30 março 2007

Abaixo o betão! Abaixo os mosquitos! Vivam os pássaros!



Conforme poderá ver-se numa carta geográfica – esta por exemplo – a parcela da Reserva Natural do Estuário do Tejo (RNET) coincidente com os limites administrativos do concelho de Alcochete compreende a quase totalidade das propriedades situadas à beira-rio (fora do perímetro urbano), sendo maioritariamente sapais e antigas salinas, estas improdutivas porque abandonadas.
Tal abandono dá-me voltas à cabeça, por conhecer regiões europeias com idênticas características e problemas onde se operaram quase milagres de recuperação e de conservação da Natureza, na maior parte dos casos com o generoso apoio de fundos comunitários.
Algumas dessas regiões são hoje notáveis pólos de atracção turística, fomentando receitas, emprego, conhecimento e prestígio.
Mais me surpreende a inacção alcochetana porque, pertencendo a maioria das salinas a privados e instituições de utilidade pública, natural seria que, de alguma maneira, os proprietários tentassem recuperá-las para outras finalidades, valorizando e rentabilizando esse património.



Lógico seria ainda surgir uma entidade dinamizadora desse processo, privada ou pública, considerando que o turismo da Natureza tem assinalável expansão planetária, que a RNET é a zona húmida mais extensa do território nacional e uma das mais relevantes na Europa, estando classificada como de importância internacional, inscrita na lista de sítios da Convenção de Ramsar (importante área europeia de aves) e sítio integrado na Rede Natura 2000.

O reconhecimento internacional da importância da paisagem que nos rodeia deveria potenciar iniciativas de valorização mas, por desinteresse, incapacidade ou falta de visão, enfiámos a cabeça no lodo e não reparamos que, ano após ano, as aves limícolas vão batendo em retirada porque ninguém mexe uma palha para as atrair.
Paralelamente, crescem motivos de preocupação com projectos urbanísticos megalómanos, a exploração ilegal de recursos, a saúde pública e a qualidade de vida.


O Parlamento Europeu e a Comissão Europeia acabam de servir-nos de bandeja mais uma oportunidade para arrepiar caminho.

Foi anunciado em Bruxelas (ver aqui o texto original, em inglês) um acordo para atribuir mais 785 milhões de euros aos fundos LIFE+, destinados a proteger as espécies selvagens mais ameaçadas da Europa.
Provavelmente, Portugal irá beneficiar de cerca de 22,2 milhões de euros, se apresentar projectos de qualidade relevante para a conservação da rede Natura 2000.

A nova regulamentação da concessão de fundos LIFE+ entrará em vigor apenas em Setembro e as candidaturas não deverão ser aceites antes do próximo Outono, pelo que há tempo suficiente para os alcochetanos se organizarem e estudarem a documentação existente neste sítio na Internet.
O novo fundo LIFE+ co-financiará projectos de protecção de habitats e de espécies prioritários em termos de conservação.
Proprietários e gestores de terrenos poderão candidatar-se a esses fundos, apresentando formas inovadoras de manter o valor natural das suas propriedades.

Os fundos LIFE+ nunca serão suficientes para uma gestão completa da nossa RNET, mas legalmente podem ser complementados com fundos estruturais, de desenvolvimento rural e das pescas.

Há instrumentos para emendar erros e impedir que outros agravem os anteriores. Mas ainda haverá alguém capaz de deitar mãos à única obra de que, com inteira justiça, nos poderemos vir a orgulhar no futuro?

29 março 2007

Mais um para a lista

Descobri hoje o blogue «Tony & Zezé», centrado em Samouco.
É feito por gente acordada e atenta.
Já está na lista da esquerda.
Força!

Campinos

Tributo que há muito desejava prestar e só agora pude concretizar.
Trata-se de uma selecção de imagens por mim obtidas entre 2001 e 2005, durante as Festas do Barrete Verde e das Salinas, organizadas em Alcochete pelo Aposento do Barrete Verde.
Clic no símbolo ao centro da imagem e veja a animação sonora realizada com imagens fotográficas em formato digital.
Desta vez não sou responsável pela má qualidade da imagem, porque o original está perfeito.


