02 setembro 2009

Desperdiçar óptimas ideias: alguns desafios



A julgar pelas imagens com planos fechados disponíveis aqui, os residentes alhearam-se totalmente de uma inspiradora iniciativa francesa há dias terminada em Alcochete sem honra nem glória, embora merecedora de amplo destaque e de um envolvimento humano que visivelmente não teve.

Dispondo apenas de informação municipal frouxa e recheada, como habitualmente, de autopromoção ao sistema mas menosprezando o lado social das coisas (erro primário de comunicação), eu próprio não me apercebi a tempo das características da iniciativa e da sua importância como fonte inspiradora para a comunidade local.
Só agora tive oportunidade de investigar o assunto em pormenor e fiquei espantado como pudemos ignorar e alhear-nos de uma coisa destas.
Mais espantado fiquei porque a ideia me parece inspiradora para inúmeras iniciativas locais similares, bem como para divulgação internacional das nossas tradições, História e cultura, recolhendo-se, em contrapartida, ideias, símbolos, experiências e conhecimentos úteis ao enriquecimento da coesão social e do património alcochetanos.

Entre 25 e 27 de Agosto estiveram em Alcochete vários membros da associação francesa «Jardin Nomade», sediada em Brest, que durante dois meses viajaram por Espanha e Portugal com a deliberada intenção de promover algo praticamente desconhecido na Península Ibérica mas muito divulgado em certas regiões europeias e norte-americanas: jardins e hortas partilhados – as famosas hortas sociais do arq.º Gonçalo Ribeiro Telles, cujas ideias só serão reconhecidas quando desaparecer do nosso convívio. O habitual, de resto.
Sem prejuízo de uma leitura calma e ponderada deste documento-guia da iniciativa, bem como do blogue de «Jardin Nomade», adianto que, com o apoio da municipalidade de Brest, residentes nessa cidade (entre os quais há até alguns portugueses) criaram, na última década, 30 hortas e jardins partilhados.
Jardineiros, criadores inspirados, amantes do contacto com a Natureza, floricultores e simples curiosos juntam-se para alindar um espaço devoluto ou abandonado. Produzem e permutam produtos hortícolas, plantas ornamentais, árvores e flores.
O movimento começa a ser internacionalmente conhecido como «comunidades criativas» e aqui há mais exemplos inspiradores e interessantes.


Partindo do princípio que mais alguém se sentirá atraído por boas ideias, resta-me deixar alguns desafios:
1. Nos bairros deste concelho organizem-se grupos de criativos voluntários para alindar as abandonadas rotundas e outros inúmeros espaços mortos ou sem aproveitamento algum. Imponham aos autarcas a cedência de plantas e meios para a construção e manutenção desses espaços;
2. Dentro de um ano ou dois organize-se um grupo para ir a Brest retribuir a iniciativa pioneira de jardineiros-viajantes daquela cidade. Prepare-se um espaço nobre capaz de albergar as plantas recolhidas durante a viagem;
3. Exija-se aos envergonhados autarcas que, ao invés de ocultarem a horta nómada francesa no Sítio das Hortas, a mudem para qualquer local central numa das freguesias do concelho. Aquela horta é um acto cortês pioneiro e simbólico, tem poder evocativo e os símbolos não são para esconder;
4. Repare-se como é possível que localidades pequenas e mal conhecidas saltem para a comunicação social sem ser pelas piores razões. A inteligência distingue os seres humanos dos outros animais.


Nota - A imagem que ilustra este texto foi retirada do blogue de «Jardin Nomade», cuja hiperligação forneci acima.


P.S. - O blogue regional «A-Sul» transcreveu este texto, gentileza que agradeço ao(s) autor(es).

5 comentários:

amadeu silvestre disse...

Obrigado por mais esta informação.
De facto é pena que este tipo de acontecimentos não tenha a divulgação dada a tantas outras coisas de interesse duvidoso.

luis disse...

Um alerta importante e uma forma útil de promover esta Terra.
Já agora e em complemento quetiono; são os Alcochetanos conhecedores do estado de completo abandono desleixo e degradação em que o polo ecológico do Sítio das Hortas se encontra?
Uma Vergonha!
Existem também na saída para o Samouco, uns contentores abandonados, ao que julgo saber deveriam servir para suporte a hortas biológicas.
É que se abandonaram o projecto deveriam retirar os contentores!

luiz batista

Melo disse...

Caro Luiz:

Já agora desejava que fosse mais explicito em relação ao Polo Ecológico do sítio das Hortas.

No segundo ponto também concordo com o seu ponto de vista.
No entanto, poder-se-ia aproveitar aquele espaço, para algo mais útil.

luis disse...

Caro Melo,

Não faltará muito para estarmos de acordo em tudo!
Já que pergunta, apenas lhe recomendo uma visita ao local, aproveite e use os aparelhos para fazer um pouco de exercício fisíco e depois diga o que viu.
(pena não poder documentar com fotos)

luiz batista

Melo disse...

Caro Luiz:
No sitio da Hortas existe dois Polos, um é ecológico Ambiental que fica junto da reserva do Esuário.
O outro polo é meramente de exercicios ao ar livre, julgo não estarem interligados.
No entanto,o estar de acordo com algumas matérias, não significa de estarei brevemente de acordo com tudo o que digam.
Também penso pela minha própria cabeça, nunca na vida pensarei de forma diferente, posso concordar ou não com alguns assuntos, mas, o meu ponto de vista é que me guia sempre na vida.