Acabo de tomar uma bica no café da esquina aqui nos Barris. Acendo uma cigarrilha, a primeira e penúltima do dia de hoje. Olho para o exterior através de uma grande vidraça. Do sítio onde estou sentado, conto seis apartamentos à venda. Pergunto-me: qual o significado disto? Será que as pessoas se sentem defraudadas? Se a minha pergunta tem alguma pertinência, resta-me reflectir sobre as causas. Quem constrói pensa menos nas pessoas e mais no lucro. Para que este não seja alcançado à custa do bem estar de cada um, existem regras para o sector cuja superintedência cabe à Câmara. Que papel desempenhou esta a favor dos futuros moradores, ao fim e ao cabo, a favor de Alcochete?
Os Barris é um bairro praticamente sem sossego desde que foi construído nomeadamente por força das obras da 2ª variante ao longo dos últimos quase três anos, não tem espaços verdes merecedores deste nome, as ruas estão apinhadas de automóveis, etc. Quem se safou com tudo isto? Quem sofre? Como são possíveis coisas assim no Portugal da União Europeia de 2006? Por que razão as populações não se viram contra os responsáveis por toda esta situação com a mesma força que apoiam a nossa Selecção de Futebol? Que vale ganharmos o Mundial se a maioria dos portugueses não têm condições de habitabilidade dignas de um ser humano? Até quando dois simples cidadãos sem apoio de ninguém poderão continuar com esta luta contra mastodontes perigosíssimos?
3 comentários:
Onde se fala na avidez das empresas construtoras na produção de lucros e na voracidade desregrada da Câmara na concessão de licenças de construção para obtenção de receitas públicas.Em consequência cresce a oferta de fogos devolutos de nova construção sem comprador à vista.
Como pano de fundo emerge a vinculação incontornável e progressiva de Alcochete às características de vila dormitório sem que se defina uma estratégia concertada para resolver os problemas do isolamento, da inclusão social, da assistência aos menores, da assistência social, do ambiente, da segurança, da saúde.
Questão muito actual é também um desafio permanente ao poder público.
Caro João Marafuga:
Tanto quanto tenho conseguido apurar, a causa mais frequente do problema a que alude é a distância casa-emprego, o custo do automóvel individual e o mau serviço de transportes públicos.
Ninguém pensou nisso em tempo oportuno e os orçamentos familiares não suportam os encargos das deslocações.
De resto, à câmara convém que muitos mais apartamentos sejam revendidos. Os primeiros dessa urbanização usufruíram de isenção de IMI durante 10 anos mas, desde a entrada em vigor da nova lei, essa isenção baixou para 6 anos e nenhum agregado familiar beneficiará de mais de 3 isenções.
Por essas e por outras, os problemas só incomodam quem tem de arcar com eles ou quem, como nós, pugna por melhores condições de vida para todos.
O momento que se segue ao nascimento dos filhos é também o da reavaliação da despesa familiar.
Há quem se queixe que o novo encargo com o infantário conjugado com os factores já mencionados servem para ponderar a decisão de eventual regresso ao local de origem dos conjuges ficando, eventualmente, a família dele ou dela a tomar conta dos filhos. Será que ninguém pensa em criar mais vantagens comparativas na habitação local reduzindo de alguma forma os custos que as pessoas têm de suportar?
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