Conservação da Natureza de mal a pior

Se os portugueses fossem como os britânicos, por exemplo, na defesa dos sítios onde estão radicados, notícias como esta causariam agitação.
Cito da notícia parte de um único parágrafo: "(...) o Ministério do Ambiente assume o mau estado em que se encontram os parques naturais, mas a revolução estrutural que preparou (...) avança para a centralização dos recursos, correndo o risco de afastar ainda mais os técnicos do terreno".
Toda a gente vai assobiar para o lado e, portanto, a "nossa" RNET irá de mal a pior.
Lamento.

27 março 2007

Uma questão de cultura

Por uma questão de cultura – ou de falta dela, em minha opinião – o sítio da Câmara Municipal de Alcochete na Internet continua a ser desconsiderado como um dos "locais próprios do costume" para afixar coisas tão importantes como as listas de antiguidade dos funcionários da Câmara Municipal com referência a 31 de Dezembro de 2006, conforme aviso publicado no «Diário da República» de ontem.
Recordo que o art.º 95.º do Decreto-Lei n.º 100/99, citado no aviso acima referenciado, diz o seguinte:
"1 - As listas de antiguidade (...) devem ser afixadas em local apropriado, de forma a possibilitar a consulta pelos interessados.
"2 - A afixação pode ser substituída pela inclusão das listas em publicação oficial dos respectivos serviços".
Um sítio camarário na Web é uma publicação oficial. Mas como o legislador não a incluiu expressamente na lei...

E se for avante? (8)

A novela do outlet tem mais dois capítulos recentes.
O tribunal absolveu a empresa detentora do complexo na acção judicial movida pela sociedade que explorava os cinemas.
E alguns comerciantes continuam descontentes, mesmo depois da empresa britânica ter sido vendida aos americanos. Agora querem saber quem vai fazer a gestão do centro.
Por acaso sei que o coordenador de negócios dos outlet europeus do grupo será o antigo primeiro-ministro britânico (conservador), John Major. Só não sei se alguns comerciantes do outlet de Alcochete ficarão satisfeitos em sabê-lo, caso não o soubessem ainda.
Retrospectivamente, os capítulos anteriores desta novela podem ser acompanhados a partir deste texto.

26 março 2007

Inculcas marxistas

«...Sempre ouvi dizer que os santos são necessários à nossa salvação, Eles não se salvaram, Quem te disse tal, É o que eu sinto dentro de mim, Que sentes tu dentro de ti, Que ninguém se salva, que ninguém se perde, É pecado pensar assim, O pecado não existe, só há morte e vida, A vida está antes da morte, Enganas-te, Baltasar, a morte vem antes da vida, morreu quem fomos, nasce quem somos, por isso é que não morremos de vez...» (Saramago, José, Memorial do Convento, Círculo de Leitores, Lisboa, 1984, pág. 286).
Blimunda poderia concluir: sinto, logo existo. Se alguém julgar que este meu decalque cartesiano nada tem a ver com o "penso, logo existo", está muito enganadinho. Por ter, temos o verso de Fernando Pessoa: «o que em mim sente, 'stá pensando». Isto não surpreende porque Pessoa é um bom representante do empirismo moderno que, no fundo, deriva da filosofia de Descartes cujo cogito nega Deus, embora este filósofo e aquele poeta utilizem o conceito de Deus como crianças utilizam o lego para a construção de brinquedos.
Mas tal como se nota sem dificuldade, o que está em causa no trecho saramaguiano é, pela milésima vez, o ataque ao Cristianismo. Para este, a salvação estende-se a todos; para o gnosticismo, perfilhado por Saramago, a salvação reserva-se a um escol de eleitos, os tais pneumáticos ou espirituais.
A fala de Blimunda «...Que ninguém se salva, que ninguém se perde...», nada devedora à idiossincrasia feminina, é, muito naturalmente, de cariz materialista porque mera imanência a que sempre o gnosticismo nos conduz. Até parece que o humano é reduzido à esfera da Química pela lei de Lavoisier: «na natureza, nada se perde, nada se cria, tudo se transforma».
Quando depois se lê que «...O pecado não existe...», estamos na génese de todas as utopias que não contam com a criminalidade hereditária desde Tomás Morus (1478-1535) a Karl Marx (1818-1883).
Aparentemente, são espantosas as certezas de Saramago sobre a morte: «...morreu quem fomos, nasce quem somos...». Eu só sei que para morrer bem tenho que viver bem, isto é, no respeito por mim e pelo outro.
Finalmente, vem a talhe de foice lembrar que Blimunda, na pág. 47, o. c., tinha dito: «...Sei que sei, não sei como sei...». Esta fala, que surpreendentemente despreza as premissas, não joga com a passagem transcrita no topo.
Para todos os Saramagos deste mundo vale tudo para a consecução dos fins.

