29 setembro 2006

Resposta para Isobel

Diz Isobel no seu último comentário ao meu texto "Estrutura mental de esquerda": «não tenho provas de que Jesus tenha existido...». Estamos perante alguém que não sai do plano histórico. Os Evangelhos colocam Jesus no tempo histórico, mas Isobel não dá a mesma credibilidade aos evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João que dá a Salústio ou Tácito.
Para o terminus da bruma mítica tão ao gosto dos gnósticos, Jesus é colocado no tempo e no espaço pelos Evangelhos, mas estes não são só história e geografia. São também espiritualidade, assim cumprindo a própria narrativa da vida de Jesus o sentido da Cruz: união da verticalidade (o espiritual) e horizontalidade (história, factos, tempo).
Se Jesus não morreu na Cruz, vão é todo o Cristianismo. Mas todos os Evangelhos, incluindo os apócrifos, nos dão testemunho de que Jesus Cristo, Senhor pela Criação, morreu na Cruz para selar a união da eternidade e do tempo, isto é, a aliança entre Deus e os homens.
De facto, «...a verdade de hoje pode não ser verdade amanhã», mas isso é só no campo da ciência que se debruça sobre coisas. Deus não é coisa, razão por que não se pode sujeitar a qualquer processo de prova humano.
Então agora «...a questão do aborto prende-se com a liberdade individual das mulheres...»? Mas a liberdade individual é negada pelo marxismo, base filosófica do comunismo que apoia o aborto. No que ficamos?
Quando Isobel diz que «...considera que o homem pode ser o seu próprio Deus, tem o poder de criar e de destruir quando quiser», está a perfilhar toda uma estrutura mental própria de teenagers, os mesmos que são recrutados pelas partidocracias totalitárias para o grande festim antropofágico dos últimos 100 anos.
A «ditadura da democracia» é levada a cabo por todos(as) os(as) Isobéis deste mundo. Aquele ou aquela que se julga deus só não é genocida se não apanhar o poder nas mãos.
Modernismo e pós-modernismo são doenças, Isobel. A raiz destes ismos está no antropocentrismo renascentista que vê no homem, isto é, na criatura, uma centralidade.
Claro que, por exemplo, o homem medieval, intrinsecamente, não foi diferente do homem de hoje, mas o primeiro tinha a noção de pecado ( comportamento desviante para a Psicologia, crime para o Direito) e o segundo, dentro de um titanismo desmedido, perdeu-a.
O último parágrafo do(a) Isobel começa por «paradoxalmente...» e contradiz pateticamente tudo o que escreveu antes.
Considero que a minha resposta a Isobel responde substancialmente ao que escreve imediatamente a si um(a) anónimo(a) cujo texto abre assim: «não posso deixar de felicitar a Isabel pela sua forma de pensar» sic.

6 comentários:

Anónimo disse...

O anónimo que vem participando neste blog e a quem João Marafuga considera ter respondido em "Resposta a Isabel" , é o mesmo que já comentou o post "A estrutura mental de esquerda" e o post "Ou tradição e marxismo. De qualquer forma o meu nome é Luis Proença e , entre outras actividades ( o meu amigo Fonseca Bastos sabe quais são ) , o meu espírito inquieto também me leva a dedicar à reflexão sobre estas e outras matérias da vida. No que respeita à posição do João Marafuga , reitero tudo o que já referi nos meus comentários anteriores. Poderia aproveitar esta oportunidade para avançar mais um número considerável de razões contra a suposição de que qualquer coisa que possamos reconhecer como crença religiosa é verdadeira. Talvez seja presumir em demasia se afirmar que é provável que pessoas como o João Marafuga se sintam ameaçados na sua fé pelo conjunto de argumentos que verti até ao momento. Talvez tenha sido essa a razão que o levou a responder directamente a Isabel ao invés de rebater o conjunto de argumentos que aduzi. Percebo também que pessoas como o João colham algum conforto na tradição teológica segundo a qual quanto mais improvável for que uma crença seja verdadeira mais meritório é o acto de fé necessário para ter essa convicção. Apesar dos seus argumentos serem , salvo o devido respeito , negligenciáveis , reconheço-lhe o direito de acreditar no que quer , admitindo mesmo haver algum mérito na fé cega. A fé cega pode ser apelidada de benção pelos que a partilham , mas de credulidade e suportição pelos outros. A fé cega , que desafia a razão , pode ser algo perigosamente susceptível de trazer consigo o fanatismo e o excesso de zelo. No seu fantástico ensaio "Sobre a Liberdade" John Stuart Mill utiliza a expressão "escravidão mental" quando há um vazio de intelecto critico e inquisitivo. Na sua obra "Aids to Reflection" Samuel Taylor Coleridge refere algo parecido com isto. Aquele que amar a cristandade mais do que a verdade passará a amar a igreja mais do que a própria cristandade e acabará por se amar mais a si próprio do que aos outros. O desprezo inerente ao post "Resposta para Isabel" pode legitimar a conclusºao de que esse diagnóstico serve a posição do João Marafuga.Quando felicitei a Isabel pela sua forma de pensar cometi um erro de expressão. Queria felicitá-la simplesmente POR PENSAR. Para a Isabel , se é que ainda não o fez , sugiro a leitura do "The miracle of Theism" de J.L. Mackie (Oxford , Clarendon Press , 1992) , "An introduction to the Philosofy of Religion" de Brian Davies (Oxford Univ. Press , 2ª ed. 1993) e claro os fabulosos "Diálogos sobre a Religião Natural" ,a obra póstuma de David Hume. A prosa do Sec. XVIII pode ser dificil , mas a argumentação é fácil de seguir e é recheado de exemplos espiriruosos e inesquecíveis. É claro que já percebi que a fé cega do João Marafuga tornam vão qualquer apelo que eu faça à reflexão critica e à leitura de estas obras que certamente considera pecaminosas. Ainda assim um abraço do leitor atento do Blog

