27 setembro 2006

A estrutura mental de esquerda

Consciente ou inconscientemente, tem uma estrutura mental de esquerda quem está contra a milenar tradição. Quem está contra o livre mercado e a propriedade privada, defendendo o peso do Estado sobre a sociedade. Quem está contra o cristianismo e a família. Quem no lugar de Deus põe o ambiente e a partir deste transmuta todos os valores que agora são coisas como o clima, a conservação da natureza, os direitos dos animais, etc. Quem defende que o género em sexualidade é escolha do indivíduo. Quem defende o casamento entre homossexuais, o aborto, a eutanásia, etc.

8 comentários:

Anónimo disse...

Todos estes predicados são necessariamente bons ou necessariamente maus?

Anónimo disse...

Efectivamente ficamos sem atender se estar contra a "milenar tradição" é bom ou mau. Sendo cristão e não me considerando de "esquerda" , receio que o "post" em causa traduza uma espécie de fundamentalismo redutor de questões tão vitais para a nossa sobrevivência e das futuras gerações como a conservação da natureza e o meio ambiente. Tsunamis , secas , dilúvios e cheias e toda a desgraça e vitimas que as alterações climáticas têm provocado nos últimos anos são reduzidas à insignificância de mera e pecaminosa "transmutação de valores" O "post" em causa faria as delicias da actual administração Bush nos EUA e certamente garantiria ao seu autor um lugar de assessor caso lhes chegasse ao conhecimento. Aconselho sinceramente o João Marafuga a reler as "Bem Aventuranças" na Biblia. A moderação e a sensibilidade são efectivamente dos pilares da nossa religião. Preocupo-me imenso com o meio ambiente e sim , reflicto abertamente e de forma critica ( positiva ou negativa ) sobre questões como a homosexualidade e eutanásia. Não me considero menos cristão por isso , e muito menos de esquerda.

L.Proença

Unknown disse...

Estar contra a milenar tradição é fatalmente mau porque é a negação das raízes. É como estar contra pai e mãe, avô e avó.
O autor do post imediatamente anterior quer conciliar Deus com o Diabo, mas isso é absolutamente impossível. Ou a nossa escolha recai sobre o bem ou sobre o mal. Aqui não há meias tintas. Sempre que assim falo, acusam-me de fundamentalismo. É um truque velho para intimidar, mas comigo não surte efeito.
Não tenho capacidade para fazer as delícias da administração Bush, mas é das mãos das administrações republicanas dos EUA que o mundo ocidental poderá esperar a defesa da liberdade. A base de apoio maioritária dos democratas corresponde à dos partidos comunista e socialista em Portugal.
A primeira vez que li as bem-aventuranças ainda estávamos nos anos 50. Estas são a síntese de todo o Evangelho. Tentar recuperá-las para a justificação de pontos de vista esquerdistas é um traço da New Age, saco onde cabe tudo. Ou o autor do comentário anterior é adepto da Teologia da Libertação cujos alicerces são marxistas?
O ambiente, o respeito pela floresta, pelos animais, etc., devem ser vistos à luz da moral. Não degrado o ambiente porque me prejudico a mim e aos outros. A floresta é para ser explorada racionalmente. Não maltrato os animais porque isso é da mais abjecta imoralidade. E por aí fora.
O valor supremo é Deus. Deste, o Criador, decorre o respeito pela vida em geral, o respeito por mim e pelo outro porque filho do mesmo pai. Outros valores são os da verdade, entrega, acolhimento, etc.

Anónimo disse...

O problema é que a moral é muito subjectiva e eu posso ver a moral, tal como o João, sob o ponto de vista de Deus, ou posso vê-la do meu ponto de vista isento de religião (qualquer uma, não acredito em religiões, quaisquer que sejam).
Eu, por exemplo, considero imoral que a lei esteja acima de uma questão de saúde pública como o aborto. Há mulheres que morrem outras que ficam incapacitadas devido a abortos ilegais feitos em condições desumanas.
Acho que se deve tentar separar as coisas.
E porque é que estar contra o pai, mãe, avô ou qualquer membro da família é imoral? Se eu não tiver qualquer ligação emocional a algum desses membros, não posso obrigar-me a amá-los só porque são do meu sangue. É que o Homem é muito mais do que apenas laços de sangue.
A degradação do ambiente deve ser vista como questão em si mesma e não do ponto de vista antropocêntrico, como refere o João. Devemos proteger o ambiente como se de um outro se tratasse, como se do nosso vizinho se tratasse, não o invadindo e não o sobrexplorando.
Eu comungo de todos os valores de que fala e não acredito no cristianismo ou na religião católica. A minha moral não pode ser considerada religiosa porque não rejo a minha vida por valores estritamente religiosos. São valores universais.