Laranjeiras amargas

Nota prévia
Há tempos que alimentava a secreta intenção de voltar brincar ao cinema. Por ser mais difícil que a fotografia e por guardar imagens insubstituíveis, captadas há 20 anos com uma velha câmara VHS-C. Com o fim anunciado dos vídeogravadores domésticos, chegou o momento de dispor de uma máquina digital para recuperar esse arquivo em DVD.
Porque desconheço blogues portugueses que, regularmente, apresentem documentos filmados pelos autores – o que não quer dizer que sejam inexistentes – posso estar a concretizar mais uma ideia inédita, pelo menos nos arredores.
Tecnicamente o resultado final não foi o melhor, pelo menos desta vez, porque a conversão de vídeo digital para a Internet exige recursos técnicos que ainda não possuo.



Laranjeiras da discórdia
O meu primeiro exercício filmado, mostrado acima (clicar no símbolo ao centro da imagem para ver o filme sonoro), teve por motivo as laranjeiras da avenida 5 de Outubro, em Alcochete, que podem ter os dias contados, segundo se diz por aí.
A obra faz sentido, porque candeeiros de iluminação pública e laranjeiras estão mal situados e prejudicam o estacionamento.
Mas suspeito que algumas árvores poderão acabar no lixo porque, mais dia, menos dia, a paragem de autocarros terá de avançar alguns metros no sentido ascendente da artéria, dado o novo desenho do passeio junto à lateral Sul da Igreja Matriz.

Já aqui se criticou – com inteira justiça, de resto – a situação actual: a paragem está mal posicionada, obrigando quem vem atrás do autocarro a esperar e, às vezes, a desesperar e buzinar.
Nada disto significa que concorde com a destruição de árvores de fruto que para muita gente têm valor simbólico. Dizem-me alguns avós da actualidade que, enquanto garotos, estavam proibidos de tocar nas saborosas laranjas, cujo destino era de índole social.

Não sou versado em fruticultura mas sei que as laranjeiras suportam, razoavelmente, as transplantações. Portanto, poderão ser preservadas e replantadas em local mais apropriado, mantendo-se intocável o seu simbolismo se houver um mínimo de imaginação.
Poderão ser recolocadas mais acima, por exemplo, porque do restaurante à artéria do acesso lateral ao cemitério não há árvore alguma.
Frente à fábrica Orvalho, em ambos os lados da avenida, existem... plátanos! E os do lado Sul parecem-me doentes.
Tratando-se da mesma artéria, lógico seria que as laranjeiras alindassem toda a sua extensão. Mas alguém decidiu, há anos, misturar alhos com bugalhos.
Não é caso único em Alcochete.



24 março 2007

Alguns políticos despertam

No dia 3 de Março escrevi este texto, que bateu um recorde de leituras neste blogue.
Foi mera coincidência, claro, mas no dia 7 apareceu uma primeira reacção política, conforme assinalei aqui.
Agora surge outra coincidência curiosa, porque a eleição dos órgãos dirigentes da concelhia socialista de Alcochete foi posteriormente fixada para o próximo dia 30 de Março.
Foi já entregue uma lista de candidatura, liderada pela deputada Teresa Dinis. Prevê-se que venha a aparecer uma segunda, esta afecta ao anterior presidente da câmara.

23 março 2007

Atenção: PDM em revisão!

