Espero que, em Alcochete, futuros candidatos a autarcas ponham termo à fantasiosa ideia de convencer os poucos munícipes ainda vigilantes a obterem esclarecimentos de dúvidas que os atormentam sujeitando-se a relações de subordinação e de intervenção limitada.
Por exemplo, a de interrogar os seus representantes eleitos apenas em reuniões de câmara e assembleia municipal, no silêncio dos gabinetes ou via correio electrónico.
Tal ideia tem raiz medieval e nada mais visa senão desmobilizar as pessoas e prescindir do seu contributo para o debate e a resolução dos problemas.
Dada a proximidade, a relação cívica entre eleitos do poder local e eleitores tem de ser aberta, livre e amplamente interactiva. A democracia política funda-se nas virtudes da discussão. Os eleitos devem alimentar-se do dinamismo da sociedade e de uma vontade popular firme, coerente e activa.
Os representantes políticos precisam da confiança, da compreensão e de apoio popular para agir. Jamais os obterão vivendo numa torre de marfim ou ocultados por um biombo de formalismos.
Cerceando os limites infindáveis da democracia participativa fechar-se-ão sobre si próprios, menosprezando o contributo dos cidadãos e abrindo caminho a um perigoso ocultismo político.
Comodamente sentado atrás de um biombo de formalismos – opaco para a maioria das pessoas – o poder paralisa o dinamismo individual e torna-se suspeito a quem dele espera força vivificante e animadora.
O biombo afasta as pessoas e quem acredita nas virtudes da democracia participativa deve remover quaisquer barreiras.
Não conheço hoje melhor forma de dinamização de vontades e de consciências do que reproduzir, num boletim municipal singelo e na Internet, toda a informação relevante para a vida local: editais, avisos, decisões, projectos, protocolos, moções, intervenções políticas, licenciamentos, planos imobiliários, movimentos de pessoal, etc.
Refiro-me à reprodução integral dos documentos originais e não a referências indirectas que, longe de interpretarem fielmente aqueles, por vezes representam um biombo ainda mais obscuro.
Em relação à Internet, preconizo também a inclusão de perguntas e respostas relevantes de eleitores e eleitos. Nestes incluo os da oposição, porque qualquer eleito tem legitimidade para intervir nos meios informativos do município. Também nesse aspecto a democracia local tem sido doentia: os órgãos municipais são colegiais mas a informação veiculada é a dos vencedores.
Admito que, por vezes, intervenções de opositores e interrogações de eleitores serão delicadas. Mas difundi-las e responder-lhes sem peias burocráticas é uma das mais genuínas demonstrações de coragem, de integridade de carácter e de espírito democrático.
1 comentário:
Nesta encruzilhada da História da Humanidade, ninguém pense que é indiferente ser fulano, sicrano ou beltrano a apanhar o cargo de presidente de Câmara.
Se for um idiota últil, ele pode fazer o jogo de forças tenebrosas a nível local contra a herança dos nosssos maiores.
Mas como um presidente de Câmara pode ser peça desse jogo?
Se esse presidente de Câmara, em nome de coisas muito bonitas como, por exemplo, o ambiente, beliscar o direito de propriedade privada, será peça desse jogo; se não apoiar a cultura de raiz popular, será peça desse jogo; se implementar alguma medida que possa desfavorecer a espiritualidade cristã, a família, as tradições, etc., será peça desse jogo...
E perguntam-me: mas quem fará uma coisa dessas.
E eu respondo: quem tem um discurso de direita e milita num partido de esquerda, é o homem azado para a consecução do plano por mim aqui denunciado.
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