Em 2005, Portugal era o país da União Europeia mais dependente da energia: 99,4%. A média europeia era de 56,2%
Em 2006, em Portugal, o transporte rodoviário representou 94,9% do transporte total interno, sobrando para os modos ferroviário, fluvial e marítimo somente 4,1%.
Numa década (1995-2005), em Portugal, o transporte ferroviário de mercadorias subiu 20% e, em apenas três anos (2002-2005), o transporte rodoviário equivalente subiu 44,3%.
Também em Portugal, entre 1995 e 2006, o transporte individual aumentou de 71,7% para 82,8% do transporte total de passageiros.
Há duas décadas que Portugal investe excessivamente em construção de auto-estradas mas estão anunciadas mais 20 concessões. Nos últimos dois anos, cerca de 90% do investimento do orçamento do Estado em transportes continuou a ser canalizado para infra-estruturas rodoviárias (confira dados aqui).
Não é de espantar que, além do que isto significa em agravamento de custos, de distorções no desenvolvimento e de dependências económicas perigosas, haja reflexos negativos no ambiente e na segurança rodoviária.
Há duas semanas, nos 32kms de auto-estrada que separam Vilar Formoso da Guarda, cruzei-me com 107 camiões. Por curiosidade, na estação ferroviária de Vilar Formoso consultei os horários disponíveis e contei quatro comboios diários de passageiros com paragem naquela estação.
Dois dias antes, num comboio Intercidades com cinco carruagens, que ligava Lisboa à Guarda, na gare de Celorico da Beira desembarcaram três passageiros e prosseguiram viagem somente uma dezena.
A semana passada, entre Coimbra e Vila Franca, cruzei-me com várias filas compactas de cinco e seis camiões.
Na extremamente perigosa Estrada Nacional 118, entre Alcochete e Porto Alto, frequentemente deparo com filas idênticas de camiões.
Não há muitos meses, na rotunda do Entroncamento, em Alcochete, Luís Proença – condómino deste blogue – numa manhã contava um camião por minuto a caminho dos armazéns no Passil.
Será isto desenvolvimento sustentável?
P.S. - O que o Presidente da República disse hoje, em Alter do Chão, é algo que qualquer português facilmente constata quando se afasta da costa atlântica.
No Minho, de Valença até ao limite do distrito de Vila Real é o deserto humano.
Quatro cidades parecem-me escapar a este fenómeno em Trás-os-Montes: Vila Real, Chaves, Mirandela e Bragança.
Na Beira Alta, de Viseu e Mangualde até à fronteira é o deserto humano. Já é difícil encontrar um restaurante. Modernos centros de saúde estão fechados. Em algumas sedes de concelho os antigos mercados só funcionam uma vez por semana.
Recentemente, no interior das muralhas de Sortelha (Sabugal) – uma das 12 aldeias históricas portuguesas – vi seis residentes: três idosas, dois cães e um gato. Totalmente recuperada com fundos europeus, existirão nela cerca de meia centena de habitações fechadas.
Na Beira Baixa, com excepção de Fundão e Castelo Branco, a desertificação humana é notória.
No Baixo Alentejo idem e no interior do Algarve o panorama não é melhor.
Um exercício que também recomendo é atravessar a fronteira e conhecer o lado de lá, da Galiza à Andaluzia, onde, há 30 anos, o isolamento não era menor.
Era mas deixou de ser. Todas as cidades deram um salto imenso.
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