Legalmente, estão repartidas pelo Estado, pelas autarquias e pelos cidadãos as responsabilidades da definição do modelo de ordenamento do território, em ordem a assegurar o desenvolvimento económico e social num quadro de sustentabilidade dos ecossistemas. Isto é, cabe a todos a definição de regras e princípios quanto à transformação de solo rural em solo urbano.
Relativamente aos municípios, o principal instrumento orientador da gestão territorial é o Plano Director Municipal (PDM), cuja elaboração é regulada pelo Decreto-Lei n.º 380/99, de 22 de Setembro. Complementarmente, existem também os planos de urbanização e os planos de pormenor, que não podem contrariar os princípios daquele.
Parece-me oportuno chamar a sua atenção para o Aviso n.º 5433-J/2007, assinado pelo presidente da Câmara Municipal de Alcochete e publicado na pág. 7836-(56) da edição de ontem do «Diário da República», anunciando o início de um novo período de discussão pública preliminar no âmbito do processo de Revisão do Plano Director Municipal.
De acordo com esse aviso, a "formulação de sugestões bem como a apresentação de informações sobre quaisquer questões que possam ser consideradas no âmbito dos estudos da revisão do Plano Director Municipal de Alcochete poderão ser apresentadas por escrito (por correio ou por mão própria) dirigidas ao presidente da Câmara Municipal de Alcochete", durante 30 dias úteis contados desde ontem (22 de Março).
Julgo que qualquer leitor deste blogue terá opinião formada sobre o modo como tem sido gerido, na última década, o ordenamento do território do concelho de Alcochete. E, pelos resultados visíveis, duvido que a maioria concorde com o PDM em vigor.
Pois bem, chegou a altura de os cidadãos debaterem o assunto e enviarem as suas opiniões à autarquia, devendo divulgar tal correspondência para que haja transparência no processo e se avalie o volume e o tipo de intervenções havidas.

Querem edifícios com mais ou menos de seis pisos? É aceitável construir em altura a menos de 200 metros da beira-rio? Aceitam que novas construções com área superior a 1000m2 e novos loteamentos tenham espaços verdes mínimos, a maioria deles constituída por relvado, arbustos manhosos e árvores que nunca darão sombra? Concordam com a construção de dezenas de vivendas ao lado de outras unifamiliares? As novas urbanizações deverão ou não ter garagens suficientes para parquear um mínimo de dois veículos por habitação? Podem essas garagens ser vendidas ou alugadas e transformar-se em oficinas e armazéns? Pode ser construído um posto de abastecimento de combustíveis em área urbana residencial consolidada? Onde deverão ser construídos novos parques e jardins públicos? E escolas? E o novo cemitério? Que fazer aos terrenos situados junto ao rio? E à praia de Samouco? E ao centro histórico de São Francisco? Deverão terrenos agrícolas transformar-se em urbanizações do dia para a noite? Estarão as principais artérias de escoamento de tráfego dimensionadas para uma população que rapidamente se aproxima dos 20.000 habitantes (o dobro de há 8 anos)?

Importa recordar que nos instrumentos municipais de gestão territorial estão compreendidas definições de matérias tão vastas e relevantes como áreas afectas à segurança e protecção civil, recursos e valores naturais, áreas agrícolas e florestais, estrutura ecológica, protecção do património arquitectónico e arqueológico, redes de acessibilidades, redes de infra-estruturas e equipamentos colectivos, sistema urbano, localização e distribuição das actividades económicas, orla costeira e zonas ribeirinhas, áreas protegidas e outros recursos territoriais relevantes para a conservação da natureza e da biodiversidade.

Ou seja, um PDM mexe com tudo e, portanto, todos têm uma palavra a dizer.
Apelo por isso à participação colectiva e cooperarei, na medida das minhas possibilidades, com quem queira usar este blogue para abordar e debater matérias respeitantes à revisão do PDM.
Espero sugestões e opiniões na caixa de comentários e publicarei todos os textos fundamentados que me sejam enviados (ver contactos na coluna da esquerda), desde que os autores se identifiquem. No entanto, respeitarei os pedidos de anonimato desde que tal seja solicitado.
Pela minha parte, nas próximas semanas darei público testemunho do que penso sobre o assunto.

Entendo deixar já expressas algumas críticas ao presidente da câmara, quanto à metodologia do processo.

