Eu estava a ver se resistia a contar o que vou contar, mas não consegui. Manifestamente, sou um ouve-aqui-diz-acolá.
Hoje, a meio da tarde, falava com pessoa conhecida da nossa praça que no decurso da conversa me dizia com o ar mais cândido e magistral deste mundo: "...porque, ó Marafuga, como sabe, o poder económico deve estar subordinado ao poder político...».
Vi que não valia a pena contradizer a proposta de ditadura que o meu interlocutor me fazia. Como poderia explicar-lhe que não se trata de qualquer subordinação de poderes, mas de separação? Sim, de separação completa e sã entre o poder económico e o poder político, havendo a preocupação de domesticar o Estado e fazer prevalecer a lei.
O homem falava, falava, falava, mas como acontece em muitas destas vezes, eu consigo dar a impressão de que estou a escutar sem estar, devaneando por paragens longínquas.
Desta vez pensava no filme de Spilberg, A Lista de Schindler. E de que me lembrava eu que já vi o filme há tanto tempo? Lembrava-me de que com o avanço do processo revolucionário, o dinheiro nada vale. A loucura se instala nas instâncias de poder. O próprio Schindler sucumbe com os escravos que inicialmente comprava para os explorar. O poder de matar sobrepunha-se ao poder do dinheiro. Mas essa já era mesmo a lição que vinha de Lenine.
Por fim despedi-me do camarada, vendo-lhe eu no rosto a convicção de que me tinha dado uma ensaboadela.
Sem comentários:
Enviar um comentário