10 junho 2006

Muitos querem ignorar...


Muitos querem ignorar que «[...] as desigualdades não são geradas na peculiaridade das economias capitalistas, que as desigualdades não foram abolidas - e sim acentuadas - nas experiências socialistas e que as economias de mercado são o único locus onde, não obstante as desigualdades, verifica-se a redução da pobreza, a igualdade objectiva de oportunidades e o enriquecimento relativo geral em comparação com qualquer outra experiência histórica» (Nivaldo Cordeiro: 2001).

10 comentários:

Anónimo disse...

"as desigualdades não são geradas na peculiaridade das economias capitalistas", não basta afirmá-lo, há que demonstrá-lo... Mas é mais fácil, por ser verdade, demonstrar precisamente o contrário. E hoje mais do que nunca. Se fores livre, a tua liberdade não limita a minha. Se fores sábio, a tua sabedoria não limita a minha. Se fores bom, a tua bondade não limita a minha. Se fores inteligente, a tua inteligência não limita a minha. Se fores bonito, a tua beleza não limita a minha. Mas, se fores proprietário, sê-lo-ás em exclusividade: o que é teu nunca será meu. A propriedade é um direito que tolhe o direito dos outros. E se eu não estiver despojado de meios de produção, por que raio de ideia eu iria trabalhar para a tua empresa? Como vês, ao contrário do que diz Nivaldo Cordeiro, a desigualdade é fundamental na economia capitalista. É preciso que uns detenham capital e que outros apenas tenham a chamada força de trabalho. Se todos , ou um grande número, tivessem capital, quem iria à procura dos empregos? Quem mendigaria um salário? Para o capitalismo funcionar é preciso que haja "empreendedores" e assalariados. Os dois precisam um do outro. A questão de o salário ser mais ou menos justo já é outro tema.

Unknown disse...

Ou finges não conhecer os homens ou odeia-los.
O teu discurso é retórico para não dizer falacioso.
Ou pretendes que todos sejam empreendedores ou assalariados. Mas isto não faz absolutamente nenhum sentido. Então que pretendes tu? Uma catástrofe apocalíptica pela fome de centenas de milhões de pessoas?
E depois? Aparecerias tu inopinadamente a impor a tua ordem ao caos geral, culpando-me a mim desse mesmo caos? Se isto um dia acontecesse, nadinha ficaria como dantes.

Anónimo disse...

Tal como a propriedade:

a minha sabedoria não é igual à tua!
a minha bondade é igual à tua!
a minha inteligência não é igual à tua!
a minha beleza não é igual à tua!


A igualdade não existe.
O estado deve apenas garantir que a minha liberdade seja igual à tua.
A minha liberdade DEVE ser igual à tua - a igualdade DEVE resumir-se a isto!
Com ela, posso ficar mais sábio, mais bondoso, mais inteligente e até mais belo!
Posso inclusivamente passar a ter mais popriedade ou ficar mais pobre!

Anónimo disse...

Ah, já estão a reagir... Mas o que eu disse é simples: o direito de propriedade não é um direito como os outros. O facto de a minha casa ser minha faz com que não seja de mais ninguém. Outros direitos não são assim. A tua inteligência não me priva de inteligência, os teus conhecimentos não me privam dos meus, etc. O resto não tem a ver com o que deve ser ou com o que eu quero que seja. Tem a ver com o que é. E o que é tira razão a Nivaldo Cordeiro: as desigualdades são uma condição sine qua non das economias capitalistas. Eu limitei-me a dizê-lo. É uma constatação. Não é possivel sermos todos capitalistas, para que uns o sejam é necessário, real e logicamente, que a maioria não o seja. E nada disso tem a ver com conhecer ou odiar os homens. Tem a ver com o funcionamento dum sistema económico. O Estado, para garantir a liberdade de todos, tem de ultrapassar a simples declaração de princípio. A liberdade de vender a minha força de trabalho a quem estiver disposto a pagar-ma apenas faz com que eu não seja escravo num outro sistema económico, o esclavagismo. Convenhamos que é incomensuravelmente melhor. Sinceramente, não vejo grande diferença (mentira, até vejo)que seja um indivíduo, um grupo ou o próprio Estado a deter o capital e que eu seja apenas um assalariado, desde que me paguem o suficiente. É que parece que se chamou socialismo a qualquer coisa que consistiu em ser um Estado a apropriar-se da mais-valia produzida pelo conjunto dos trabalhadores. Hoje, já sabemos que não é isso que queremos. Também sabemos que os capitalistas, individualmente ou no conjunto, não podem "estoirar" a mais-valia que obtêm, têm que reinvesti-la, a quem lhe chame "socializá-la", voltar a inseri-la na sociedade. Não é por altruismo nem caridade. Se não o fizerem, deixam de ser capitalistas... é o sistema que tal exige. Por andar preocupado com transcendências, o Marafuga fecha os olhos a estas imanências e continua convencido que há os capitalistas bons e que há os maus, sem ver que o problema não tem a ver com bons ou com maus. Tem a ver com o sistema instituído. Todos têm que lutar pela taxa de lucro, sob pena de se descapitalizar. E convenhamos que a descapitalização é o pior que pode acontecer a qualquer capitalista. Fica igual aos assalariados!

Anónimo disse...

Bem, o erro ortográfico todos o vêem, se for único: há quem lhe chame "socializá-la"...

Anónimo disse...