Em primeiro lugar, estranho que ainda não considere o correio electrónico como instrumento ideal de comunicação entre os munícipes e a autarquia. Tratando-se de um edil com menos de 35 anos de idade, parece-me absurdo exigir-se correspondência em papel.
Em segundo lugar, devo chamar a atenção para o art.º 5.º do decreto-lei acima mencionado, o qual consagra o direito à informação e cujo ponto 1 está redigido nos seguintes termos: "todos os interessados têm direito a ser informados sobre a elaboração, aprovação, acompanhamento, execução e avaliação dos instrumentos de gestão territorial".
Desconheço ter havido divulgação prévia de qualquer informação esclarecedora da execução e avaliação do actual PDM. Muito menos quanto ao que vai na cabeça dos membros deste executivo (e dos que têm assento na câmara e na assembleia municipal em representação da oposição) acerca da gestão territorial no passado, no presente e no futuro. Tal deveria ter precedido a publicação do aviso acima mencionado, datado de há cinco meses, porque eles têm (ou deveriam ter) o direito legal de acesso a informação que nós desconhecemos!

Resultados da segunda sondagem

À pergunta «há quantos anos reside em Alcochete?», constante da segunda sondagem inserida, nas últimas semanas, na coluna à esquerda desta página do blogue, as respostas fornecidas deram os seguintes resultados:

Menos de 5 anos - 15%
de 5 a 10 anos - 20%
Mais de 10 anos - 50%
Não residente - 15%

Obviamente as respostas são voluntárias e, portanto, os resultados, embora curiosos, têm nulo rigor estatístico.

Está já disponível, também na coluna do lado esquerdo, a pergunta da terceira sondagem: parece-lhe correcta a nova localização das paragens de autocarros junto à Igreja Matriz de Alcochete?

22 março 2007

Aqui há Rato!


Correm rumores de que a câmara estará a preparar-se para prosseguir as obras na Av.ª 5 de Outubro, em Alcochete (para os antigos o Rato), destruindo as laranjeiras existentes no lado direito da artéria, no sentido ascendente.
Consta também que, se e quando tal suceder, haverá manifestação à porta da câmara.
Se o primeiro facto for verdadeiro, para evitar reacções adversas e novos motivos de impopularidade recomendo aos autarcas que, previamente, revelem o plano de obras e respectiva justificação de motivos.

Contas do nosso rosário

Está publicada no «Diário da República» de hoje, na pág. 7836-(56), a Listagem n.º 43-B/2007, respeitante a todas as adjudicações de obras públicas efectuadas pela Câmara Municipal de Alcochete durante o ano passado.
Vale a pena consultá-la, quanto mais não seja para memória futura.
Pelas minhas contas, as adjudicações respeitantes a compromissos assumidos em anos anteriores totalizam 261.397,16 euros.
Os restantes 121.389,48 euros aplicados serão, presumivelmente, iniciativa deste executivo. Estes respeitam à pintura exterior da igreja da Misericórdia (que bem precisa dela) e à reformulação do logradouro adjacente à nova biblioteca pública.

Tudo somado, o Município de Alcochete adjudicou, ao longo de 2006, obras no valor de 382.786,64 euros (pouco menos de 77 mil contos em moeda antiga), que corresponderão a menos de dois meses de salários do pessoal.

Parece-me crítica esta desproporção, que justificaria esclarecimentos complementares se se pretendesse, de facto, informar e envolver os cidadãos na gestão do município. Porque, constitucionalmente, os municípios "visam a prossecução de interesses próprios das populações respectivas" (Artigo 235.º, n.º 2 da Constituição da República Portuguesa).
Será entendimento generalizado que esse objectivo se esgota na gestão de serviços essenciais, na concessão de subsídios e no pagamento de ordenados ao pessoal?
Sou um simples cidadão observador e espero que as oposições se pronunciem e me esclareçam, visto que do lado do poder nada mais espero que o costume.

Noutra oportunidade abordarei o facto de, na mesma página do «Diário da República» acima referenciado, ter sido também publicado o Aviso n.º 5433-J/2007, respeitante ao novo período de discussão pública preliminar no âmbito do processo de Revisão do Plano Director Municipal, assunto que me parece justificar abordagem mais profunda.