Anónimo disse...

Começa a ser penoso ler este blog... Aprecio muito o Sr. Bastos pela sua incansável labuta de alertar para o que está mal neste nosso pequeno canto, mas não posso deixar de censurar a propaganda anti-comunista, como se estivessemos novamente no "tempo da outra senhora". Sinceramente, penso que tudo isto deixa o intelectualismo para trás (como tantas vezes já afirmou em escritos colocados neste blog) e mascara-se para fazer uma campanha de ideiais ultrapassados e bolorentos. Ainda bem que somos todos diferentes. Ainda bem que existe a liberdade de expressão. Ainda bem que posso dizer que não gosto de alguém. A civilização muda, os costumes também...

Unknown disse...

Isobel diz que «...a moral é muito subjectiva...». Se é assim, eu só vou usar de moralidade para os que me são úteis. A pessoa que não me é útil poderei até matá-la. É assim? Não, porque a moral é muito objectiva. Todos podem ver as manifestações da moral nas atitudes de cada um. Não sei quem é o(a) Isobel, mas estou obrigado a respeitá-lo(a) absolutamente. Sim, o respeito devido ao outro é absoluto.
Se, como eu disse, a moral é objectiva, não posso vê-la sob o meu ponto de vista. A moral vista sob o ponto de vista de cada um só pode ser a "moral" do interesse. Aqui, o indivíduo arvora-se em deus e o que faz é tirar proveito do outro.
Dada a natureza do homem, excluir a religião pode ser a regressão ao universo do feiticeiro, isto é, a regressão ao universo daquele que pretende manipular Deus em benefício próprio.
O aborto, no fundo, é uma questão de saúde pública ou insere-se nas políticas anti-natalistas das esquerdas como a agricultura ecológica e a categoria de género? A Isobel tem feito reflexão de forma a relacionar devidamente tudo isto? Só desejo que sim.
Isobel, não separe coisa nenhuma. Interligue tudo, sem deixar de distinguir uma coisa de outra.
Quando falo dos pais e avós, utilizo uma imagem para o antes e para o antes do antes respectivamente. O assassínio da memória reverte-se na animalização do homem. Está-se a preparar, à escala planetária, que o homem seja cada vez mais um esquecido de si próprio para que a implantação de qualquer coisa que poderá não receber o nome de totalitarismo, mas que em tudo será igual a este, se proceda imperceptivelmente.
O desprezo pelo recebido, sobretudo desde Descartes, é uma característica da era moderna que também explica o nosso sofrimento. O sangue não é só aquele tecido que circula nas nossas veias; é todo o legado desde o alvorecer da nossa civilização que cada vez mais nós próprios renegamos.
Evidentemente que eu respeito o ambiente, mas este é uma criatura. A minha escala de valores não pode ter como fonte a coisa porque, se assim for, eu próprio me coisifico. Ora eu sou mais que uma coisa. Sou um filho de Deus, pai extremoso de todos.
Finalmente, acabo este discurso, escandalizando o(a) Isobel e todos: o Catolicismo, para mim, é a verdade. Escândalo, aqui, é tudo aquilo que mexe radicalmente com aquele nosso universo de ideias que julgamos definitivamente adquiridas. Ora nada mexe mais connosco do que o escândalo da Cruz, sangue de Jesus Cristo derramado pela verdade.

Anónimo disse...

