08 julho 2008

Gente sem coração

Relativamente a este artigo de opinião de Armando Esteves Pereira, director-adjunto do «Correio da Manhã», a minha única discordância prende-se com o facto de nem só em todas as principais urbes do país se assistir ao fenómeno do abandono dos centros e à construção desordenada nas suas periferias.
Eu que, em anos recentes, dedico parte do meu tempo a rever locais recônditos do país afirmo que o fenómeno se generalizou no litoral, enquanto o interior é um impressionante deserto humano.
Alcochete e Samouco não são urbes principais e enfermam dos mesmos problemas: núcleos antigos desertos e abandonados às inclemências do tempo, onde o comércio vai morrendo ou muda de poiso antes que se afunde de vez, onde não há condições de reocupação sem profundas obras de remodelação de infra-estruturas e de modernização dos edifícios, bem como solução para casos como o estacionamento de veículos dos moradores.
A esse abandono nem sequer escapam edifícios classificados de valor arquitectónico, relativamente aos quais no concelho de Alcochete existem vários casos gritantes e bem visíveis para quem não for cego.
Convém aos especuladores que depressa arda ou acabe por ruir o que é velho e causa problemas e, para piorar as coisas, até a certos autarcas agrada o aumento de receitas, porque cada edifício novo rende imenso em taxas e licenças e, a prazo, representará bem mais em impostos cobrados.
Contudo, esta constatação significa um divórcio de interesses entre autarcas e munícipes conscientes. Por isso o poder local e os cidadãos vivem de costas voltadas.

Daí estar convicto que, se não mudarmos depressa de rumo, algum "salvador" o mudará por nós. Com bem menos pranto e dor que outrora, mais ano, menos ano, novamente haverá carroças à porta dos Paços do Concelho para carregar o arquivo rumo a outro local.
Nem me admiraria que fosse o mesmo de 1895.
Esperem mais algum tempo sentados, porque para todos os males a classe política sempre encontrou as terapêuticas que mais lhe convêm. E nunca precisou de consultar ninguém antes de tomar decisões, pois basta saber aproveitar o momento oportuno.

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