O comunismo é uma utopia cujas raízes recebem muito húmus na Utopia de Thomas Morus (1477-1535). Mas na obra deste autor renascentista não se conta com o pecado original, categoria teológica que todos aceitarão se eu a traduzir por criminalidade hereditária.
Nesta conformidade, cai por terra aquele optimismo antropológico com origem em Rousseau (1712-1778) que defende a bondade natural do homem corrompida pela história.
Mas todo o pensamento anti-histórico é gnóstico como gnóstica é a esquerda para a qual a tradição institucional no campo civil, político e religioso deve ser banida a favor de uma nova racionalidade que ninguém sabe dizer qual seja.
11 comentários:
Não preciso de ser socialista para chamar os bois pelos nomes e fazer, segundo a postura também conservadora de Daniel Bell, uma análise das contradições culturais daquele nosso capitalismo que, conforme um dito de Ramada Curto, tem “a verdadeira vocação” de “socializar os prejuízos e individualizar os lucros”.
No antigo Egipto, o deus Set era chamado "o olho esquerdo do Sol" e era considerado o mal e o Diabo.
Claro que o bonzinho era Hórus, o deus da vida, chamado "o olho direito do Sol".
Mas o problema com a esquerda não era só coisa de egípcios...
No budismo (religião oriental), Buda diz que o caminho para o Nirvana (o estado puro e da salvação) se divide em duas partes: o da mão esquerda, que é a maneira errada de viver e deve evitar-se e, claro, o da mão direita, que é o certo...
Nos países muçulmanos e na Índia, as pessoas não comem usando a mão esquerda, porque é com ela que se limpam depois de defecarem (fazerem cocó)... Só a direita é que é a "mão limpa", por isso só com ela é que podem comer. Nada de usar a esquerda para petiscar umas coisinhas! Blhêk!
O nome dado ao Diabo (um deles) é Satanás. E diz o livro sagrado dos judeus (o Talmude) que o Diabo tinha um comandante, o príncipe dos demónios, cujo nome significava "o lado esquerdo".
Como isso significava o Mal, o Bem tinha de ser o lado direito...
Portanto, o Diabo é canhoto!
e Deus é maneta, lá dizia o Saramago.
Cruzes canhoto!!!
E desde quando é que se proibiram as utopias?!
Para o Marafuga, Deus é de direita e o Diabo é de esquerda!
Urge distinguir as utopias que contam com a realidade e as que passam por cima dela.
Por Exemplo, o Evangelho é uma utopia assente na realidade.
Já, por exemplo, o MANIFESTO COMUNISTA (1848) de Marx e Engels é uma utopia porque defende que, "grosso modo", resolvidos os problemas económicos ficam resolvidos os problemas da humanidade. Isto desce à realidade ou ignora-a?
Ninguém pode amar dois senhorers ao mesmo tempo.
Ninguém pode amar ao mesmo tempo Deus e a esquerda porque esta nega radicalmente Aquele.
Por fim, a ideia de que há uma esquerda moderada é um dos iscos mais perigosos do nosso tempo.
A esquerda, mesmo com pele de cordeiro, é só uma.
Lá por distinguir o Bem do mal, sou maniqueísta? Não, porque para mim o mal é um acidente.
Ora eu encaro todas as esquerdas modernas como o acidente mais tenebnroso na história da humanidade.
E se o Diabo fosse Deus e Deus fosse o Diabo?
Deus é o Diabo para o Marafuga porque o leva para o Mal...
O POVO
EÇA DE QUEIRÓS (1845-1900)
“Há no mundo uma raça de homens com instintos sagrados e luminosos, com divinas bondades do coração, com uma inteligência serena e lúcida, com dedicações profundas cheias de amor pelo trabalho e de adoração pelo bem, que sofrem, que se lamentam em vão.
Estes homens, são o Povo.
Estes homens estão sob o peso de calor e de sol, transidos pelas chuvas, roídos de frio, descalços, mal nutridos; lavram a terra, revolvem-na, gastam a sua vida, a sua força para criar o pão, o alimento de todos.
Estes são o Povo, e são os que nos alimentam.
Estes homens vivem nas fábricas, pálidos, doentes, sem família, sem doces noites, sem um olhar amigo que os console, sem ter o repouso do corpo e a expansão da alma, e fabricam o linho, o pano, a seda, os estofos.
Estes homens são o Povo, e são os que nos vestem.
Estes homens vivem debaixo das minas, sem o sol e as doçuras consoladoras da Natureza, respiram mal, comendo pouco, sempre na véspera da morte, rotos, sujos, curvados, e extraem o metal, o minério, o cobre, o ferro, e toda a matéria das indústrias.
Estes homens são o Povo, e são os que nos enriquecem.
Estes homens, nos tempos de lutas e em crises, tomam as velhas armas da Pátria, e vão, dormindo mal, com marchas terríveis, à neve, à chuva, ao frio, nos calores pesados, combater e morrer longe dos filhos e das mães, sem ventura, esquecidos, para que nós conservemos o nosso descanso opulento.
Estes homens são o Povo, o são os que nos defendem.
Estes homens formam as equipagens dos navios, são lenhadores, guardadores de gado, servos mal retribuídos e desprezados.
Estes homens são os que nos servem.
E o mundo oficial, opulento, soberano, o que faz a estes homens que o vestem, que o alimentam, que o enriquecem, que o defendem, que o servem?
Primeiro, despreza-os; não pensa neles, não vela por eles, trata-os como se tratam os bois; deixa-lhes apenas uma pequena porção dos seus trabalhos dolorosos; não lhes melhora a sorte, cerca-os de obstáculos e de dificuldades; forma-lhes em redor uma servidão que os prende e uma miséria que os esmaga; não lhes dá proteção; e, terrível coisa, não os instrui: deixa-lhes morrer a alma.
É por isso que os que têm coração e alma, e amam a justiça, devem lutar e combater pelo Povo.
E ainda que não sejam escutados, têm na amizade dele uma consolação suprema”.
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