11 setembro 2006

Estou revoltado (triste epílogo)


Segue-se o relato na primeira pessoa, da autoria do eng.º Dias de Sousa, que citei também no primeiro texto de ontem.
Esta missiva foi-me enviada pelo autor por e-mail e pela mesma via seguiu também para a Reserva Natural do Estuário do Tejo (RNET) e para a Sociedade Portuguesa para o Estudo de Aves (SPEA):

Infelizmente, esta manhã não foi preciso chamar o SEPNA da GNR. Por volta das 7h00, encontrei o jovem flamingo morto.
Tinha saído da água onde se encontrava ontem e o seu corpo, inanimado, jazia em terra a um ou dois metros do bordo do "caldeirão" da marinha.
Voltei-o para ver o que eu pensara ser uma asa ferida. Ontem, ao fim da tarde, ao vê-lo bater as asas com dificuldade e ao vislumbrar uma cor avermelhada debaixo de uma asa, admiti ser essa a causa. Na realidade era, simplesmente, a cor natural (cor-de-rosa) das suas plumas.
Não vi qualquer ferida.
O flamingo encontra-se actualmente num saco plástico, a 2º Celsius, à vossa disposição para eventual análise (o autor refere-se à RNET e à SPEA).
Gostaria de aproveitar a ocasião para pedir desculpa à SPEA pelo facto de não ter visto no seu "site" nenhum centro de revalidação de aves. Na realidade, a minha tradução do francês "Centre de revalidation" estava simplesmente incorrecta. Deveria ter procurado por Centro(s) de Recuperação.
De qualquer maneira, quando visitei o "site" da SPEA não cheguei à parte dos "links" que dá acesso aos Centros de Recuperação. Já agora, aqui deixo uma sugestão à SPEA: quando se procura um Centro de Recuperação há fortes probabilidades que se esteja sob algum "stress" e bastante pressa de salvar um animal. Penso, por isso, que seria desejável que os Centros de Recuperação estivessem logo visíveis, com subtítulo, na página de entrada da SPEA.
Por que o animal teve ontem estranha atitude e acabou por morrer sozinho, na terra, durante a noite? Não sei. Os peritos provavelmente o dirão.
No entanto, pode constatar-se uma coisa: o nível das águas das marinhas próximas do Rio das Enguias tinha subido abruptamente e de maneira escandalosa durante a noite de Sexta-feira para Sábado (tanto quanto sei houve uma maré viva).
Digo-o porque considero um escândalo o facto de ainda não se ter feito nada, desde há pelo menos quatro anos, para mandar de volta para Espanha os pescadores de camarinha que devassam esta região.
É tanto mais escandaloso quanto as marinhas se inserem na Zona de Protecção Especial do Estuário do Tejo e são um local predilecto de uma variedade enorme (tanto em qualidade, como em quantidade) de aves marinhas, sobretudo de limícolas.
Observei, por exemplo, esta manhã (Domingo) – e tenho um filme que o pode provar – que várias dezenas de flamingos quiseram alimentar-se no mesmo "caldeirão" de onde saiu o jovem que morreu durante a noite. Mas só conseguiram refúgio, imagine-se, nos "muros" da marinha. Isto é, em terra!
Dali a uma ou duas horas já lá não estava nem um! E durante todo o dia de Domingo vi vários bandos de flamingos, às voltas, sem que encontrassem local adequado para pousar.
Por isso, uma das hipóteses talvez viável, para justificar a morte desta jovem ave, poderá ter sido o facto de se ter encontrado "encurralado" entre águas extremamente altas (de onde lhe é muito difícil levantar voo) e a terra, que não é de maneira nenhuma o seu "habitat". Talvez tenha morrido simplesmente de pânico, abandonado pelos seus semelhantes, sem saber o que fazer.
É evidente que o estado actual das marinhas é sabido pelo ICN, pela RNET e pela SPEA.
O que é de admirar é que não se faça nada para evitar esta catástrofe, há tantos anos posta a nu.

Pela minha parte nada mais tenho a acrescentar. Apenas devo recordar que o eng.º Dias de Sousa denuncia, há vários anos, a destruição das antigas marinhas da Atalaya (situadas nas imediadações da EN118, em Alcochete), inseridas na ZPE do Estuário do Tejo, transformadas em viveiros de camarinha por indivíduos estrangeiros, embora nenhuma entidade pública os tenha autorizado a exercer tal actividade.
A pessoa em questão possui filmes e fotografias que documentam amplamente o que ali se tem passado.

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