29 junho 2008

REORGANIZAÇÃO DOS SERVIÇOS CAMARÁRIOS - MAIS UMA OPORTUNIDADE PERDIDA

Só agora tomei contacto com o post «Realidades e Fantasias» sobre a reorganização dos serviços da Câmara Municipal de Alcochete da autoria de Fonseca Bastos e do excelente comentário de Paulo Benito sobre esse assunto publicados neste Blogue no passado dia 12 de Junho.
Pela sua importância e relevo acredito que merece mais um comentário, até porque o mesmo vem uma vez mais ao encontro daquilo que tem resultado evidente ao longo do exercício do mandato do actual executivo camarário , ou seja , que este executivo promove iniciativas cuja importância para o futuro do Concelho impunha uma competência , uma atenção , um empenho e uma profundidade que ultrapassasse amplamente a iniciativa de mera cosmética politica e uma abordagem politizada.
Sem mais delongas parece-me óbvio que qualquer reorganização dos serviços de uma câmara municipal deve ter como base a consideração criteriosa de quais são os interesses relevantes e pertinentes e de quais são efectivamente os constrangimentos internos que importa corrigir no propósito de responder com mais eficácia aos desafios e às oportunidades.
Em última instância o que se pretende alcançar com uma iniciativa desta natureza é uma efectiva melhoraria do serviço prestado aos munícipes, envolver e motivar os funcionários e aumentar a eficácia organizacional dos serviços.
Para alcançar esses desígnios teria sido importante a Câmara Municipal de Alcochete ter definido um conjunto de procedimentos preliminares. A saber:
- Uma Auto-Avaliação interna;
- Uma Auditoria que permitisse avaliar o nível de preparação da CM de Alcochete para a mudança;
- Identificar o nível de satisfação do munícipe e dos colaboradores da Autarquia;
- Identificar os problemas, constrangimentos e oportunidades relativamente ao desempenho dos processos internos da Autarquia e suas vertentes essenciais;
- Definir as prioridades de actuação no processo de Modernização Administrativa;
- Um Redesenho de Processos e Reengenharia Organizacional, com vista à optimização, controlo e melhorias de funcionamento interno sempre orientado para o munícipe como muito bem sugeriu Paulo Benito no seu comentário;
-Uma nova Arquitectura dos Sistemas de Informação e Comunicação;
-Um Sistema de Monitorização de Resultados;
Desconheço qual foi o instrumento escolhido (se é que foi escolhido algum) pela CM Alcochete para, numa perspectiva da melhoria continua da eficácia dos seus serviços, promover uma auto-avaliação do respectivo desempenho nos diversos parâmetros essenciais ao bom funcionamento de qualquer organização, nomeadamente quanto à Liderança, Politica e Estratégia, Gestão das Pessoas, Recursos e Parcerias, Gestão dos Processos e da Mudança.
Para tal teria sido decisivo nomear uma equipa de coordenação qualificada para o desenvolvimento deste processo, uma equipa que promovesse a referida auto-avaliação de acordo com uma metodologia que assentasse sumariamente nos seguintes procedimentos:
- Realização de sessões de esclarecimentos a pequenos grupos sobre os objectivos e o modo de preenchimento dos formulários, seguido de um período de debate e preenchimento por cada um desses grupos
- Promoção de reuniões de apreciação das respostas com um porta-voz de cada grupo e da equipa de coordenação;
-Apresentação final dos resultados com a elaboração de um relatório a apresentar ao executivo camarário.
Ao optar proceder dessa forma, a CM de Alcochete teria tido uma oportunidade de se auto-avaliar enquanto organização, fomentando o debate interno e o trabalho em equipa, aproveitando conhecimentos, sugestões, experiências e contributos válidos de todos os envolvidos , opção que certamente entraria em choque com a forma de estar no poder autárquico do partido que detém a maioria no executivo camarário em Alcochete.
Apesar de não conhecer em profundidade o processo e a forma como se processou a reorganização dos serviços internos da CM de Alcochete, é bem evidente que não há uma verdadeira Politica de Recurso Humanos e que há falta de motivação do pessoal, ao que não será estranho as limitadas condições físicas de trabalho.
Por outro lado desconhece-se se há sequer um Sistema de Gestão de Processos e até um programa de Gestão da Mudança.
No que concerne ao envolvimento no munícipe nas actividades já muito foi escrito neste Blogue.
O projecto de reorganização dos serviços camarários poderia ter sido estruturado em três fases:
Assim, e desde logo , a análise dos principais resultados da Auditoria acima referida seria sustentada na Recolha de Informação , a respectiva Sistematização e Análise e finalmente na Apresentação de Recomendações , redundando na elaboração de um Plano de Acção, com designação de responsáveis pelo mesmo.
