Discordando somente de que "não há eleitor em Alcochete que não tenha um pai ou mãe, filho ou sobrinho, tio ou primo a trabalhar na Câmara" – o que era verdade há uma década, com pouco mais de 9.000 residentes, mas não é hoje, quando se ultrapassaram os 17.000 – a visão expressa neste artigo de João Marafuga parece-me ter ainda correspondência com a realidade.
A solidariedade familiar descrita representa mais de um milhar de votos e reflectiu-se em todas as maiorias do último quarto de século em eleições locais.
Essa solidariedade continuará a ser eficaz enquanto partidos e candidatos com aspirações ao poder não debelarem um problema sério, que deveria ser enfrentado já porque para votar, em 2009, em Alcochete, a actualização do recenseamento deverá, em princípio, fazer-se este ano: a desconexão entre o número de residentes com capacidade eleitoral e o de recenseados.
Eis alguns números esclarecedores:
1. Em 1988, quando o número de residentes não atingia sequer os 10.000, existiam 8.853 recenseados que podiam votar localmente;
2. Em 31/12/2006, quando a população residente era de 16.194 indivíduos, existiam apenas 11.300 recenseados;
3. Estatisticamente deveriam existir perto de 14.500, porque a população residente com mais de 15 anos era de 14.657 indivíduos.
Resulta daqui que, em 2005, cerca de 3.000 cidadãos residiam em Alcochete mas votavam noutro concelho ou não foram sequer às urnas.
Se somarmos a esses a taxa de abstenção de 38,7% (registada nas eleições autárquicas de 2005), temos cerca de 7.500 cidadãos que não elegeram representantes políticos neste concelho.
O efeito perverso é este: os indiferentes excederam em mais do dobro o número de votos contabilizados à coligação vencedora nesse acto eleitoral!
Continue a assobiar para o lado quem julgue ser impensável resolver isto no prazo de um ano.
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