22 novembro 2008

Onde é que ele quer chegar?


Se por qualquer estranhíssimo facto todos Os Lusíadas desaparecessem à face da terra de um momento para o outro, se apenas um homem possuísse um exemplar, se esse homem fosse obstáculo inultrapassável à recuperação da obra, se a resolução deste problema dependesse exclusivamente de mim, eu matava o dito homem e salvava o poema épico de Camões.
Onde é que ele quer chegar?

13 comentários:

Unknown disse...

O que eu quero dizer é o seguinte: se o direito de um é o dano de outro, põe-se cobro ao primeiro (direito).
E ainda quero dizer que o simples indivíduo que ande sobre duas pernas não se sobrepõe às "Quatro Estações" de Vivaldi, pois não penso que ter duas pernas direitas seja mais cómico do que as ter tortas.

Paulo Benito disse...

Tema muito polémico e sensível. Parece-me que é a base das ditaduras (esquerda e direita).

Paulo Benito

Unknown disse...

Desta vez o meu amigo acertou!
O que eu estou a pôr em causa é o vira-costas da Democracia à tradição, levando-nos à ditadura.

Miguel Saturnino disse...

E se esse homem fosse Luís de Camões?

Unknown disse...

Ao contrário da tua, as minhas conjunções subordinadas condicionais contam com o real.

Miguel Saturnino disse...

A questão teórica sobrepõe-se, aqui, à possibilidade de realização do exemplo.

E a questão teórica é: mataria o homem, mesmo que ele fosse o legítimo dono e criador do "tesouro" que tanta falta faria à humanidade?

Até que ponto algo possuimos e que criámos deixa de ser nosso e passa a ser de outrém?

Unknown disse...

Mas tu julgas que eu sou algum nefelibata ou quê?
Desde quando é que eu separo a teoria da prática? Esta só é prática se unida à teoria que, por sua vez, só é teoria se unida à prática.
Separadas, nem a prática é prática nem a toria é teoria.
Ainda não descobriste que o meu sistema cognitivo é a Cruz de Cristo?

Miguel Saturnino disse...

Então vejamos: o exemplo que deu é limitado às variáveis que introduziu. Assim, claro que o que disse não é realizável nesse cenário, pelo simples facto de Luís de Camões já estar morto.

Mas a questão que coloquei é, genericamente, aplicável a muitas outras situações e cenários. Não os materializei em exemplo porque julguei não ser necessário. Afinal, bastaria um pouco de elasticidade (ou de boa vontade) para lá chegar.

Mas não nos percamos do essencial: até onde vai a legitimidade da propriedade privada? A partir de que ponto o interesse de todos se lhe deve sobrepor?

A questão era essa. Como pode ver , é bem real!

Unknown disse...

Volto ainda para te dizer o seguinte, colhendo a lição de Séneca nas "Cartas a Lucílio": «toda a criação individual que seja boa, pertence imediatamente a toda a humanidade». Estou a citar de cabeça, mas tu conheces-me intelectualmente o suficiente para não duvidares da citação.
Evidentemente que tu percebes o que eu quero dizer, mas para aceitares tinhas que mandar para o contentor do lixo mais de metade do teu universo pensamental.
Na verdade, aceitar intelectualmente o que eu digo, eclipsa toda a visão de esquerda do homem e do mundo, o que logo percebeste e te fez correr.

Miguel Saturnino disse...

Se nos últimos 10 anos falou comigo duas ou três vezes, como é que sabe qual é o meu “universo pensamental”?

E onde é que o Professor Marafuga retirou a ideia de que eu discordo ou concordo com a questão que colocou? Onde é que as minhas perguntas viciaram o debate? Afinal, quem é que recusou a discussão e se acoitou nas acusações? Fique sabendo que concordo com a afirmação de Séneca. Aliás, não é só Séneca que o diz. Toda a Literatura (e sua teoria) está repleta de exemplos desses, como sabe.

A questão que quis introduzir com a minha intervenção foi esta: como decidir o que é de todos e o que não é? Como perceber quando é alguém deve morrer para proteger algo que pertence a toda a humanidade?

A questão não é pacífica nem tão pouco fácil de responder. Pelo menos em Democracia.

Em Democracia promove-se o debate de ideias, não monólogos recheados de comentários assertivos. Em Democracia tem-se consciência do perigo que há em decidir o que é de todos e o que é de um. Em Democracia pensa-se primeiro e acusa-se depois.

Em Democracia eu só vou a casa alheia se convidado, mas mesmo aí o anfitrião tem que me tratar com respeito.

Unknown disse...

O meu último post não tinha dado fé do teu que lhe é imediatamente anterior. Aí colocas uma questão essencial que depois repetes.
Logo lá em cima eu disse que se o direito de um é o dano de outro, põe-se cobro à causa desse dano. Aqui eu já estou a salvaguardar o direito da propriedade privada e a dizer que este não é absoluto.
O que digo, por exemplo, não entra em contradição com o livre mercado. Sempre defendi que o Estado deve ter uma acção reguladora face ao mercado, não para o matar, mas para lhe assegurar a vida.

Miguel Saturnino disse...

Fez-se um pouco de luz, mesmo em sistema de mare clausum.

Unknown disse...

Dizes tu, «...não nos percamos do essencial...», no que tens toda a razão.
O essencial do meu texto que deu azo a este diálogo assenta na luta que travo a favor da Civilização Ocidental e contra todas as esquerdas. Estas estão contra a tradição, contra o saber ancestral, contra a moral e até contra o direito, embora este seja um osso mais duro de roer. Aqui até o mais estreme revolucionário diz: «o que é meu é meu».
A herança grega (filosofia), romana (direito) e judaica (moral) são um travão ao avanço dos desígnios tenebrosos de todas as esquerdas, ainda que estas invoquem a democracia a pretexto de tudo.
Perante a ameaça que pesa sobre todos nós, algo de extraordinário tem que ser feito, mesmo quando à nossa volta todos se acobardam, negando o próprio Cristo, isto é, a estrutura da realidade. Esta é invertida, isto é, eu faço o mal que atinge inúmeros. Perante a revolta destes, acuso inocentes e apresento-me como o salvador. Em síntese, está é a história das esquerdas sobretudo depois da revolução francesa, mas as raízes já podemos descortiná-las na aurora do renascimento.