26 junho 2008

Ideiazita (2)

Tem inteira razão, caro condómino João Marafuga. Presumo que, acertadamente, todos os bancos fornecem idêntica informação aos seus clientes.
Aliás, as empresas são obrigadas a pagar a publicação de contas anuais em «Diário da República», pelo menos; as maiores editam e distribuem relatórios e contas entre clientes e fornecedores, também disponíveis na Internet, tal como o balanço social. O próprio Estado presta contas públicas anuais.

Contudo, os "donos" modernos das nossas seculares autarquias têm entendido não ser obrigados a mostrar contas aos cidadãos, ao contrário dos antecessores de meados do século passado.
Em tempos consultei actas da Câmara de Alcochete, dos anos 30 e 40 do séc. XX, notando que até o teor da correspondência recebida está registado em acta.
Nisso e noutras coisas as contemporâneas mentes brilhantes elevadas ao poder autárquico estão profundamente erradas, porque lidam com dinheiro pertencente à comunidade mas são incapazes de discernir que o que é de todos a todos interessa.
Por essas e por outras, o poder local vai perdendo prestígio e dignidade. E a maioria dos cidadãos tende a supor, erradamente, que muitos estão lá por motivos que nada têm a ver com serviço público prestado à comunidade.
Continuo a pensar que precisamos de apear do poder gente sem ética democrática e desconhecedora dos mais elementares princípios da convivência em sociedade.
Todavia, devo acrescentar que, quinzenalmente, a Câmara presta contas. Mas fá-lo de uma forma algo abstrusa e não encontrei ainda paralelo em qualquer outra com actas disponíveis na Internet.
Há muitos anos que a redacção é sacramental e extraí o seguinte exemplo daqui:

RESUMO DIÁRIO DA TESOURARIA
Referente ao dia de ontem, que acusa o saldo, em disponibilidades de operações orçamentais, no montante de dois milhões, seiscentos e trinta e cinco mil, novecentos e trinta e quatro euros e noventa e oito cêntimos.
A Câmara tomou conhecimento.

PAGAMENTOS
O Senhor Presidente informou a Câmara que foi autorizado o pagamento das despesas no valor de oitocentos e quarenta e dois mil, quatrocentos e seis euros e cinquenta e seis cêntimos a que correspondem as ordens de pagamento emitidas do número 4225 ao número 4640.
A Câmara tomou conhecimento.

Isto nada esclarece acerca da real situação financeira da Câmara. Equivale a dizer que, ontem, eu tinha 25€ no porta-moedas, tendo nos últimos 15 dias gasto 19€ em 11 aquisições.
Qualquer ser inteligente interrogar-se-á sobre muitas outras coisas a que ninguém responde, como, por exemplo, o facto de, no último trimestre do ano passado, a Câmara de Alcochete demorar, em média, 148 dias a pagar a fornecedores. O quarto pior pagador entre os 13 municípios do distrito!

2 comentários:

Unknown disse...

Agradeço a pertinente achega que deu ao meu pequeno texto.
As pessoas deviam informar-se e pensar sobre todas estas matérias.
Se não pensarmos, outros pensarão por nós.

Fonseca Bastos disse...

Informar e ser informado é um dos principais direitos democráticos.
Lamentavelmente, muitas pessoas acham que basta ler certos jornais para estarem informadas.
Um dos maiores dramas da Imprensa actual, nomeadamente da regionalizada, é a extrema dependência dos humores do poder instalado.
Além de outras consequências, em que poucos reparam, o fim do pequeno comércio e das pequenas e médias empresas está a tornar moribunda a Imprensa de proximidade e a desacreditar os jornalistas, que se transformaram em peões das nicas num jogo em que vale tudo para semear ilusões.