A fase seguinte seria uma fase de Reestruturação Organizacional e Redesenho de Processos sustentada nos seguintes passos:
Uma análise da situação actual da CM Alcochete no plano da sua eficiência organizacional e operacional, com elaboração de um organigrama informal que permitiria detectar quais os pontos essenciais a considerar no novo alinhamento organizacional.
Numa segunda fase proceder-se-ia ao levantamento ao conjunto dos processos internos mais relevantes de forma a aferir o tempo de duração dos processos (estimado), número de intervenientes nos processos e reincidência de intervenientes, fase em que seriam recolhidas sugestões para a sua melhoria e avaliada a possibilidade de os transformar em e-serviços a disponibilizar na Internet ou via Juntas de Freguesia.
A última fase seria concretizada com a definição da nova estrutura orgânica, fase em que seriam definidas atribuições, quadro de pessoal e actividades de cada área funcional, sempre na perspectiva do aumento da eficiência operacional.
Tal objectivo impunha um processo de Desenvolvimento de Competências Internas e Optimização do Funcionamento Interno e Valorização dos Recursos Humanos da Câmara com base nos seguintes vectores pré apurados:
- Enquadramento e características intrínsecas do Concelho;
- Identificação dos Desafios de desenvolvimento do Concelho;
- Identificação dos projectos estruturantes de iniciativa da CM actualmente em curso.
- Clarificação de funções, níveis de reporte, interacções entre serviços;
- Potenciação da optimização dos fluxos de funcionamento internos.
- Responsabilização;
- Níveis de Qualificação;
- Níveis de Motivação.
Adicionalmente seriam identificadas oportunidades de externalização das actividades da CM e realizado o mapeamento e caracterização dos actuais processos, tendo em vista o seu redesenho, incorporando oportunidades de melhoria identificadas e a definição de processos não existentes, nomeadamente ao nível da monitorização.
Tal procedimento implicaria a minimização de tempos de duração dos processos, do número de intervenientes e circulação interna, e contribuir para a elaboração do Manual de Procedimentos a disponibilizar internamente via intranet e às Juntas de Freguesia no âmbito dos serviços descentralizados que poderiam prestar aos munícipes.
Abordar a reorganização dos serviços da câmara desta forma teria permitido implementar:
- Uma organização orientada para o Munícipe;
- A descentralização do atendimento nas Juntas de Freguesia, com a criação de uma extranet o que permitiria deslocalizar vários serviços como o pagamento de Taxas e Licenças, Serviços Urbanos, Águas, Sugestões e Reclamações;
- Promover a internet , não só como meio de promoção do município e dos serviços autárquicos, mas como meio de relacionamento e como posto de atendimento virtual (com alguns dos serviços da extranet) disponível 24 sobre 24 horas, sete dias por semana , implementação novos processos administrativos de atendimento e de funcionamento interno, como por exemplo a operacionalização do um nºverde, gratuito, de contacto com a CM .
Por fim qualquer esforço de reorganização da CM Alcochete teria necessariamente de ter em conta aquele que é, na minha opinião, o maior factor crítico de sucesso num projecto de mudança - o envolvimento, o apoio e o alto patrocínio por parte do executivo e demais colaboradores da Autarquia, claro está acompanhada também por um forte investimento em consultadoria especializada e tecnologia, desde equipamento, software e comunicações.
Lamentavelmente tudo leva a crer que nada disso foi privilegiado na abordagem desta questão, pelo que, e à semelhança do que eu já havia denunciado com a revisão do PDM, perdeu-se mais uma oportunidade de promover uma mudança que fosse ao encontro das necessidades reais do concelho e que não se traduzisse em mais uma iniciativa de cosmética política em vésperas de eleições.

1 comentário:

Fonseca Bastos disse...

Em 2009 teremos todos os recenseados em Alcochete a oportunidade ideal para promover uma mudança coincidente com as necessidades reais do concelho.
Falta cerca de um ano e, por enquanto, não conheço nem um programa de acção nem pessoas dispostas a garantir a sua concretização.
Para mudar tudo só com outro paradigma e outra gente. Mas ao fundo do túnel não vejo ainda uma coisa nem outra.
Alguém julga ser, hoje em dia, credível apresentar projectos e pessoas para os concretizar à beira de eleições?
As mudanças a empreender são de tal monta que, com 90 dias de antecedência, jamais haverá tempo para explicar à maioria a bondade das propostas.
Pelo caminho que as coisas levam por agora tenho apenas uma certeza: pela primeira vez, em Alcochete, a abstenção poderá ser superior a 50%.