29 setembro 2008

Ermida ou Igreja da Senhora da Vida


Edifício classificado pelo Ministério da Cultura como Monumento de Interesse Público.
Antiga Ermida ou Capela do Espírito Santo, situada na Rua do Norte e Rua da Senhora da Vida (bairro das Barrocas, junto ao Tejo) – Alcochete.

Ao longo de décadas, entre o rico património local este templo tem sido o mais fotografado e filmado por profissionais e amadores, de dia ou de noite, porque o seu enquadramento no Tejo proporciona belas imagens.
É um dos símbolos característicos da vila de Alcochete e está de classificado c
omo Monumento de Interesse Público, pelo Decreto n.º 2/96, publicado no «Diário da República» n.º 56, de 6 de Março de 1996.
Encostado à nave, do lado Poente, existe um edifício de empena triangular onde funcionou o hospital da Santa Casa da Misericórdia de Alcochete (uma placa de mármore sobre a porta principal deste edifício indica essa função de outrora).

Um pequeno templo de nave única e com planta quinhentista, coberto por tecto em madeira, cuja fachada principal é maneirista.

Ao redor das portas principal e lateral há almofadas em pedra do tipo "rusticado".
O tecto original era decorado com uma pintura do séc. XVIII, representando o orago. Em 1986 foram realizadas obras de restauro, pela Santa Casa da Misericórdia de Alcochete, constando da reconstrução da cobertura da nave e de apeamento do púlpito, mas a reprodução da pintura original do tecto nunca foi realizada. Existe levantamento fotográfico do tecto original.
A capela-mor é de planta centralizada, sendo coberta por uma elegante cúpula maneirista, coroada com um lanternim.
As paredes laterais e a capela-mor são parcialmente revestidas com painéis de azulejos azuis e brancos do século XVIII, com passos da vida mariana.

O altar do lado da Epístola, de invocação de Nossa Senhora da Soledade, preserva duas imagens policromadas, talvez seiscentistas, figurando São Brás e Santo António.
A época de construção é a segunda metade do séc. XVI (1577), patrocinada pelo Dr. Afonso de Figueiredo para sua sepultura e de sua mulher, Júlia de Carvalho, cujos túmulos estão no pavimento da capela-mor.
Cem anos depois a ermida já não invocava o Espírito Santo mas Nossa Senhora da Vida, quando Nuno Álvares Pereira Velho de Morais, juntamente com alguns conterrâneos, reorganiza a irmandade, cujo compromisso teve confirmação régia em 1674 e já então era fama que a imagem da padroeira teria pertencido ao santuário da Rainha Santa.
Embora datem, pelo menos, do séc. XVII e tenham continuado até ao século seguinte, no século XX apenas em 1930 e 1935 se realizaram, em Alcochete, as Festas de Nossa Senhora da Vida, da devoção do povo porque, segundo uma lenda local, teria sido Ela que o salvara de ser atingido por uma das pestes que grassou no país.
O recorte de Imprensa reproduzido abaixo é a reportagem das festas de 1935, publicada no jornal «O Século» (clicar sobre a imagem para ver ampliação legível),

A organização das festas da Senhora da Vida estava a cargo da Sociedade Imparcial 15 de Janeiro de 1898 e tinha como principal impulsionador o director da centenária colectividade musical, José Diogo da Costa.
No início da década de 40 do séc. XX essas festas viriam a dar lugar às do Barrete Verde e das Salinas – por iniciativa do jornalista alcochetano José André dos Santos – estando na origem destas a fundação do Aposento do Barrete Verde.

Vale a pena acrescentar que o acima citado reorganizador da irmandade do Espírito Santo –
Nuno Álvares Pereira Velho de Morais, que estará na origem da invocação desta ermida à Senhora da Vida – era descendente dos Monizes de Alcochete, família muito chegada à casa real desde, pelo menos, 1498.
Filho de Nuno Álvares Pereira e de Inês de Novais Neto, era capitão e casou na vila em Maio de 1652. Em 1705 era tido como uma das pessoas principais da vila.

Fontes:
Câmara Municipal de Alcochete (PDM)
Região de Turismo da Costa Azul
Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais
Aposento do Barrete Verde

Bibliografia:
Eduardo Ramos da Costa, «O Concelho de Alcochete», 1902
José António Ferreira de Almeida, «Tesouros Artísticos de Portugal», Lisboa, 1976
Luís Maria Pedrosa dos Santos Graça, «Edifícios e Monumentos Notáveis do Concelho de Alcochete», Lisboa, 1998
José Estevam, «Fidalgos e Mareantes, Apontamentos Históricos sobre os Alcochetanos no Oriente», Alcochete, 2001

Existem igrejas dedicadas a Nossa Senhora da Vida, pelo menos, em Granja do Ulmeiro (Soure), Sobral de Monte Agraço e Calheta (Madeira).
No Brasil é a protectora dos nascituros.
Persistem em Bombaim (Índia) ruínas de uma igreja, construída em 1548 pelos portugueses, em honra de Nossa Senhora da Vida.
Há outras referências a Nossa Senhora da Vida em diferentes pontos do globo, como EUA, Canadá, França e Brasil.

1 comentário:

Paulo Benito disse...

Obrigado!

Obrigado pelo seu trabalho de pesquisa.

Obrigado por manter informados sobre dados/factos/acontecimentos históricos da nossa bela vila.

Obrigado por manter este blog vivo e interessante.

Paulo Benito