16 março 2007

E se for avante? (7)


Só agora são do conhecimento público detalhes clarificadores do muro de silêncio que tem rodeado a disponibilidade total do espaço do outlet de Alcochete e a emissão da licença de utilização pelo município local.
Em primeiro lugar, um relatório de monitorização ambiental, publicado no sítio na Internet da CCDRLVT, referente ao período Setembro/Outubro de 2006.
Em segundo, o relatório final da comissão de acompanhamento, disponível no mesmo sítio, que apresenta uma panorâmica geral do processo desde 2004.

Particularmente no segundo, é patente ter havido um diferendo que se arrastou em 2004 e 2005 e só seria ultrapassado no início de 2006.

No primeiro documento dê especial atenção ao protocolo reproduzido entre as págs. 25 e 29, subscrito há nove meses pelo empreendedor, pelo presidente da Câmara Municipal de Alcochete e pelo Instituto de Conservação da Natureza, acordo imperativo por força da Declaração de Impacte Ambiental de 2002.
Porém, em menos de cinco anos esse foi o terceiro protocolo celebrado pelas mesmas entidades e incidindo sobre a mesma área sujeita a recuperação ambiental – o Sítio das Hortas – pelas razões que os interessados poderão ler no documento.
De permeio está a "famosa" Área C, com mais de 130.000m2, um antigo pomar rearborizado com espécies vegetais mediterrâneas e adaptado para usufruto dos visitantes do empreendimento, uma área maior que qualquer das outras melhor conhecidas: a Área A (espaço comercial) e a Área B (parque de estacionamento exterior).
Ver localizações demarcadas na imagem acima, extraída do Google Earth, realizadas por mim sem grande rigor.

Embora o outlet de Alcochete tenha sido concebido com características lúdicas e comerciais, até hoje as primeiras nunca existiram efectivamente.
Mais do que os cinemas e os concertos, a Área C e o Sítio das Hortas eram, potencialmente, os grandes pólos de atracção de clientes ao empreendimento, mormente de alcochetanos por não haver no concelho nenhuma área de lazer com características e dimensões semelhantes.

Os cidadãos de Alcochete ignoravam, até agora, detalhes que permitiriam esclarecer o protelamento da emissão da licença de utilização do maior outlet europeu.
Hoje já dispõem de alguma informação para ajuizar e, se assim o entenderem, exigir explicações.

Se lhe interessar a consulta de capítulos anteriores da novela surgida nos últimos dois meses, siga esta hiperligação.

15 março 2007

Outros autarcas para a Agenda 21 Local

Esta notícia despertou a minha curiosidade, por referir que as autarquias vão passar a ter um guia de referência para aplicar projectos de desenvolvimento sustentável no âmbito da Agenda 21 Local, segundo um projecto apresentado no Instituto do Ambiente.
Podia dar-me para pior: decidi investigar.

A Agenda 21 Local é uma iniciativa europeia, baseada em riquíssim
as experiências municipais (algumas nacionais), criada por haver um défice acentuado de participação dos cidadãos nas decisões locais.
A Agenda 21 Local considera ser necessário:
1. Re-democratizar a sociedade;
2. Envolver a população nas decisões que as influenciam no dia-a-dia;
3. Responsabilizar e aumentar os níveis de confiança.
Segundo as recomendações da Agenda 21 Local:
“Cada poder local deve entrar em diálogo com os seus cidadãos, organizações locais e empresas privadas e adoptar uma “Agenda 21 Local”. Através de processos consultivos e de estabelecimento de consensos, os poderes locais deverão aprender com os cidadãos e com as organizações locais, cívicas, comunitárias, comerciais e industriais e adquirir a informação necessária para elaborar melhores estratégias. O processo de consulta deverá aumentar a consciencialização familiar em questões de desenvolvimento sustentável.
Uma das condições prévias para os municípios aderirem à Agenda 21 Local é assinarem o Compromisso de Aalborg, aprovado a 10 de Junho de 2004, cujo primeiro ponto tem a seguinte redacção: "Nós, Autoridades Locais Europeias, unidas na Campanha Europeia de Cidades e Vilas Sustentáveis, reunidas na Conferência Aalborg+10, confirmamos a nossa perspectiva comum de um futuro sustentável para as nossas comunidades.
"A nossa perspectiva refere-se a cidades e vilas inclusivas, prósperas, criativas e sustentáveis, que proporcionam uma boa qualidade de vida a todos os cidadãos e permitem a sua participação em todos os aspectos relativos à vida urbana".