Não tenho provas de que Jesus tenha existido, nada mais existe senão a Bíblia, conjunto de textos que não é mais que a súmula de tradições mais antigas. Não sei quem a escreveu, como a compilou e com que finalidade.
Por isso, não fico escandalizada. Não tenho provas de que Jesus tenha morrido na Cruz.
Não tenho para mim nada como verdade adquirida, ponho em causa o meu próprio conhecimento, baseado em provas científicas. Mas a verdade de hoje pode não ser verdade amanhã.
No meu ponto de vista, a questão do aborto prende-se com a liberdade individual das mulheres. Mas, claro, também concordo que seja muito importante o factor saúde.
E considero que o homem pode ser o seu próprio deus, tem o poder de criar e de destruir quando quiser. É um pequeno passo entre querer e fazer.
A ditadura da democracia já está em curso há muito tempo, nem damos conta da manipulação de que somos alvo.
Em relação à natureza humana e à sua relação com a religião, não se pode esquecer que os próprios feiticeiros (xamãs) eram os padres das sociedades mais antigas. Era através deles que os homens contactavam com o divino, na altura múltiplo e pagão. A religião, a crença, sempre fez parte do homem, é verdade. Mas nos tempos actuais existe uma multiplicidade muito grande de crenças, entre as quais se inclui o ateismo. A crença em coisa alguma passou a figurar do vocabulário humano com o modernismo e intensificou-se com o pós-modernismo.
Não digo que o mundo tenha ficado melhor, não ficou, acho que simplesmente agora se vive às claras aquilo que sempre foi escondido por conveniência e pela moral.
Os valores continuam a existir mas foram adaptados a tempos completamente diferentes. Os amigos traem os amigos como sempre fizeram, os homens matam outros homens, como sempre fizeram, enganam, praticam a usura.
Paradoxalmente, à medida que o homem se centra cada vez mais em si, aliena-se do seu papel na sociedade. Afasta de si responsabilidades cívicas e centra-se em ter e poder.

Anónimo disse...

Não posso deixar de felicitar a Isabel pela sua forma de pensar. O querer compreender é uma manifestação clara de saúde mental , quanto mais não seja porque a nossa vontade de reflectir sobre estas questões nos pode , em última a análise , a acreditar na "vida eterna" depois da morte , preparando-nos assim para enfrentar tal fatalidade de uma forma mais forte. Mas sempre fruto da nossa capacidade de pensar e reflectir criticamente e não o produto de um dogma rigido que nos foi incutido no meio social ou familiar em que crescemos e vivemos e que damos por assente sem qualquer reserva. Como dizia Goya , a imaginação abandonada pela razão produz monstros impossíveis , unidos a ela , é a mãe de todas as artes e a fonte de todos os seus encantos.A posição do João faz-me lembrar o argumento ontológico de Santo Anselmo (Séc. XI) a favor da existência de Deus , ou seja Aquele ser "maior do qual nada pode ser concebido" (Proslogion). Não pondo em causa a existência de Jesus Cristo , concordo contudo que não há provas concretas da existência de Deus. No Cristianismo , nem a moral nem a religião têm pontos de contacto com a realidade. Há só causas imaginárias (Deus , alma , espírito). Há só efeitos imaginários (pecado , remissão , castigo , graça ). Há só seres imaginários ( Deus , espíritos , almas). O Cristinismo é na verdade e apelando ao conceito de ciência referido pela Isabel , uma ciência natural imaginária , antropocêntrica , carecendo totalmente do conceito de causas naturais. Perante isto resta a pessoas como o João Marafuga pensar como Santo Anselmo. Demonstra-se a existência de Deus considerando apenas o conceito ou a definição de Deus. É um argumento que não precisa de qualquer demonstração empírica , nenhuma medição , nem resultados da experiência. "Eu compreendo o conceito de Deus. Tudo o que se compreende existe no entendimento. Logo , Deus existe no entendimento." Mas então se existe no entendimento , e não na realidade , então não é possível conceber um ser maior que Deus: um ser que exista na realidade. mas Deus foi definido como o ser maior do qual nada pode ser concebido. Mas assim ficamos com uma contradição...
Continue a pensar Isabel , e a reflectir , nem que o produto dessa reflexão conduza no limite ao acreditar em Deus. Só assim podemos dizer legitimamente que as nossas convicções são sólidas e fundadas.