27 junho 2006

Ah, um soneto...

As pessoas que acompanham a minha escrita desde o tempo do Tágides sempre me ouviram dizer que sou um homem de medo. Claro que é preciso ter alguma disponibilidade intelectual para que se veja o que eu quero exprimir. O meu maior medo é o de perder o amor da poesia, mas ela vai-se compadecendo de mim e deixa cair algumas migalhas.

Eu desejo fazer o poema novo
Que desfaça ilusão de fraco tempo
Assente em estética deitada ao vento
Sem dirigir qualquer aceno ao povo.


O rude verso escarpa de montanha
Deixará em farrapo traje velho.
A vinda desse gesto eu muito anelo
Que duma vez p'ra sempre varra a manha.


O homem de coragem pega e corta
Cabeça de serpente mais peçonha
Do princípio a trilhar a via torta.


Esse réptil de astúcia à grande usada
Desde o tempo que ao tempo o homem deu
Das cobras todas foi a mais safada.

3 comentários:

Anónimo disse...

Péssimo! Podes constar dos anais do mau gosto (e péssimo senso!). Ainda assim é preferível que fales de política...

Unknown disse...

Este comentário diz-me que coisas iguais aos outros eu não faço. Ora é isso que eu quero.
Sempre que Cesário Verde publicava um poema nos jornais era desonrado de tudo. Não sou Cesário e menos Verde, mas sei o que estou a fazer.
Eu denuncio a "ilusão de fraco tempo", isto é, o nosso tempo. As sensibilidades (as estéticas) clássica, barroca, neoclássica, romântica, realista, modernista, etc., que fizeram senão anestesiar o homem? Ora eu opino que é necessária a emergência do novo verso que não crie uma realidade desligada da realidade primeira. Esta só pode ser o homem na plenitude da liberdade ordenada a um princípio de ordem superior

Unknown disse...

Diz o anónimo em cima que seria preferível que eu falasse de política sem reparar que o meu soneto é eminentemente político. Claro que eu conheço a cartilha de anónimo para saber que ele considera a intromissão do político na poesia uma promiscuidade. Para ele o que conta são as sonoridades...
Quando estava por fora do que é o homem e o mundo, também fiz versos destes que saíram publicados numa brochura da Câmara de Alcochete com o nome de outra pessoa.

A Primavera chegou
No bico de uma pombinha.
É carta p'ra quem amou
Na minha terra doidinha.

Teu amor torna viagem
De terras p'ra lá dos mares.
Mas que diz essa mensagem
Assim chegada p'los ares?

"O fundo desses teus olhos
Tão cheios de sonho e brilho
É espiga que abre os folhos
Num grande campo de milho!

Alcochete, mês de Maio,
Meu tapete de mil cores,
Aqui estou, daqui não saio
A regar as tuas flores!"

Este tipo de versos contribui para o desengano do quê?