As máquinas partidárias locais deixaram-se de narcisismos e acordaram de dois anos e meio de torpor.
Os 30 meses passados não foram bons para a democracia nem para as instituições, que chegam debilitadas ao fim de um invulgar ciclo de alheamento político.
Enquanto olhavam para o umbigo, as máquinas partidárias passaram ao lado de informação preciosa. A maioria da documentação não foi estudada nem arquivada para memória futura. Militantes influentes e dirigentes confessam desconhecer coisas de que não deveriam ter-se alheado.
Resta menos de um ano para estudar assuntos, elaborar diagnósticos, propor soluções, traduzi-las em medidas compreensíveis aos eleitores e convencê-los da bondade das propostas.
Para que estas não se afigurem vagas e utópicas, previamente terá de conhecer-se a real situação financeira da nossa principal autarquia, informação que continua no segredo dos gabinetes.
A lei impõe o contrário mas o assunto é tabu desde um célebre comunicado que, há mais de dois anos, anunciava uma auditoria às contas herdadas. Recentemente, li num documento oficial o seguinte: "Dadas as dificuldades financeiras em que se encontra a Câmara Municipal" (...).
Converso com muitas pessoas e todas me dizem: para quê mais promessas se o imobilismo é visível e os problemas financeiros se pressentem à légua?
Na última década houve aumento populacional sem precedentes, com a consequente alteração do perfil sociológico dos residentes, a maioria oriunda de problemáticos e congestionados meios urbanos.
Gente desenraizada mas sabedora que desenvolvimento baseado em habitação não prenuncia bom futuro, embora desconheça que sem as receitas geradas pelo betão dificilmente a câmara sobreviverá se se mantiver o actual nível de despesa corrente. Essa sobrevivência preocuparia os chegados na última década?
Novos moradores em número tão significativo geraram massa crítica suficiente para uma revolução, se alguém conseguir sensibilizá-los a ir às urnas. A tarefa parece-me hercúlea, tanto mais que no país evoluiu a percepção acerca da política e dos políticos e a abstenção tende a agravar-se.
Sem a mobilização dos cidadãos qualquer campanha será mero desperdício de dinheiro, de capacidades e de energias.
Os eleitores vivem alheados do que existe além da porta de casa: oito em cada dez manifestações públicas não atraem outros espectadores senão os forçados.
Tentar acordar tantos indiferentes, em menos de um ano, exige meios financeiros impossíveis de obter à escala local sem vender corpo e alma ao Diabo!
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