Infelizmente, o Município de Alcochete não está entre os 65 nacionais que já aderiram à Agenda 21 Local. Por muitas razões, deveria ser dos primeiros a aderir. Mas, até prova em contrário, optou por enfiar a cabeça na areia ou assobiar para o lado. Porquê?
Acha que este poder local está empenhado na re-democratização da sociedade? Tem demonstrado interesse no envolvimento da população nas decisões que a influenciam no dia-a-dia? Manifesta algum esforço em responsabilizar e aumentar os níveis de confiança?

Parece-lhe que, em Alcochete, o poder local está disponível para dialogar com os seus cidadãos, organizações locais e empresas privadas e adoptar uma Agenda 21 Local?
Admite que estes autarcas sejam atraídos pela possibilidade de aprender com os cidadãos e as organizações locais, cívicas, comunitárias, comerciais e industriais e adquirir a informação necessária para elaborar melhores estratégias? Estarão predispostos a desenvolver processos de consulta que aumentem a consciencialização familiar em questões de desenvolvimento sustentável?
Será este executivo municipal capaz de assumir os compromissos de Aalborg, proclamando, por exemplo, querer empenhar-se num futuro sustentável para a comunidade, estando disponível em contribuir para cidades e vilas inclusivas, prósperas, criativas e sustentáveis, que proporcionem uma boa qualidade de vida a todos os cidadãos e permitam a sua participação em todos os aspectos relativos à vida urbana?

É por causa disto que precisamos de outros autarcas, com uma nova cultura. Inovadores, corajosos, atentos, dedicados e dialogantes.
Acima de tudo que sejam capazes de romper com o presente.
Por onde andam as alternativas?
Apareçam quanto antes, até para o presente não parecer tão sombrio.
Tomem nota: a Agenda 21 Local é o prólogo de um programa de acção moderno.

13 março 2007

Quid est veritas?

A passagem de Saramago, José, Memorial do Convento, Círculo de Leitores, Lisboa, 1984, pág. 138, «Lembrai-vos de que quando Pilatos perguntou a Jesus o que era a verdade, nem ele esperou pela resposta, nem o Salvador lha deu, Talvez soubessem ambos que não existe resposta para tal pergunta, Caso em que, sobre esse ponto, estaria Pilatos sendo igual a Jesus, Derradeiramente sim...», força-me a declarar que o espírito pragmático de Pôncio Pilatos faz a Jesus a pergunta mais estúpida por mim alguma vez ouvida: o que é a verdade? (quid est veritas?).
Perguntar o que é a verdade é a mesma coisa que perguntar o que é uma janela, abertura de um espaço interior ao exterior para iluminar? Claro que não.
A verdade está num plano muito diferente do das coisas. Por outras palavras, a verdade faz parte do indefinível. É como o amor. Só por repetição, enumeração, metáforas, etc., será possível acender uma luzinha. Lembremo-nos do que fez Camões no soneto «amor é um fogo que arde sem se ver»: dada a impossibilidade de definição, o amor é mil coisas.
O encontro de Jesus com Pilatos representa o confronto de dois mundos antagónicos: um espiritualmente deficitário, outro cheio de Espírito Santo. Se o procurador romano da Judeia escutasse a verdade (veritas), deixaria de representar o papel trágico que lhe cabia no palco da História para se tornar seguidor do Nazareno. Ora isto seria deveras inverosímil, portanto contra a palavra (logos) do Evangelho.
O Império ou o que dele ia ficando levaria séculos a converter-se ao Cristianismo porque o poder, ontem como hoje, quanto mais estrebucha, menos muda.
A pergunta de Pilatos a Jesus foi retórica, isto é, não pedia a resposta, requisito atendido pelo Divino Mestre.

