«A ONU está firmemente decidida a tornar o abortismo obrigatório em todas as nações do mundo, sob pena de sanções económicas. É a mais vasta e brutal interferência uniformizante que um poder transnacional já ousou fazer em países nominalmente soberanos. A intromissão vai furar a casca jurídica e administrativa e ir directo aos fundamentos de cada sociedade. Será a extirpação completa das raízes morais e religiosas milenares de culturas inteiras - e não é preciso dizer que junto com esses fundamentos irão embora as respectivas identidades nacionais.
[...]
A decisão quanto ao aborto assinala o que Mao Tsé-Tung chamaria "salto qualitativo": uma lenta acumulação quantitativa de factores homogéneos muda, de repente, a natureza do processo. Décadas de manipulação sorrateira tornaram as nações suficientemente passivas para curvar-se, sem o mínimo questionamento, à imposição ostensiva de uma nova lei moral, contrária a tudo em que acreditaram durante séculos ou milénios.
Se há uma situação em que faz sentido falar de "genocídio cultural" é essa. E não é preciso dizer que novas medidas do mesmo teor virão nos próximos anos, varrendo do mapa símbolos, valores, costumes e tradições que desagradem ao autonomeado governo do mundo. A profundidade e abrangência da mutação planejada vai além de tudo o que a imaginação banal dos politólogos académicos e dos analistas económicos da mídia pode hoje conceber.
De um lado, a substância ideológica dessa revolução é extraída directamente do materialismo revolucionário do séc. XVIII: trata-se de criar uma sociedade global totalmente administrada e controlada por uma elite de intelectuais iluminados, porta-vozes da razão científica contra o pretenso obscurantismo das religiões e culturas tradicionais.
Mas todo esse racionalismo é somente uma casca brilhante construída para engodo das multidões. Por dentro, o iluminismo inteiro foi uma amálgama tenebrosa de ocultismo, magia, gnosticismo, sociedades secretas, rituais entre cómicos e macabros.
Do mesmo modo, o laicismo "esclarecido" da nova ordem global é puro teatro. Suas fontes são as mesmas do ocultismo da "Nova Era" (New Age). Seus gurus são H. P. Blavatsky, A. Bailey, A. Crowley e outros saídos do mesmo esgoto espiritual. [...] O governo mundial que se forma diante dos nossos olhos tem um programa "religioso" bem definido: criar uma nova "espiritualidade global" que domestique as religiões tradicionais e as nivele a qualquer seita ocultista, mágica ou satanista, e na qual o objectivo essencial da actividade religiosa não seja o culto a Deus, mas a "reforma social" - na linha, é claro, escolhida pela burocracia» (Olavo de Carvalho, Diário do Comércio, 20 de Março de 2006).
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