12 junho 2008

Realidades e fantasias (2)


Há três meses, neste texto, criticara o projecto de reorganização de serviços no Município de Alcochete, chamando a atenção para o facto de o panorama económico ser pouco lisonjeiro e não me parecer recomendável uma estrutura crescentemente pesada, compartimentada e burocratizada.
Recordava então que
as empresas e o Estado estão, há anos, a emagrecer estruturas e hierarquias, a reduzir pessoal, a agilizar processos de decisão e a contratar serviços externos para executar tarefas rotineiras.
Escrevia ainda que jamais o desejo de dominação partidária poderia justificar que na organização administrativa se ampliassem estruturas funcionais no topo da hierarquia, tanto mais que a todos os munícipes é exigido o dinheiro necessário para financiar decisões.
Infelizmente, há inúmeras decisões manifestamente erradas.
E esta reorganização parece-me ser uma das piores, até à data.

Contudo, através do Edital n.º 581/2008, entrará amanhã em vigor. Consulte-se a II
série do «Diário da República» de hoje, em cuja página 25967 é publicado o Regulamento de Organização dos Serviços Municipais e respectivo organograma.
Esse organograma está reproduzido na imagem acima e, embora ilegível (tal como no original electrónico), dá para entender a dimensão do erro que ninguém soube travar a tempo.

É bom recordar que, tanto em área como em população, o concelho de Alcochete é um dos mais pequenos do país. E, entre os 308 nacionais, o seu município ocupa também dos últimos lugares em termos orçamentais no Continente.
Espero que me demonstrem o acerto desta reorganização e do organograma reproduzido, em face do art.º 235.º da Constituição da República, segundo o qual as autarquias locais "visam a prossecução de interesses próprios das populações respectivas".

P.S. - Paulo Benito enviou-me a imagem que reproduzo, acompanhada do comentário que seguidamente também transcrevo:





"Não conheço o funcionamento da CMA, não conheço os seus indicadores de desempenho nem a sua eficácia ou eficiência organizacional. O que conheço, no âmbito da minha actividade profissional, é que as organizações tendem a ter actividades estruturadas por processos, que muitas vezes não estão alinhadas com a organização hierarquica-funcional tradicional (exemplo do organograma da CMA).
"O que espero, como cidadadão e munícipe, é que a CMA defina metas para o desempenho dos seus serviços. Exemplo: x dias para aprovar um licenciamento, y dias para a ligação da água, z dias para... Voto nas pessoas que me conseguirem dar isto, independentemente do partido que representam".

7 comentários:

Unknown disse...

Sr. Bastos, entre os comunistas, desde Lenine, vem a ideia satânica de que quando a realidade não se amolda à fantasia, tanto pior para a realidade.

Fonseca Bastos disse...

Sr. João Marafuga:
Já lá vai o tempo da fantasia e da ideologia. A crise agrava-se, os sacrifícios são imensos, há muita gente a passar fome e de duas uma: ou os cidadãos ajudam a pôr as coisas nos eixos ou esperam-nos tempos muito piores.

Unknown disse...

Acha que uma lista de cidadãos independentes porá cobro a toda esta espoliação?
Se esses cidadãos se aglutinassem a uma homem disciplinado e sério...tudo bem. Mas se eles, ao fim e ao cabo, querem é fazer parte deste festim, desta antropofagia geral, então fiquem longe porque já cá temos quem de sobra sugue o nosso sangue.
As coisas estão más, sr. Bastos, sobretudo para aqueles que com trabalho e inteligência chegaram a algum lado nesta sociedade. Porque lutámos, somos culpados, razão por que temos que alimentar todos estes parasitas que nem sequer, muitos deles, conseguiram um ofício no seio da sociedade.

Fonseca Bastos disse...

Independentes ou não, os cidadãos terão de ajudar a pôr cobro a muita coisa errada e inaceitável. Organizem-se como entenderem para devolver representatividade, dignidade e transparência ao poder local, mas mexam-se antes que seja tarde demais!
Os municípios não surgiram para agregar repartições de esquartejamento do território a bel-prazer de uns quantos, de distribuição cirúrgica de subsídios, de propaganda pessoal ou de empregos e benefícios para resolver problemas sociais e clientelismos partidários. Os municípios "visam a prossecução de interesses próprios das populações" e, no estado actual, o que nos é mais próximo distancia-se, crescentemente, desse objectivo constitucional.
Nunca acreditei em mulheres e homens providenciais antes de os ver em acção. Se existem apareçam quanto antes, mostrem o que fizeram na vida e expliquem como irão endireitar as coisas.
Temos tido azar com os mais recentes e vamos de mal para pior. Temos de lutar contra esta adversidade.

Unknown disse...

Não podemos desligar as pessoas dos partidos que representam. É uma ingenuidade política.
O que Paulo Benito pede até poderá ser dado por comunistas a troco do totalitarismo educativo, do totalitarismo cultural, do totalitarismo municipal, etc.
Paulo Benito dá o pescoço ao cepo por muito pouco.

Unknown disse...

Sr. Bastos, claro que estou objectivamente de acordo com o que é essencial nestes seus textos.

Anónimo disse...

Críticas muitas, quiçá correctas.
E soluções? Temos algumas?
Pois, pois, criticar é fácil, meter a mão na massa é que custa.
Assim sendo, vamos só criticando e empurrando o trabalho para outros, convencendo-nos que já fizemos a nossa parte e assim podemos continuar a criticar quem trabalha.
E que tal fazer alguma coisa pelo concelho?