20 junho 2006

Faz que anda, mas não anda


Propositadamente, deixei passar duas semanas antes de abordar o tema da manchete da última edição do jornal da terra (7/6/2006): "Rua do Norte vai ter um passeio".
Presumo que a maioria terá lido o texto e, se entretanto não o esqueceu, recordar-se-á que o executivo municipal de Alcochete determinou e mandou publicar duas coisas:
a) Construa-se um passeio na Rua do Norte e mude-se o piso;
b) Quem estaciona na dita artéria passará a fazê-lo no Largo da Feira e daqui a um ou dois anos haverá lá um parque para tal.
É muito fácil o executivo municipal, que dispõe de garagem, telheiro e de uma artéria inteira (Rua do Mercado) para estacionar os seus popós, decidir que os munícipes deixam os respectivos veículos a 400 metros de casa.
Mais difícil – e até ver impossível, como ficou demonstrado nos primeiros meses de mandato – é o executivo esclarecer directamente os munícipes acerca dos seus projectos e respectiva fundamentação técnica, usando meios práticos e cómodos de informação, nomeadamente os que todos pagamos. Era seu dever fazê-lo, ainda, porque a coligação de que emana o inscreveu no programa eleitoral.
Se o objectivo deste executivo é apenas devolver à população zonas pedonais no núcleo histórico da vila de Alcochete, evidencia o populismo bacoco do costume e demonstra incompreensão pelos cinco principais problemas aí existentes: fuga de residentes, deserção de visitantes, falência do comércio não alimentar, edifícios degradados e inexistência de áreas de estacionamento permanente.
Daí que, ao invés de concorrer ao PRAUD (Programa de Recuperação de Áreas Urbanas Deagradadas) para construir um passeio – através do qual obterá o financiamento ridículo de 25% para essa acção – deveria aproveitar a vertente do mesmo programa que financia em 75% a criação de gabinetes técnicos de reabilitação ou renovação e começar a estudar o problema em profundidade, com a colaboração de técnicos qualificados.
Se bem me recordo, o anterior executivo municipal chegou a pedir a um ministro (ou anunciou que iria fazê-lo?) o financiamento de tal gabinete, que formalmente mandou instalar no rés-do-chão do edifício da biblioteca municipal.
Depois de estudados os problemas e analisadas as propostas técnicas partir-se-ia então para acções concretas no terreno, porque as decisões urgentes e imprescindíveis ultrapassam em muito a simples construção de um passeio.
Aliás, se alguém do executivo municipal gastar cinco minutos a consultar num motor de busca da Internet a informação devolvida pela palavra-chave PRAUD, descobrirá que vários municípios nacionais pegaram no programa da forma mais conveniente e correcta e alguns até já têm planos de recuperação delineados.

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