01 agosto 2009

Dinossauro excelentíssimo

Na última edição do semanário «Jornal do Montijo», Jorge Giro – da bancada comunista na Assembleia Municipal de Alcochete – subscreve um artigo de opinião que, provavelmente, será tema da campanha autárquica e poderá ter sérias consequências eleitorais para o seu partido.
Segundo a tese do deputado Giro, insensato fundamentalista da alcochetanidade, uma vez que o concelho de Alcochete é, entre os 278 municípios do Continente, o 12.º em desenvolvimento económico e social, os novos moradores deveriam abster-se de qualquer intervenção política porque se se radicaram aqui foi devido à boa qualidade de vida e ao bem-estar proporcionado... pelos autarcas da CDU!
Desde que, em 2000, escutara uma idosa autarca comunista (entretanto falecida) a bramar, junto aos Paços do Concelho, contra os novos moradores porque gastavam a água dos alcochetanos e respiravam o ar dos alcochetanos, que seja do meu conhecimento nenhum outro comunista na órbita do poder autárquico recomendara que a melhor forma de os cidadãos ajudarem o concelho era fazerem como até aqui: alhearem-se.
É conveniente recordar aos distraídos que, na última década, ocorreu uma explosão populacional provavelmente única na história de Alcochete, duplicando o número de eleitores inscritos. E, analisando mesa-a-mesa os resultados nas recentes eleições europeias, principalmente naquelas em que votaram os novos moradores os comunistas obtiveram piores resultados.
Por estas e por outras, o deputado Giro preconiza que os novos moradores – principalmente os de centro/direita – se abstenham de intervir politicamente na vida local e se mantenham "ao largo". Por extensão, se se abstiverem de votar melhor ainda. Basta continuarem a pagar, quietos e calados, que tudo correrá às mil maravilhas!
Se os recém-chegados se mantiverem distantes dos assuntos locais, sobreviverão os feudos partidários e o caciquismo reinantes há décadas.
É reprovável que o deputado Giro, detentor de um cargo de representação política, lance o anátema do desenraizamento sobre metade dos eleitores, fomentando o desinteresse e o distanciamento da sua participação na vida cívica.
Foi assim que se construiu este novo dormitório do séc. XXI. Porque, por mera conveniência política de alguns, metade dos eleitores continuam a ser considerados "estrangeiros".
Todavia, o alheamento dos cidadãos em relação à vida local tem custos incalculáveis. Isolamento individual, debilidade associativa, insegurança, má gestão do território, ganância, especulação e pressão fiscal improdutiva são consequências facilmente perceptíveis. Mas existem muitos outros problemas em que só os mais atentos reparam e a maioria descobrirá quando já não houver remédio: mistificação, opacidade, insolência, caciquismo e chico-espertismo.
Os eleitos representam os cidadãos. O poder supremo é inalienável em democracia e pertence a todos os cidadãos, sem excepções. Se o povo virar as costas ao poder este tende a tornar-se autocrático e antidemocrático.
O deputado Giro invoca um invisível interesse colectivo e com desfaçatez julga poder influenciar cada residente a ser um adulador ignorante e estúpido.
Oxalá a maioria dos cidadãos desperte do torpor e, a 11 de Outubro, dê nas urnas a resposta merecida pelo deputado Giro por escrever um texto abjecto, com o qual presta um mau serviço ao partido, a Alcochete e à comunidade

4 comentários:

Zeferino Boal disse...

Realmente há momentos na vida que somos surpreendidos com posturas e comentários infelizes do ser humano. Mas, quando se escreve algo que define o pensamento que está solidificado, demonstra tão só a probreza de inteligência.
Este membro da Assembleia Municipal deveria ter outra postura porque o seu testemunho de vida não se compadece com o que escreve.

sousa rego disse...

