14 novembro 2006

Mistificação que merecemos?

Anda poeira no ar, levantada por vento que sopra do Largo de São João, trazendo-me notícias de uma apresentação pública e de recolha de opiniões sobre o orçamento municipal para o próximo ano.
Podem os alcochetanos opinar sobre algo que desconhecem e cuja leitura prévia não lhes foi facultada?
Onde está o documento que deveria existir para consulta e análise, justificativo de eventuais pedidos de esclarecimento, de propostas alternativas e de opiniões sobre as opções de investimento?
Não contem comigo, pelo menos, em sessões onde uns senhores presunçosos falam de cátedra, aplaudidos por pobres diabos arregimentados, e escutados por uma dúzia de silenciosos munícipes que, tardiamente, descobrem terem sido iludidos.
Será esse um orçamento participado? Jamais.
O conceito é outro: um anteprojecto colocado no sítio na Internet e nas caixas de correio dos munícipes, acompanhado de um convite do presidente da câmara para sessões de reflexão e debate e do anúncio de predisposição para acolher sugestões e comentários também por via electrónica.

Tal custa menos de metade de um número do boletim de propaganda municipal, é transparente e politicamente incontroverso.
A opção tomada ilude a prometida participação dos munícipes na gestão da autarquia.
Depreendi algo diferente do programa eleitoral e do discurso de posse do presidente do município: "A participação da população na vida política activa deve ser efectiva e permanente, e não só durante e antes os actos eleitorais".

Uma vez mais, a prática contradiz a promessa de apostar na transparência de critérios e de mecanismos de gestão da autarquia.
Alcochete carece de poder local credível. Realista nas promessas, mobilizador e sensato na acção. Que não invoque erros passados para mascarar indolência e débil liderança.
Podem escassear meios para o poder local construir, mas sobram para semear e plantar. Não fazer uma coisa nem outra, abala os alicerces do municipalismo, a dignidade das instituições e a credibilidade dos eleitos.

Venha outra gente que revele maior respeito pelo chão que pisa e pelo povo que lhe conferiu representatividade.

4 comentários:

Unknown disse...

Faço minhas todas as palavras deste texto.

Anónimo disse...

Fui hoje igualmente surpreendido por um folheto discreto que recolhi num balcão de um café em Alcochete , anunciando a iniciativa de recolha de opiniões sobre o orçamento municipal.
A questão da participação dos munícipes na gestão municipal foi efectivamente uma bandeira comum a quase todos os programas eleitorais apresentados pelo PCP/CDU para as autarquias locais (o Bloco de Esquerda idem) e representa a adesão daquela força politica às estratégias mais básicas de marketing político. O que é fundamental que os municipes de Alcochete entendam é que estas formas capciosas de comunicação entre o poder autárquico e os munícipes NÃO NECESSITA de contornos ideológicos precisos ou de conteúdos expressamente partidarizados para assumir uma natureza iminentemente POLITICA. O PCP/CDU está a adoptar deliberadamente mecanismos de comunicação de maior proximidade com os munícipes ( sob o falso pretexto da sua maior participação na gestão autárquica), mecanismos esses que representam formas deliberadas de Comunicação Política encapotada na forma de mera Comunicação Autárquica. Assim , um munícipe menos avisado para estas questões do marketing político , acaba involuntariamente por legitimar uma iniciativa de cariz iminentemente POLITICO com a sua simples presença. Não caiam nessa !!! Se houvesse qualquer intenção genuina e depolitizada de permitir que os munícipes opinassem sobre o Orçamento Municipal , a Câmara Municipal tinha efectivamente disponibilizado de forma exaustiva ,informação prévia nos permitisse contribuir avalizadamente e apresentar sugestões credíveis sobre tal matéria. O facto de não o ter feito desmascara por completo as verdadeiras intenções do PCP/CDU - utilizar o munícipe incauto numa acção de mero marketing político da Câmara Municipal. Neste ponto o PCP/CDU revela ainda estar nos primórdios da arte de utilização destas poderosas ferramentas de fazer política de uma forma muito mais súbtil e eficaz do que a habitual «gritaria e punho no ar» a que nos foi habituando ao longo dos anos. Contudo , o simples facto de estar já a enveredar por estas formas de fazer política ( cujo expoente máximo está na América e nos seus super-estrategas do marketing político) deve merecer a nossa maior atenção , para que as possamos imediatamente denunciar sempre que iniciativas destas aconteçam. Reit Tal como FBastos eu também não vou hoje à Junta de Freguesia de Alcochete. Se fosse estaria alimentar e a contribuir para o sucesso de um evento de puro marketing político.Na esteira do filósofo francês contemporâneo Gilles Lipovetsky , admito que o PCP também já percebeu que o simples acto de comunicar tem mais valor político que o conteúdo da comunicação. O PCP está a tentar retirar mais valias políticas desta teoria.

Luis Proença

Fonseca Bastos disse...

Caro Luís Proença:
Se a intenção do PCP/CDU envolve marketing político, o estratega devia ser despedido: a acção foi mal planeada e executada.

Anónimo disse...

Caro FBastos

Por isso referi que esta iniciativa revela que os seus organizadores ainda não passaram dos primórdios do marketing politico.

Luis Proença