16 julho 2008

Saúde está doente

Há pouco mais de um mês, neste texto, prometera nova intervenção acerca do fecho do Serviço de Atendimento Permanente (SAP) do Centro de Saúde de Alcochete, quando pudesse avaliar o novíssimo Atendimento Complementar (AC).
Na realidade não há evolução positiva para utentes de um centro que, no final de 2007, tinha 17.130 beneficiários inscritos (3.222 sem médico de família), os quais originaram 44.215 consultas ao longo do ano.
O AC é mero remendo para minimizar a surpressão do SAP, que no ano passado assegurara 17.065 consultas urgentes (média de 46,7/dia), mais cerca de uma centena que no ano precedente.
O SAP funcionava sete dias na semana, das 08h às 20h. O AC está disponível aos sábados, domingos e feriados das 10h às 20h, porque nos dias úteis somente existe depois das 14h para quem não tenha médico de família ou o mesmo não esteja presente.
Portanto, se pertencer à casta dos que dependem exclusivamente do Serviço Nacional de Saúde (SNS), doravante, em Alcochete, faça o favor de padecer de maleitas imprevistas apenas nos horários adequados aos interesses corporativos. A alternativa é ir à urgência do hospital mais próximo, onde esperará horas.
E lembrar-me eu que, há cerca de duas décadas, os SAP foram criados para descongestionar as urgências hospitalares!
Há outros dados públicos, nada lisonjeiros nem recentes, muito embora só agora – a pouco mais de um ano de eleições locais – alguém tenha redescoberto a pólvora e reparado naquilo que os factos e as estatísticas demonstravam há uma década.
Em Alcochete, desde 1998, a população aumentou cerca de 60% mas, paralelamente, diminuiu o quadro de pessoal do centro de saúde. No início desta década tinha nove clínicos de medicina familiar. A última informação que conheço, já com três anos, indicava a existência de apenas sete, quando deveriam existir o dobro para nos aproximarmos da meta da Região de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo.
O resultado prático é que, em sete anos, as consultas por milhar de habitantes baixaram para quase metade (de 3,3 para 1,8), enquanto a meta para a Região de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo é de 4,5.
Um reparo devo ainda fazer aos responsáveis pela organização do Centro de Saúde de Alcochete, acerca da qualidade da informação disponibilizada. A profusão de papéis afixados é notória, não existe nenhum folheto com informação actualizada e muito menos locais fixos de atendimento e prestação de informações.
Tentem pôr-se na pele do utente e comprovarão que, devido à imprevisibilidade de horários do atendimento médico, uma simples consulta implica, na melhor das hipóteses, duas deslocações ao centro de saúde.
Esta semana já lá fui três vezes, todas inúteis porque continuo sem consulta marcada em tempo útil.
É patente a desactualização de quadros informativos que outrora eram úteis orientadores auxiliares, além de que a informação oralmente fornecida por funcionários raramente corresponde à realidade 48 horas depois.
Por fim, uma recomendação a quem manda no centro de saúde: preocupem-se menos com a esperteza de certos autarcas e escutem os utentes, que aqueles não são.
Certos autarcas demonstram temer painéis de opinião e aconselhamento, embora me pareça possível convidar uma dúzia de utentes regulares do centro de saúde a formar um grupo de apoio que se escutaria duas ou três por ano ou sempre que conveniente.

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