A “xenofobia” em Alcochete.
Não li o texto de opinião que serve de tema a este artigo.No entanto, desde a época das descobertas que Alcochete soube aceitar os “outros”;aqueles que vindos de fora e de paragens longínquas aportaram a este lugar banhado pelo estuário do Tejo.
“Estrangeiros”,afinal, somos todos nós.Em especial se pensarmos de modo diferente em relação a uma pretensa corrente de opinião dominante.
Nesta perspectiva, não é de admirar que surjam comentários ou opiniões contra os “estrangeiros”,”os de fora”.Aliás ,tais comentários, também são provenientes de outros campos político-partidários e filosóficos.
Onde é que se cultivam mais esses pretensos “valores”?
No vosso blog ocorre também algum exaltar da “cultura alcochetana” da “alcochetanidade”.
O exacerbar dos sentimentos bairristas do “ser Alcochetano”,da “alcochetanidade”ou do “espírito da terra” aparece associado a uma visão mais tradicional e conservadora da sociedade e da política em geral.
O que será a “alcochetanidade” ou a cultura ou “modo de ser de Alcochete”?Na nossa opinião,isso poderá reconduzir-se a toda uma série de sentimentos comuns sobre a festa brava nas suas várias manifestações, bem como com a ligação desta terra ao estuário do Tejo,ao seu “rio”.
Pergunta-se sobre a existência de um sentimento especial nesta terra em relação à festa brava,aos salineiros ou aos campinos, diferente do que se verifica por esse Ribatejo fora e em especial nas terras da borda de água?
Todos os que, pela Moita ,Montijo,Vila Franca,Samora Correia gostam dos toiros, de correr à sua frente numa largada ,das corridas,dos cavalos,de ver o Tejo e as actividades económicas que lhe estão associadas,possuem uma“cultura“diferente daquela que porventura existirá em Alcochete?
Sinceramente temos algumas dúvidas.Os sentimentos são comuns nessas terras.Afinal,todos gostam da sua terra de uma forma particular,pois cada uma,possui as suas características próprias que as distingue das demais.Agora, até se originar uma “cultura” que só possa ser “bebida e assimilada” por alguns “iniciados” é que vai uma grande distância.
Depois, neste “caldo da cultura Alcochetana” ,da “alcochetanidade” ,não se admirem da utilização de nobres e respeitados sentimentos comuns sobre a festa brava,o Tejo e as terras baixas em redor, com intuitos de outra natureza.
Por último sempre se dirá ,que o exaltar de bairrismos doentios é um dos instrumentos do “centralismo alcochetano” contra os de “fora da terra”,as restantes freguesias e demais lugares em redor.

Rogério Pedro disse...

Eu li atentamente o texto escrito pelo deputado municipal Jorge Giro, e não li em nenhuma parte do mesmo qualquer tipo de xenófobia.
O deputado simplesmente diz por palavras dele, que agora existem alguns novos residentes do centro/direita, que por interesses e motivações politicas, Alcochete deixou "estranhamente" de lhes proporcionar uma boa qualidade de vida.
Portanto, faça-se justiça!
Aliás, quem o conhece (Jorge Giro) sabe, de todo que ele não tem comportamentos xenófilos ou racistas.
Não era preferível extrair o facto de o Concelho de Alcochete ter sido classificado como 12º concelho com maior qualidade de vida, ao invés de tentarem tirar proveitos politícos desse facto?
Já agora, acho estranho o comentário do senhor Zeferino Boal, que eu penso que conhece minimamente o Jorge.
Um bem haja para todos e Boas Festas do Barrete Verde, que me parecem estar este ano muito bem organizadas.

Melo disse...

Ao lêr o artigo escrito neste blogue e também no, Alcochetanidades, fiquei abismado e estupefacto pelo teor do texto reproduzido, onde o actual deputado da C.D.U, Jorge Giro escreve como, artigo de opinião no Jornal do Montijo.
No entanto, após leitura completa sobre o mesmo artigo, cheguei à conclusão que o mesmo não se enquadra no excerto que foi publicado, ou seja, o mesmo está enquadrado num contexto bem diferente do que V.EXª transformou, onde deixa para o plano sequandário o referido anteriormente sobre o concelho.
Á posterior refere no mesmo artigo sobre alguns ditos moradores "Silvas e Nogueiras", ora como é sabido, alguns senhores afectos à centro/direita que residem no concelho, tem vindo constantemente a denegrir públicamente a imagem do actual presidente e seus eleitos, onde são apelidados de burros comunistas, e também a todos os que votam C.D.U.
No entanto, quero relembrar a V.EXª, que muitos moradores do centro/direita de Alcochete votam C.D.U por alguma razão.
É porque acreditam nos projectos e ideias para o concelho. Ou será que alguns senhores têm um emorme fascínio por gentes comunistas?
No meu ponto de vista Comunistas, Socialistas e Sociais-Democratas, são, e tem o mesmo direito cívico, independentemente de serem oriundos desta terra ou simplesmente novos moradores que para além de terem as suas ideologias partidárias escolheram este magnifico concelho com grande qualidade de vida para viverem com as suas famílias.
Entendo, de certa maneira que esta notícia abalou algumas forças do concelho que por sinal apelidam Taliban uma pessoa, como estamos em época de eleições compreendo mas não aprovo.
É altura das ideias sairem para o povo "se é que elas existam Mesmo", pois o importante é dizer mal e mal fazer, sem ideias ninguém fica a saber...
Alcochete e os Alcochetanos preferem que em vez de baixarias e ataques pessoais, disponham ideias e projectos para o concelho de forma a enriquecer as populações de mais condições (ainda), para se viver cada vez melhor em Alcochete e primarem pela ética política e moral que vá ao encontro de todos os habitantes.
Por Alcochete, que cada vez seja mais atractivo para morar e criar os nossos filhos.
Um bem ajá a todos e boas festas do Barrete Verde.