16 setembro 2008

Mecanismo do bode expiatório e tourada


Desde os primórdios da humanidade, por aqui e acolá mesmo depois do Sacrifício da Cruz, sempre que a colectividade se vê em crise, lança as culpas sobre o indivíduo. Só a morte trágica deste devolve as pessoas comuns à vida pacata. Eis em palavras rápidas e simples uma explicação para o mecanismo do bode expiatório.
Ao longo do séc. XX, os bodes expiatórios do totalitarismo (nazismo e comunismo) foram judeus, burgueses, reaccionários, etc.
Ora a minha tese é a seguinte: se a tourada, simbolicamente, obedecesse ao mecanismo do bode expiatório, as organizações de esquerda não estariam contra essa eminente manifestação cultural de raiz popular.
Hoje não vivemos no culto da colectividade, ou melhor, do que a representa, a assembleia? Esta, avessa a qualquer princípio superior que a transcenda, não inculpa nascituros, família, classe média, etc.?
Se o simbolismo da tourada abonasse a dinâmica desta inculpação, as áreas de esquerda certamente que não atacariam tão encarniçadamente a tourada, antes a apoiariam nem que fosse tacitamente.
Mas os espectadores de uma tourada não são uma massa enraivecida que aponta o dedo ao animal, projectando sobre este sentimentos de ódio e vingança e arvorando-o em suspeito a abater, o que faz do mecanismo do bode expiatório uma estrutura antropológica insuficiente para a análise honesta da corrida de toiros.

1 comentário:

Unknown disse...

Eu retoquei este meu texto aqui e acrescentei acolá.