Quem leu os programas eleitorais autárquicos da última década encontrou promessas de transformação do concelho de Alcochete num eldorado.
A ponte, as acessibilidades e a paisagem serviram de engodo, os prédios surgiram como cogumelos e vendiam-se muito antes de estarem concluídos, a população residente aumentou 27,9% na década 1991/2001 e os autarcas tiveram mais dinheiro para manter gente aperreada por via do emprego, dos subsídios e daquelas coisinhas em que raros reparam mas que alimentam um "exército" indigente útil para as fotografias e para a estabilidade da votação.
Na política indígena já se mentiu demasiado mas, pasme-se ou não, ainda há quem suponha poder amealhar muitos votos propagandeando novas ilusões de bem-estar com aeroporto, plataformas logísticas, comboio de alta velocidade e empreendimentos alegadamente turísticos ao pé da porta.
A realidade actual é dura e visível por quem não seja cego, mas nenhum semeador de ilusões ousou mencioná-lo no tempo em que se vendia Alcochete como "a Cascais do séc. XXI". Há bem pouco tempo, o desejo oculto de alguns era chegar aos 25.000 habitantes e, em meados do século, confundir-se-ia Alcochete com Almada, Corroios ou Santo António dos Cavaleiros.
O aumento populacional desregrado e mal planeado ocasiona sempre inúmeros problemas, que emergem agora à luz do dia em Alcochete e são de difícil solução.
Ontem estive a ler um documento recente que, no meio de informação importante, continha um arrazoado de demagogia desenvolvimentista para enganar papalvos. Dele extraí mais alguns dados esclarecedores sobre o concelho, que complementam outros do INE que, há uns meses, reproduzi em vários textos publicados neste blogue:
- Taxa de variação da população residente superior a 4% ao ano;
- Quarto concelho da península de Setúbal com a maior média de habitantes por médico nos Centros de Saúde;
- Quarto concelho da península de Setúbal com maior número de acidentes de viação;
- Segundo concelho da península com o maior índice de furtos de veículos e em veículos motorizados.
Há sempre um preço a pagar pelo desenvolvimento desregrado e agora começam a ser conhecidas as primeiras consequências. Outras surgirão no futuro, a menos que se inverta o rumo.
Para mim, o único rumo que à maioria interessa é este: não a mais prédios, mais automóveis e mais gente. Prioridade ao emprego e bem-estar dos residentes, preservar e valorizar o património edificado e cuidar do meio ambiente.
Sem comentários:
Enviar um comentário