nome do único filho da terra falecido no Ultramar: Rua Carlos Manuel Rodrigues Francisco (aquela em que se situa a Repartição de Finanças). Não contesto essa homenagem, ao contrário de outras.
O que fere a minha sensibilidade é a indiferença geral pelos ex-combatentes do Ultramar nascidos ou residentes no concelho. Quantos serão? Quem são? Como vivem? Alguma vez se tentou reuni-los?
Os mortos justificam homenagem e os vivos não merecem sequer um gesto de simpatia?
As culturas anglo-saxónicas encaram estas coisas numa óptica totalmente diversa. Realizam-se paradas e cerimónias, preparadas criteriosamente, para demonstrar gratidão a sobreviventes de muitas guerras, por serem avós e pais das gerações activas e por terem sido vítimas de opções políticas em que nem sempre participaram.
Os ex-combatentes do Ultramar português não eram militares profissionais, foram enviados à força para a guerra, prejudicaram-lhes a vida pessoal e familiar, os estudos e a carreira profissional, por períodos que variavam (em média) entre três e seis anos e muitos ainda hoje não ultrapassaram as dolorosas sequelas do que viram e sofreram.
Suponho que esmolas a maioria dos ex-combatentes rejeita. Mas duvido que faltassem à chamada se, localmente, alguém tiver a coragem de, pelo menos, reconhecer quanto lhes devemos.
Creio que a História virá a prestar a devida homenagem a estes 900.000 portugueses. Mas custa-me a compreender o receio, a vergonha ou o desinteresse de contemporâneos em entendê-los como a causa maior da explosão popular que se seguiu ao 25 de Abril.

Sem comentários: