Por todo o lado oiço dizer que o Partido Socialista executa uma política de direita.
Será mesmo assim?
Peguemos no vexame que está a ser feito a todos os professores deste País.
Como é que o ataque aos professores se coaduna com a defesa da liberdade? E sem liberdade como é possível a cidadania? Ou o exercício desta será favorecido pela ignorância? Sim, porque será à mais rasteira ignorância de todo um povo que levará o pacote legislativo agora congeminado contra os professores. Ora como é que isto tudo se articula com os direitos individuais, condição sine qua non para uma verdadeira sociedade liberal?
Em conclusão, ou a política de direita já não defende os direitos individuais ou este PS da Inernacional Socialista é da mais refinada esquerda.
8 comentários:
Por ANTONIO INÁCIO ANDRIOLI
Doutorando em Ciências Sociais na Universidade de Osnabrück - Alemanha
http://www.espacoacademico.com.br/013/13andrioli.htm
Por isso, vamos apresentar, em grandes eixos, o que mais claramente podemos apontar como conseqüências do neoliberalismo na educação:
1- Menos recursos, por dois motivos principais: a) diminuição da arrecadação (através de isenções, incentivos, sonegação...); b) não aplicação dos recursos e descumprimento de leis;
2- Prioridade no Ensino Fundamental, como responsabilidade dos Estados e Municípios (a Educação Infantil é delegada aos municípios);
3 - O rápido e barato é apresentado como critério de eficiência;
4 - Formação menos abrangente e mais profissionalizante;
5 – A maior marca da subordinação profissionalizante é a reforma do ensino médio e profissionalizante;
6- Privatização do ensino;
7- Municipalização e “escolarização” do ensino, com o Estado repassando adiante sua responsabilidade (os custos são repassados às prefeituras e às próprias escolas);
8- Aceleraração da aprovação para desocupar vagas, tendo o agravante da menor qualidade;
9- Aumento de matrículas, como jogo de marketing (são feitas apenas mais inscrições, pois não há estrutura efetiva para novas vagas);
10- A sociedade civil deve adotar os “órfãos” do Estado (por exemplo, o programa “Amigos da Escola”). Se as pessoas não tiverem acesso à escola a culpa é colocada na sociedade que “não se organizou”, isentando, assim, o governo de sua responsabilidade com a educação;
11- O Ensino Médio dividido entre educação regular e profissionalizante, com a tendência de priorizar este último: “mais ‘mão-de-obra’ e menos consciência crítica”;.
12- A autonomia é apenas administrativa. As avaliações, livros didáticos, currículos, programas, conteúdos, cursos de formação, critérios de “controle” e fiscalização, continuam dirigidos e centralizados. Mas, no que se refere à parte financeira (como infra-estrutura, merenda, transporte), passa a ser descentralizada;
13- Produtividade e eficiência empresarial (máximo resultado com o menor custo): não interessa o conhecimento crítico;
14- Nova linguagem, com a utilização de termos neoliberais na educação;
15 - Modismo da qualidade total (no estilo das empresas privadas) na escola pública, a partir de 1980;
16- Os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) são ambíguos (possuem 2 visões contraditórias), pois se, por um lado, aparece uma preocupação com as questões sociais, com a presença dos temas transversais como proposta pedagógica e a participação de intelectuais progressistas, por outro, há todo um caráter de adequação ao sistema de qualidade total e a retirada do Estado. É importante recordar que os PCNs surgiram já no início do 1º. mandato de FHC, quando foi reunido um grupo de intelectuais da Espanha, Chile, Argentina, Bolívia e outros países que já tinham realizado suas reformas neoliberais, para iniciar esse processo no Brasil. A parte considerada progressista não funciona, já que a proposta não vem acompanhada de políticas que assegurem sua efetiva implantação, ficando na dependência das instâncias da sociedade civil e dos próprios professores.
17- Mudança do termo “igualdade social” para “eqüidade social”, ou seja, não há mais a preocupação com a igualdade como direito de todos, mas somente a “amenização” da desigualdade;
18 - Privatização das Universidades;
19 – Nova LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) determinando as competências da federação, transferindo responsabilidades aos Estados e Municípios;
20 - Parcerias com a sociedade civil (empresas privadas e organizações sociais).
Para se saber o que pensa alguma esquerda, sem se falar de cor:
http://www.curriculosemfronteiras.org/vol3iss2articles/hill.pdf
O artigo trata da desigualdade crescente nos sistemas sociais, educação e economia e suas relações num contexto de políticas do capitalismo neoliberal. A reestruturação da educação e do ensino aconteceu sob a pressão das organizações capitalistas locais e internacionais a governos submissos. O artigo examina alguns dos efeitos dessas políticas neoliberais que, hoje em dia, fizeram crescer as desigualdades em âmbitos global e nacional, diminuíram a responsabilidade democrática e sufocaram o pensamento crítico. Apresenta, ainda, uma crítica à teoria neoliberal na política educacional e descreve como a mercantilização da educação deformou-a em vários aspectos: em suas metas, motivações, padrões de excelência e padrões de liberdade. O capital e as ideologias e políticas neoliberais visam neutralizar e destruir bolsões potenciais de resistência à expansão global corporativa e ao capital neoliberal, servindo para perpetuar os interesses destes às custas da classe trabalhadora nacional e global. A intrusão do capital na área de educação ameaça solapar um importante espaço para a sua contestação. O trabalho conclui voltando-se aos espaços de resistência à deformação neoliberal global do processo educativo e da sociedade, convocando
os trabalhadores na área da educação e outros trabalhadores culturais a lutarem pela igualdade econômica e social.
Mas desde quando é que o neoliberalismo é sinónimo de direita? Isso é o que a esquerda quer que eu pense. Há muito tempo que já não vou nisso porque, para mim, é falso que o neoliberalismo favoreça o livre-mercado contra a intervenção do Estado na economia.
No fundo, o neoliberalismo quer o mesmo que a esquerda. E o que quer esta que queira aquele? O globalismo. Ora este não se faz com a moral judaico-cristã nem com a filosofia grega nem com o direito romano.
Sem qualquer juízo de valor, traço que de facto procuro que caracterize a minha estrutura mental, ponto final, se de esquerda ou de direita, não é à partida minha finalidade, reagi ao que escreve o sr. Marafuga, comentando a enorme confusão que lhe vai na cabeça ou no discurso. Concordo que a confusão começa na esquerda, na direita e, antes de mais, na sociedade. Não, não vou dizer que antes do colapso da União Soviética as coisas eram mais claras porque sei hoje que pareciam mais claras mas não eram. Eram um pouco mais claras, porque hoje a confusão é maior. Para nos entendermos nesta confusão, procuramos lançar algumas âncoras. Armamo-nos de convicções do tipo “o que é é, o que não é não é”, até podemos aceitar que, por vezes, as coisas não são assim tão simples e que esta lógica é demasiado binária, e que o que é só o é até certo ponto, ou sob certo ponto de vista, contendo na realidade outros aspectos que introduzem matizes perturbadores. “Em política, o que parece é”, disse Salazar, e nós até estamos de acordo com ele, embora notemos que Marx disse precisamente o contrário, e nós ainda estamos mais de acordo com ele, parecendo-nos que não estavam a falar da mesma política ou da política ao mesmo nível.
Hoje, parece muita coisa que não é, ou que só o é até certo ponto, e até há coisas que deliberadamente nos pretendem enganar, até com a verdade nos enganam, até com falsidades totais (já nem o António Aleixo é seguido, “P'ra a mentira ser segura
e atingir profundidade, tem de trazer à mistura qualquer coisa de verdade”).
Convenhamos que a confusão é total. E que os parâmetros que nos guiavam são constantemente postos em causa, deixando nós de saber o que é direita, o que é esquerda, o que é ser progressista, o que é ser conservador, etc. Acusam-se os sindicatos e os trabalhadores de serem conservadores, por exemplo. É que chegámos ao fim da história e, não havendo progresso, só nos resta ou mais do mesmo ou voltar atrás. Parece não haver alternativa ao pensamento único. Mas já estou a abusar, já estou a introduzir sub-repticiamente elementos neoliberais na questão. (Sub-repticiamente apenas para os menos esclarecidos, porque é mesmo com o rabo de fora). E para o “rpmribeiro” lá estou eu a encarar o neoliberalismo como se fosse a peste e o culpado de tudo. Ainda por cima falamos do neoliberalismo triunfante. Se não há alternativa, só se é de direita ou de esquerda dentro do neoliberalismo e, assim, há quem afirme que existe um neoliberalismo de direita e outro de esquerda, o neo-fordismo e o pós-fordismo. Para mim, essa tralha toda é de direita (ah, agora já estou com juízos de valor!). Mas sirva-me o exemplo para me distinguir da estrutura mental do sr. Marafuga. É que parte sempre de juízos de valor! Nunca faz o mínimo esforço de objectivação, nunca se põe em causa, eu diria que nunca procura a verdade. A VERDADE foi-lhe revelada e é absoluta. A realidade que se subordine ao seu absoluto. Para a estrutura mental (da esquerda? dos laicos? dos pós-renascentistas? dos adeptos da visão científica? dos não-religiosos?), a verdade é uma procura incessante e sempre imperfeita, é a procura da coincidência entre aquilo que pensamos e a realidade e sabemos que quem manda é a realidade (olha, somos materialistas!). O texto já vai longo. Termino aqui.
Sem o parecer a muitos, há uma estreita relação entre neoliberalismo e globalismo.
Para gente de todo o lado, são os EUA os primeiros interessados no globalismo. Ora as coisas não são bem assim!
O globalismo terá alguma coisa a ver com a maioria do povo americano que até apoia o Partido Republicano? O endeusamento do mercado será um instrumento do poder americano?
Se me disserem que os Kennedys, os Carters, os Clintons, etc., são pelo globalismo, eu estou de acordo.
Finalmente, qualquer observador atento vê que os megacapitalistas (preferiria dizer metacapitalistas), desejosos de se servirem do Estado para os próprios fins, preferem apoiar os esquerdistas que tentam sempre reforçar o poder do mesmo Estado sobre os cidadãos. Ora para uns e outros o Estado ideal seria o global.
Educação: as armadilhas do neoliberalismo
A esfera educativa está diante de cinco grandes armadilhas, resultado das mudanças políticas, sociais e económicas dos últimos trinta anos, que viram o modo de vida ter como centro o hiper-consumo e a mercantilização generalizada de qualquer bem ou serviço, a explosão das tecnologias e a globalização liberal.
A primeira dessas armadilhas: a instrumentalização crescente da educação a serviço da formação de "recursos humanos".
A segunda armadilha: a passagem da educação do campo não mercantil ao mercantil.
Terceira armadilha: a educação é mostrada como instrumento indispensável à sobrevivência de cada indivíduo e, ao mesmo tempo, de cada país, na era da competitividade mundial.
Quarta armadilha: a subordinação da educação à tecnologia.
Quinta armadilha: o uso do sistema educacional como meio de legitimação das novas formas de divisão social.
(Riccardo Petrella)
A opção do Conselho Europeu, já traduzida em plano de acção, consiste em afirmar que a grande prioridade, nos próximos quinze anos, é a construção da "e-Europa" para que, em 2015, ela se torne a "e-economia" mais competitiva do mundo
Riccardo Petrella*
A esfera educativa está diante de cinco grandes armadilhas, resultado das mudanças políticas, sociais e económicas dos últimos trinta anos, que viram o modo de vida ter como centro o hiper-consumo e a mercantilização generalizada de qualquer bem ou serviço, a explosão das tecnologias e a globalização liberal.
A primeira dessas armadilhas é a instrumentalização crescente da educação a serviço da formação de "recursos humanos". Essa função toma o lugar da educação para e pela pessoa e origina-se na redução do trabalho a um "recurso" organizado, gerenciado, valorizado, rebaixado, reciclado e, eventualmente, abandonado em função de sua utilidade para a empresa. Como qualquer outro recurso material ou imaterial, o recurso humano é considerado como uma mercadoria económica que deve estar disponível em qualquer lugar. 1 Não tem direitos cívicos nem outros direitos quaisquer, sejam eles políticos, sociais ou culturais, e os únicos limites à sua exploração são de natureza financeira (os custos). Seu direito à existência e à renda depende de seu desempenho, de sua rentabilidade. Deve demonstrar que é empregável, de onde decorre a substituição do "direito ao trabalho" por uma nova obrigação: demonstrar sua "empregabilidade".
A educação como mercado
Isso é o que alguns dirigentes chamam de uma "política social activa do trabalho". Para eles, se a educação tem um papel maior, este, é, principalmente, em relação a essa obrigação de "empregabilidade". E por toda a vida, graças à formação contínua cuja função é manter os recursos humanos do país utilizáveis e rentáveis. Porém, desde então, o trabalho deixou de ser uma questão social.
A segunda armadilha é a passagem da educação do campo não mercantil ao mercantil. Desde que se lhe confere como tarefa principal formar os recursos humanos a serviço da empresa, não é surpreendente que a lógica mercantil e financeira do capital privado queira lhe impor a definição de suas finalidades e suas prioridades. A educação é cada vez mais tratada como um mercado. 2
As "universidades virtuais"
Na América do Norte, fala-se permanentemente de "mercado da educação", de "business da educação", de "mercado de produtos e de serviços pedagógicos", de "empreendimentos educativos", de "mercado de professores e alunos". Não é por acaso que se realizou, de 23 a 27 de maio de 2000, em Vancouver, no Canadá, o primeiro Mercado Mundial da Educação 3 (World Education Market). Para a grande maioria dos participantes, públicos e privados, 4 a mercantilização da educação é indiscutível, a questão principal é saber quem vai vender o quê num mercado mundial regulamentado por quais regras.
O "quem" já começa a delinear-se bem: são os editores de produtos multimédia, de criadores e fornecedores de serviços on line, ou de ensino à distância, operadores de telecomunicações, empresas informáticas, todos sectores nos quais as fusões, absorções e alianças sucederam-se em ritmo frenético nos últimos anos. Essas empresas já investiram muito no "quê": muitas têm, à mão um catálogo de programas-chave de formação on line -- pronto para ser oferecido. As "universidades virtuais" multiplicam-se como cogumelos através das fronteiras "nacionais". Segundo um estudo do banco de investimentos norte-americano Meryll Lynch, 5 o número de jovens que seguirão cursos superiores, em todo o mundo, aumentará para, aproximadamente, 160 milhões até 2025. Actualmente, são 84 milhões -- dos quais, 40 milhões cursam um ensino on line. É fácil imaginar o que poderá representar esse mercado em um quarto de século.
Liberalização e desregulamentação
A tendência em todos os países "desenvolvidos" dirige-se a um sistema de educação organizado sobre uma base individual, à distância (via Internet), variável no tempo, por toda a vida e à la carte. 6 Quanto às regras, o fracasso das negociações da Rodada do Milénio da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Seattle, em dezembro de 1999, impediu, provisoriamente, que os princípios do livre comércio sejam também aplicados à educação: eles estavam presentes nos itens do Acordo geral sobre o comércio de serviços (AGCS). Como as negociações sobre serviços foram retomadas na sede da OMC, em Genebra, nada garante que a liberalização e a desregulamentação do sector educativo não estejam novamente inscritas na ordem do dia.
Efectivamente, são cada vez mais numerosos os dirigentes políticos dos países desenvolvidos prontos a aceitar que o mercado decida as finalidades e organização da educação. As organizações sindicais (principalmente a Internacional da Educação), as organizações governamentais e o movimento de cidadãos deveriam redobrar seus esforços de oposição a esse roteiro. 7
Tecnologias e progresso
Terceira armadilha: a educação é mostrada como instrumento indispensável à sobrevivência de cada indivíduo e, ao mesmo tempo, de cada país, na era da competitividade mundial. Desse modo, a esfera educacional tende a transformar-se em um "lugar" onde se aprende uma cultura da guerra (cada um por si, conseguir mais do que os outros e o lugar deles) ao invés de ser uma cultura da vida (viver em conjunto com os outros, segundo o interesse geral). As universidades, os poderes públicos, os estudantes, os pais -- e até muitos sindicatos -- têm, de modo geral, aceitado tal cultura. O sistema, dessa forma, é levado a privilegiar a função de seleccionar os melhores -- apesar dos esforços de boa parte dos educadores -- muito mais do que cumprir sua função de valorizar as capacidades específicas de todos os alunos.
Quarta armadilha: a subordinação da educação à tecnologia. Os dirigentes, por acreditarem desde a década de 70 que a tecnologia é o principal motor das mudanças da sociedade, impuseram a tese de sua primazia e da urgência de adaptação a ela. Qualquer que seja seu campo de aplicação (a energia, a comunicação, a saúde, o trabalho), tendem a considerar como inevitável e irresistível qualquer mudança económica e social ligada às novas tecnologias, já que as inovações por elas provocadas são consideradas como contribuição ao progresso do homem e da sociedade.
Rumo à "era do conhecimento"
Para a grande maioria dos dirigentes, a globalização actual é filha do progresso tecnológico. Opor-se a isso é insensato. O principal papel da educação seria, então, dar às novas gerações a capacidade de compreender as mudanças em curso e as ferramentas de adaptação.
Quinta armadilha: o uso do sistema educacional como meio de legitimação das novas formas de divisão social. A acreditar-se no discurso dominante, as economias e as sociedades dos países desenvolvidos passariam da era industrial, fundamentada em recursos materiais e em capitais físicos (terra, energia, aço, cimento, trilhos) para a era do conhecimento, baseada, principalmente, em recursos e capitais não-materiais (os conhecimentos, a informatização, a comunicação, a logística).
O novo proletariado mundial
O conhecimento tornar-se-ia o recurso fundamental da "nova economia", nascida da revolução multimédia, das redes informatizadas, de seus derivados, como o e-comércio, o e-transporte, a e-educação, a e-empresa e o e-trabalhador. 8 Dentro dessa óptica, a empresa é vista como o sujeito e o principal lugar da promoção, da organização, da produção, da valorização e da difusão do "conhecimento que vale".
Promover a difusão do espírito empresarial e a criação de empresas no meio científico e nos estabelecimentos secundários e superior e redinamizar o sistema educacional para transformá-lo em terreno privilegiado da formação das gerações jovens na construção de uma "sociedade de conhecimento" constituem uma das principais receitas das políticas públicas de ensino e pesquisa. Ora, essa receita é posta em prática no momento em que, pelo mundo inteiro, uma nova divisão social instaura-se entre os "qualificados" (que têm acesso ao "conhecimento que vale") e os não-qualificados (que estão excluídos de tal acesso, ou não conseguem preservá-lo). Essa divisão vem agravar as já existentes, que se devem, entre outras razões, às desigualdades de acesso à alfabetização básica. O conhecimento torna-se o principal material de construção de um novo muro (o "muro do conhecimento") entre os recursos humanos nobres (organizados nas novas corporações profissionais planetárias) e os recursos humanos do povo, novo proletariado do capital mundial.
Prioridade é a informática
Certamente não será pela escolha feita pelos chefes de Estado e de governo dos 15 países da União Europeia por ocasião da reunião do Conselho Europeu em Lisboa, 9 em março de 2000, que os europeus se irão libertar dessas cinco armadilhas. A escolha, já traduzida em plano de acção pelo Conselho de Feira, em junho de 2000, consiste em afirmar que a grande prioridade dos próximos quinze anos é a construção da "e-Europa" para que, em 2015, ela se torne a "e-economia" mais competitiva do mundo.
O objectivo primordial dessa finalidade é dar a todos os europeus, desde a escola maternal e primária, o acesso à alfabetização informática para que se tornem uma quantidade de "recursos humanos" capazes de concorrer com os da América do Norte, que já teriam dezoito anos de vantagem. 10
Computador substitui laços afectivos
Neste campo, o consenso é muito grande entre os dirigentes europeus. Não teriam ainda compreendido, depois de vinte anos de políticas a serviço da competitividade, ao sabor do mercado, que nessa lógica há poucos ganhadores -- e isso em todos os campos, inclusive no da educação? Como podem eles ignorar que os Estados Unidos -- o país mais "desenvolvido" do mundo nas tecnologias de informação e da comunicação, de multimédia, Internet etc. -- têm um nível de instrução particularmente deplorável, segundo um estudo da Organização pela Cooperação de Desenvolvimento Económico (OCDE)? 11
Por que fecham os olhos diante do estado miserável da educação de base e às grandes desigualdades sociais que caracterizam actualmente o acesso ao ensino superior na Grã-Bretanha? Como podem ignorar os resultados de anos de pesquisas multidisciplinares sobre o desenvolvimento das crianças, mostrando que elas têm uma necessidade fundamental de laços pessoais profundos com os adultos, e que enfatizar o computador nas escolas, desde a mais tenra idade, pode privá-las desses laços essenciais? 12
A contribuição à vida em comum
Proposições pertinentes e realistas para uma outra política educativa não faltam: há, por exemplo, as anunciadas pela Oxfam Internacional e pela Internacional da Educação, em março de 1999, para "Uma educação pública de qualidade para todos". 13 Aprender a saber dizer bom-dia ao outro representa o ponto de partida decisivo para uma "outra" educação. Isso significa que o sistema educacional confere a si mesmo a função original de ensinar todo cidadão a reconhecer a existência do outro como base fundamental de sua própria existência da vida em conjunto.
Dialogar directamente, de pessoa a pessoa, é aprender que a alteridade é central na história das sociedades humanas, em meio a tensões criadoras e conflituosas, entre a unicidade e a multiplicidade, a universalidade e a especificidade, a globalidade e a localidade. É também aprender a democracia e a vida. É aprender a solidariedade, a capacidade de reconhecer o valor de toda contribuição -- ainda que seja pouco qualificada em relação aos critérios de produtividade e de rentabilidade -- de todo ser humano à vida em comum.
O direito à vida
Ao partir desse princípio geral, uma política da educação centralizada sobre o desenvolvimento, a preservação e a partilha dos "bens comuns" 14 que são os conhecimentos e os saberes, poderia contribuir para um desenvolvimento mundial solidário, no plano económico; eficaz, no plano social e democrático, no plano político. Aplicado à "e- Europa", priorizaria a formação de uma geração de cidadãos possuidores de competências e qualificações que requerem novas lógicas: as da economia social, da economia solidária, da economia local, da economia cooperativa.
Ela também conferiria importância primordial à cooperação com outras comunidades, regiões e povos do mundo para fazer recuar a tendência actual à apropriação privada dos conhecimentos e torná-los disponíveis à promoção de um Estado do bem-estar mundial garantindo a todos o direito à vida.
Face ao discurso em cima, a minha primeira desconfiança vai para a fórmula "globalismo liberal"
Tudo o que é liberal defende as liberdades individuais. Ora a leitura sobre textos especializados na matéria e a minha própria reflexão pessoal não me dizem que um futuro governo mundial dirigio por uma qualquer ONU tenha as liberdades induviduais por alguma prioridade.
Se me falassem em globalismo neoliberal, o desejo ardente de megacapitalistas pela omnipotência dos mercados (para este fim todos os meios valem), talvez já as peças do xadrez se encaixassem melhor para mim.
É provável que ainda faça mais um comentário ao texto anterior.
Estive a reler os comentários em cima, o que me levou a deixar aqui as seguintes notas:
1 - A subestimação das categorias direita e esquerda favorece esta última por gerar confusão na análise. Tudo o que é não ver claro ajuda a marcha da esquerda. Esta promana da treva. Não ver claro e treva é unha com carne.
2 - Se calhar, ser progressista é ser de esquerda! Uma coisa é querermos progresso e dignificação; outra é querermos o progresso pelo progresso, isto é, o progresso como fim.
3 - O conservadorismo de sindicatos e de alguns trabalhadores é o atavismo de todas as esquerdas. Estas são qualquer coisa fechada, um inexorável fatalismo.
4 - A história ainda só mal começou.
5 - Diz o(a) anónimo(a): «parece não haver alternativa ao pensamento único [...] E para o rpmribeiro cá estou eu a encarar o neoliberalismo como se fosse a peste e o culpado de tudo. Ainda por cima falamos do neoliberalismo triunfante. Se não há alternativa, só se é de direita ou de esquerda dentro do neoliberalismo e, assim, há quem afirme que existe um neoliberalismo de direita e outro de esquerda, o neo-fordismo e o pós-fordismo. Para mim, essa tralha toda é de direita...» Eu diria que para mim essa tralha toda é de esquerda. Se ladra, é cão; se é tralha, é de esquerda. Isto não é dicotómico, porque se fosse, também o seria a afirmação de que se é estrela, ilumina; se é planeta, recebe a luz.
6 - Para mim, há capitalistas que têm por trás os valores judaico-cristãos, isto é, regras, e outros sem escrúpulos morais e éticos e com as regras reduzidas ao mínimo exigível para funcionamento dos mercados, o que, mesmo assim, os obrigará a nunca precindir do jurídico por força do contrato (chatice). Falo dos capitalistas neoliberais cujos desígnios são paralelos aos da esquerda para a consecução do mesmo fim (conquista e governo do planeta). Ou será que alguém duvida de que onde está o dinheiro está a esquerda?
7 - "Aprender a saber dizer bom-dia", o respeito pelo outro, o face-a-face, a aprendizagem da democracia, o direito à vida, a solidariedade e acolhimento, a partilha, etc., são valores cristãos, eminentemente liberais, logo não de esquerda.
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