28 setembro 2006

Não há só falta de imaginação


Há dias escrevi este texto, a propósito da forma como se celebrou em Portugal (e em Alcochete, especialmente) mais um dia europeu sem carros, recomendando a consulta de uma página financiada pela Comissão Europeia que contém informação sobre estudos e experiências de municipalidades apostadas em reduzir o tráfego automóvel.
No rodapé desse meu texto escrevia o seguinte:
«Há tantas pistas para pensar em coisas úteis e oportunas. Penso que Alcochete terá mais encanto no dia em que as "mentes brilhantes" perderem o medo das pessoas e sentarem uma dezena à mesma mesa exclusivamente para pensar».
Pretendi com esse texto, nomeadamente, chamar a atenção dos pacientes leitores deste blogue para a responsabilidade dos autarcas em matéria de redução e ordenamento do tráfego automóvel. E isto porque se fez muito pouco em Alcochete, ou mesmo nada, do que compete à autarquia iniciar. Melhor: quase sempre opta-se pelo oposto do recomendável.
Continuei as minhas pesquisas para fundamentar uma ideia que vos explicarei amanhã e acabo de descobrir este documento, redigido em língua portuguesa e dimanado da Direcção-Geral do Ambiente da Comissão Europeia, em cuja página 15 se alinham as seguintes recomendações às autoridades locais:

O mesmo padrão de desenvolvimento — concentração de zonas residenciais, industriais e tráfego — que contribui para a má qualidade do ar nas cidades permite que tais problemas sejam resolvidos de forma integrada e economicamente eficiente. Além disso, na presente era de globalização, uma cidade acessível, com um ambiente agradável e saudável, torna-se atractiva para os investidores estrangeiros, assim como para os seus cidadãos.
Há um número de considerações importantes a ter em conta:
1. Ordene a sua cidade de forma que as pessoas não precisem de percorrer distâncias tão longas ou de se deslocar com tanta frequência. Concentre o crescimento da cidade dentro dos seus limites e não na periferia e em torno dos nós de interconexão dos transportes públicos — estações de comboio, metro, eléctrico e autocarros. Misture diferentes funções — residência, trabalho, comércio e lazer.
2. Limite o acesso e o estacionamento de automóveis em certas zonas.
3. Crie parcerias com as empresas locais para as ajudar a estabelecer planos de deslocação entre a casa e o trabalho e a encontrar alternativas para o transporte de mercadorias.
4. Invista nos transportes públicos por forma a garantir a respectiva qualidade, frequência, fiabilidade, pontualidade, segurança e características não poluentes a um preço acessível. Crie plataformas intermodais onde os passageiros possam fácil e rapidamente proceder a transferências entre os diferentes modos de transporte (por exemplo, automóvel/eléctrico, eléctrico/autocarro). Promova os transportes públicos através da criação de faixas para autocarros, da concessão de prioridade nos semáforos e de acesso a áreas em que a circulação de automóveis esteja limitada.
5. Garanta que os peões e os ciclistas possam circular livremente na sua cidade. Crie zonas livres de circulação de veículos, passadeiras seguras, pistas para ciclistas e estruturas de estacionamento para bicicletas.
6. Realize campanhas de informação destinadas a encorajar os cidadãos e as empresas a reduzir a utilização de automóveis.
7. Proceda a intercâmbios de informação com outras cidades na Europa — muitas estiveram ou estão na mesma situação.Se calhar, não precisa de reinventar a roda.

Apontem-me, entre estas sete recomendações, uma única que tenha sido sequer ensaiada ou iniciada em Alcochete?

1 comentário:

Anónimo disse...

Além de não haver nenhuma "que tenha sido ensaiada ou iniciada em Alcochete", o que se faz é o oposto de muitas desta recomendações! Chamem-lhe "progreso"...