29 fevereiro 2008

'Betonização' na Fonte da Senhora

Está publicado no «Diário da República» desta sexta-feira (29 de Fevereiro), entrando em vigor no dia imediato, o Plano de Pormenor da Quinta de Paço de Arcos — Fonte da Senhora (situada atrás da igreja da Atalaia), contemplando uma área de intervenção com a superfície total de 21,94 hectares – equivalente a cerca de 23 campos de futebol.
O projecto tem alguns anos e fora aprovado perto do termo do mandato autárquico anterior (Junho de 2005), mas só agora estará em condições de avançar, sendo implantado num espaço classificado no actual PDM de Alcochete como Espaço Agrícola — Espaço Rural de Categoria I.
Até há poucos meses existiam ali eucaliptos, o que não sendo arborização recomendável era preferível à substituição por centenas de mamarrachos de betão. Diga adeus a mais um espaço agrícola! Viva a "betonização"!
O plano não fornece pormenores técnicos suficientes para uma análise detalhada. O número de fogos previsíveis ronda os 768 e menos é possível avaliar quanto a áreas delimitadas como não impermeabilizáveis. Conhecem-se apenas generalidades: edifícios de três e quatro pisos (alguns com estabelecimentos para comércio e serviços), um lote destinado a comércio, serviços e indústria compatível com espaço urbano e moradias unifamiliares isoladas e em banda.
A observação das plantas denuncia a opção por impressionante carga de construção, escassas áreas de recreio e lazer e as habituais dúvidas quanto a espaço suficiente para estacionamento próprio de veículos em edifícios de habitação colectiva.
Nada se vislumbra no plano que demonstre respeito pelo desenvolvimento sustentável. Um aspecto profundamente negativo é o atravessamento de uma linha de alta tensão em parte do loteamento.
Posso ter um "olhómetro" defeituoso mas avalio que a população da Fonte da Senhora quintuplicará em meia dúzia de anos, albergando mais gente que a freguesia de São Francisco na actualidade.
Presumindo também que, duas vezes ao dia, mais um milhar de veículos irão atravancar as estradas da Atalaia e Real, bem como o troço da EN118 entre as rotundas do Sporting e do Entroncamento, resta ainda saber o que se planeou para resolver um novo problema em que, habitualmente, as mentes brilhantes pensam tarde e a más horas.

No plano de pormenor há espaços reservados para equipamentos de utilização colectiva, tais como:
a) Instalação de Equipamento de Saúde/Social;
b) Instalação de Equipamento Pré -Escolar e Escolar (Centro Escolar Integrado: Creche, Jardim de Infância e Escola EB1);
c) Instalação de Equipamento Sócio/Cultural;
d) Instalação de Equipamento Lúdico;
e) Instalação de Equipamento Desportivo;
f) Instalação de Equipamento Municipal.
Mas pergunto: quem financia e quando será iniciada a construção desses equipamentos?
Para rodapé deixo ainda duas interrogações importantes, a que o plano também não responde:
1. Será este o primeiro empreendimento imobiliário de Alcochete com iluminação pública e aquecimento de água inteiramente garantidos por energia solar?
2. Será este o primeiro empreendimento imobiliário de Alcochete com duas redes de água separadas: uma para rega, lavagens e usos sanitários e outra de água para consumo humano?


P.S. - Recomendo, a propósito do assunto acima tratado, a leitura de uma recente entrevista do arq.º Gonçalo Ribeiro Telles, transcrita na íntegra no blogue «Estrago da Nação». Que belas lições continua a dar esse senhor de 85 anos!

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