Luis Proença

Anónimo disse...

Já repararam que, num ajuntamento popular qualquer, sempre que alguém quer atrair a atenção de alguem através de um sistema de som, põe-se sempre a gritar:"ATENÇÃO!SENHORAS E SENHORES! A VOSSA ATENÇÃO POR FAVOR!" Estas pessoas não perceberão que o propósito dos microfones e dos sistemas de som é ampliar o volume da voz? Posso estar enganado mas parece-me que, se existe um aparelho que nos amplifica a voz, talvez não seja motivo para gritar. Se tiver uma opinião contrária, estou disposto a ouvi-la. Mas falem baixo, está bem?
Já agora, isto de inventar um blog apolegético de um deus aberrante ou de ideais anti comunistas parece-me mais de alguém que está urgentemente a precisar de escolher outras leituras...
Porque não começar pelas " Memórias de um Burro" de Luciano? Se está a tomar prozac talvez o "elogio da loucura" de Erasmos..

Unknown disse...

Diz o Luís: «talvez seja presumir em demasia se afirmar que é provável que pessoas como o João Marafuga se sintam ameaçadas na sua fé pelo conjunto de argumentos que verti até ao momento». Qualquer alcochetano e qualquer dos vários milhares de alunos que tenho tido em 25 anos de ensino, lendo as suas palavras dirigidas a mim, se riem.
Então o Luís acha que a fé (sentido que a vida tem) se vê ameaçada em mim assim por tão pouca coisinha? Que ideia faz da minha personalidade?
A fé cega não é fé, não é nada. A fé deixa-se fortalecer pela união da razão e coração segundo o próprio significado profundo da Cruz de Cristo. A Cruz é uma união cujo traço vertical (razão) trespassa o horizontal (coração). Se separa os traços, não fica com nenhum. Se os une, fica com os dois.
O fanático não é cristão, senão aquele que inverte a cruz, transformando-a em espada, isto é, em ódio e morte.
O desprezo pelo outro levou aos totalitarismos do séc. XX, nazismo e comunismo, dois ramos do mesmo tronco. Leia Voegelin, Eric, CIÊNCIA, POLÍTICA E GNOSE, Ariadne Editora, Coimbra, 2005.
Desde quando é que eu, por dizer coisas menos cordatas à Isobel e ao Luís, vos desprezo?

Anónimo disse...

Tenho apreciado bastante a troca de ideias mas a partir do momento em que os seus argumentos, João Marafuga, se escapam para adjectivos como o pateticamente e me fala em doenças como o Modernismo e o Pós-Modernismo, temo não poder continuar a apresentar contra-argumentos.
Agora que partiu do plano das ideias para o dos julgamentos idiotas, não há lugar para uma discussão pela minha parte.

Unknown disse...

Isobel, "pateticamente" é um advérbio de modo derivado de "patético" cujo significado é "comovente". Quis dizer que a Isobel, no último parágrafo de um texto seu, neutraliza tudo o que disse antes de uma forma que comoveu os meus sentimentos.
Isobel, sou um professor de Língua e Literatura portuguesas. Acha que a minha afirmação de que o modernismo e pós-modernismo são doenças procede de algum humor meu gratuito?
O homem é uma unidade de alma e corpo. O modernismo e pós-modernismo revêem-se nesta afirmação de toda a antropologia cristã "ab initio"?
O modernismo e pós-modernismo são pratos de pirex que se deixam cair ao chão e partem-se em mil bocadinhos. "Já me vós is entendendo?".
Seja como for, peço-lhe desculpa por ter ferido a sua susceptibilidade e que reconsidere a possibilidade de voltar ao debate. De qualquer das formas, já conhece um pouco do meu estilo de escrita que peço para aceitar como eu aceito o seu.

Anónimo disse...

Posso dizer que infelizmente por falta de tempo ainda não li o que gostaria de ter lido, ou aprendi o suficiente para poder entrar numa troca de ideias como esta que li agora... só gostava de fazer um pequeno reparo, não levem como ofensas os argumentos que alguém vos apresente para defender a sua ideia.
Eu acho que a discussão de ideias não se deve levar para o plano pessoal, porque aí a emoção começa a ameaçar o nosso raciocinio lógico, e poderemos responder apenas por responder, e não porque temos algo de válido para contra argumentar.