Sem surpresa

Em rodapé deste texto lamentei que o Dr. Simões Arrôs já não tenha idade para reabrir o hospital da Misericórdia de Alcochete.
Sem surpresa, verifico nesta notícia do DN que a União das Misericórdias Portuguesas tenta colmatar vazios sociais que o Estado continua a criar um pouco por todo o país.
Há sempre soluções alternativas, desde que as pessoas acordem e resolvam os problemas por si próprias.
Historicamente, o mutualismo tem um passado riquíssimo em Portugal. Até em Alcochete essa tradição é secular.
As questões que deixo à sua consideração são as seguintes: que sabe da Misericórdia de Alcochete? Que tem feito pelo renascimento local do mutualismo?
O papel social da Misericórdia de Alcochete esgota-se como asilo? Não poderia você interessar-se pelos seus problemas, revitalizá-la e fazê-la retomar rumos antigos, quando foi uma organização mutualista viva e actuante, em cujo hospital até se realizavam operações?

Destaque merecido

Não é normal, pelo menos em Alcochete e em tempos recentes, uma cantoneira de limpeza ser chamada a desempenhar, transitoriamente, funções de assistente administrativa, conforme consta da edição de hoje do «Diário da República».
Regozijo-me com o facto, pois certamente alguém lhe reconheceu qualificações para o efeito. Quem não gosta de tomar conhecimento de actos de justiça?
Fosse o executivo da câmara transparente a comunicar e explicar o fundamento das suas decisões, e caso se esforçasse, minimamente, no envolvimento dos alcochetanos na coisa pública – como prometera, de resto, o seu programa eleitoral – e actos destes teriam incalculável repercussão social e política se estampados no sítio do Município de Alcochete na Internet.
Todavia, esse sítio continua a ser encarado como órgão de propaganda e palanque de desfile de vaidades da vereação da maioria e seus apoiantes, o que é terrivelmente nocivo quando se atinge um período de acentuada queda de popularidade e a descrença se generaliza.
Será que apenas eu ando por aí, a conversar com quem me cruzo na rua, recolhendo sinais de que esta vereação e esta maioria se afundaram prematuramente?

12 março 2007

AVENIDA 5 DE OUTUBRO (2º CAPÍTULO)

Não sei se os mais perspicazes já repararam que a “nova” Av. ficou com menos estacionamento, pois quando se estacionava do lado esquerdo havia mais espaço. Logo um dos fins a que o novo projecto parece que se propunha (não haver carros por cima dos passeios e adro da Igreja) não se concretizou.

Mas o mais grave é que, pela forma como o estacionamento agora foi concebido e pela posição da paragem dos autocarros, sempre que um destes veículos pára, fá-lo no meio da estrada (o espaço que havia lateralmente para a sua paragem sem obstrução da via, deixou de existir) e havendo muito trânsito e muitos utentes para o autocarro, a fila atrás cresce a olhos vistos, gera-se um congestionamento e é ver e ouvir carros a apitar da esquerda (que vêm do Miradouro); da direita (que vêm do lado do Monte Novo); e da frente (que sobem o Largo de S. João). É um festival!

Problema semelhante acontece com a paragem colocada junto à Padaria Piqueira (passo a publicidade), pois também aqui o autocarro fica no meio da rua para apanhar os utentes e os carros que vêm do Miradouro e querem entrar no Largo Almirante Gago Coutinho ficam na fila, acabando por prejudicar o trânsito que quer ir pelas Barrocas.

Quem seria o inteligente que elaborou este projecto???

Uma dependência = uma árvore

Espero que os futuros candidatos à câmara de Alcochete inscrevam nos seus programas a promessa de plantar (ou obrigar a plantar) uma árvore por cada dependência de novo edifício construído.
T0=2 árvores; T1=4 árvores; T2=5 árvores;T3=6 árvores; T5=8 árvores
Mas uma árvore a sério e não uma palmeira barata!
É o mínimo que deve exigir-se, embora lá para a Europa do Norte haja regras mais apertadas, como a obrigatoriedade de os espaços verdes – os verdadeiros e não os que se fazem por cá, com um relvado e meia dúzia de arbustos manhosos, como o do novo supermercado – ocuparem 3/4 da área urbanizada.
Deixo essa promessa para os próximos candidatos porque dos actuais autarcas já não espero gestos nobres. Estes estão amarrados à cultura da casca, do betão e do alcatrão.
Recentemente descobriram também a da calçada, cujo expoente máximo é o troço da Av. 5 de Outubro a que se refere MariaLisboa neste texto.