"Uma catástrofe apocalíptica pela fome de centenas de milhões de pessoas?", pergunta-me o Marafuga, se o pretendo, sem se dar conta que ela já está em curso no mundo. Andas a olhar para onde?

Unknown disse...

Mas como é que se põe inteligência, conhecimento, bondade, etc., e direito de propriedade no mesmo plano? Este prodedimento não vem baralhar toda a análise? Por exemplo, a inteligência será monopólio de alguns defendido contra a concorrência de outros?
Claro que estou contra o abuso do direito de propriedade: se um tem uma dúzia de casas e outro não tem o mais modesto abrigo, só denota a insânia de homens que certamente não são capitalistas.
O capitalismo de que falo insere-se numa visão liberal do homem e do mundo, tem tradição, defende a moral judaico-cristã e é gerador de riqueza.
O cristão, liberal e democrata Nivaldo Cordeiro não nega as desigualdades no seio das economias capitalistas. O que este eminente economista defende com realismo é que só as economias de mercado tornam as desigualdades menos desigualdades, se assim me posso exprimir, ao contrário do que aconteceu nas experiências socialistas que - sem que eu tenha quaisquer dúvidas nisso - acentuaram essas desigualdades.
Finalmente, o socialismo foi a tragédia que foi e não aquele que desejaria que fosse o anónimo que debate comigo numa situação privilegiada. Os esquerdistas são assim!

Anónimo disse...

Quem quiser acompanhar a análise pode ou não fazê-lo... Não sei se escolhi bem os contrapontos ao direito de propriedade. Apenas quis mostrar que o direito de propriedade é exclusivo, enquanto outros direitos não o são. Se houver escassez, por exemplo mais gente para comer do que comida, se eu comer a comida disponível, tu ficas a ver navios. Outro exemplo de direito exclusivo. Não chega para todos. Liberdade já é diferente. Pode-se dar liberdade a toda a gente que ainda sobra liberdade para dar.Até parece que quanto mais liberdade se dê mais liberdade sobra. (Dentro das regras e do contrato social, claro, isto é , sem atropelos). Mais difícil de compreender é o caso de haver simultaneamente abundância e escassez. Na Rússia dizia-se, ironicamente, logo após o colapso, que o comunismo era o caminho mais longo entre o capitalismo e o capitalismo. Se calhar, estamos condenados ao capitalismo e até se pode defender, por ser verdade, que o capitalismo é um modo de produção altamente produtivo e gerador de riqueza. Inegável. Mas artificialmente, gera também escassez. Há fome no mundo, sabias?Continuamos a beneficiar do Estado-Providência, mas parece que vai ser por pouco tempo, e o facto de ainda beneficiarmos do Estado-Providência não nos permite ver o enorme poder gerador de desigualdades do capitalismo, nem que a pauperização lhe é inerente. Aconselho-te a consultar estatísticas relativas aos países nos quais já se procedeu a desmantelamento do Wellfare state. Apesar de todas as contradições do capitalismo, se todos beneficiassem de alguma forma da riqueza gerada pelo capitalismo, qual seria o problema? Queres ser rico? Acho que te contentas com o que tens.No momento presente eras capaz de querer ganhar um pouco mais, visto que nos últimos anos perdeste poder de compra, mas mais nada. Sendo tão produtivo, o capitalismo poderia contribuir para o enriquecimento geral. Com a idade que temos, sabemos que a situação geral é bem diferente do que era na nossa infância no Montijo e em Alcochete. Basta-nos dar uma volta por aí para verificarmos que houve um enriquecimento geral. Tudo é relativo, não é mesmo? Até nos podíamos borrifar nas desigualdades. Mas como é que alguém em são juízo pode afirmar que "só as economias de mercado tornam as desigualdades menos desigualdades"? Isso é completamente falso. As experiências socialistas perderam porque não conseguiram competir, longe disso, com as economias capitalistas. É verdade. Já tinha ouvido acusá-los de uma igualização na miséria e de uns serem mais iguais do que outros, ou seja, os dirigentes não viviam na miséria, mas daí a dizer-se que as desigualdades eram maiores do que nas economias capitalistas...é ter perdido toda a noção de proporções.

Unknown disse...

O comunismo por onde passou tudo secou tanto material como espiritualmente, quero dizer, apenas deixou o rasto da miséria e morte.
A Rússia estalinista matou as elites. Com as mudanças operadas no fim da década de oitenta, o que restou da URSS foi entregue a criminosos.
Os países da então chamada Cortina de Ferro viviam numa indigência aflitiva. Agora estão a entrar na União Europeia, não obstante todos os problemas desta.
Grande parte da América Latina actual vive no caos...com Brasis, Venesuelas, Colômbias, etc., à cabeça. Nestes países daquela região do mundo onde acaba o esquerdismo e começa a criminalidade? Quanto a esta matéria, fico-me por esta perguntinha para não ir mais longe.
Volto ao texto de Nivaldo Cordeiro. Ele não nega as desigualdades nas economias capitalistas. Ele diz que nestas economias há «...a redução da pobreza, a igualdade objectiva de oportunidades e o enriquecimento relativo geral em comparação com qualquer outra experiência histórica». Para mim isto é claro e não é o teu discurso um tanto ou quanto nebuloso que tem o poder de me demover do que é evidente. Ou eu preciso de demonstrar que o Sol ilumina a terra ou este planeta recebe a luz daquela estrela?

Unknown disse...

Corrijo: venezuelas. Não é erro de teclado. É erro meu. As minhas desculpas.