10 dezembro 2006

Símbolos (9)

Há coisa de uma dezena de anos, falava eu sobre temas da nossa terra com um dos raríssimos ex-autarcas comunistas que nunca precisou do partido para viver. Deambulávamos ao longo da marginal do Rossio e eu, a dado passo da conversa, lastimava vereadores do município de Alcochete cujas credenciais não iam além do diploma da 4ª classe. A resposta logo dada foi a seguinte: " Está bem, mas são grandes trabalhadores!".
Não ripostei, mas enquanto ele julgava que eu o ouvia, ia pensando que, segundo os comunistas, ser 'grande trabalhador' será condição suficiente para ser autarca. E interrogava-me silenciosamente: "Mas isto não é fazer pouco de todos os que honestamente fazem pela vida?"
Nesse mesmo dia, quando cheguei a casa, fiz este soneto.

O GOSMA

Avança o gosma feito lince à espreita,
Matreiro a controlar o movimento,
Não surja tresmalhado impedimento
À trama desta vez quiçá perfeita.

Há-de ser presidente ou segundo-homem,
Para si uma ou outra coisa vale.
Ao ignaro por tolo não o tomem,
Ganhar reforma nédia o grande ideal.

Digam que apenas tem a quarta classe
Que contra dizem ser trabalhador
E sem haver à frente quem lhe passe.

O gosma rejubila com fervor
Sem ver contradição que o embarace,
Gerindo a estupidez a seu favor.

João Marafuga

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