11 março 2008

Receita para um dormitório

Em comentário a um texto publicado há dias, Paulo Benito escrevia: "não entendo a pouca afluência de Alcochetanos ao programa cultural promovido pela Câmara. Algumas vezes são mais os artistas que a assistência. Verifico que está a ser feito um esforço financeiro significativo na área cultural, mas reconheço que sem público é difícil manter esta política. Tornei-me um consumidor assíduo destes eventos em Alcochete e a minha qualidade de vida aumentou. Obrigado às pessoas/entidades que me têm proporcionado isso".
Em meu entender, a ínfima audiência da maioria das manifestações de cultura pagas com fundos municipais resulta do facto de, na última década, em que ocorreu uma explosão populacional provavelmente única na história de Alcochete, ninguém ter apelado ao envolvimento dos novos moradores nas pequenas e grandes iniciativas, nas colectividades, nas realidades e na vida local, informando-os completa e devidamente acerca do que poderiam usufruir e ajudar a melhorar.
Do ponto de vista sociológico a opção foi tremendamente errada. Todavia, politicamente foi muito conveniente!
Se os recém-chegados se mantivessem distantes dos assuntos locais, subsistiriam os feudos partidários e o caciquismo reinantes há décadas. Até 1974 era de um tipo e daí em diante passou a ser de outro, embora nos efeitos perversos nada os distinga.

O anátema do desenraizamento fomenta o desinteresse e o distanciamento. Se as pessoas têm a cama aqui mas desconhecem o meio, as tradições, a cultura, a história e a realidade, distrair-se-ão com alternativas exteriores.
Para a maioria chegada na última década, Alcochete é um porto de abrigo. Por conveniência, são encarados como "estrangeiros". Vivem fora, cá dentro!
Assim se ampliou este grande salão com muitos leitos – a melhor definição actual para o concelho de Alcochete – o que em bom português significa dormitório.
A inexistência de qualquer semelhança entre a nossa vivência presente e uma comunidade de seres humanos parece-me evidente.

De nada serve estranhar que haja salas com mais artistas que espectadores. Tal como museus e exposições desertos. Colectividades adormecidas e moribundas.
Mais de 3000 cidadãos que, sendo nossos vizinhos, nunca actualizaram o recenseamento eleitoral, o que a ninguém parece incomodar demasiado embora tal afecte as transferências financeiras anuais do Estado para as autarquias locais.

Respondendo directamente a Paulo Benito e a quem não compreenda certos fenómenos: a câmara existe por nós e para nós e nela está, há muitos anos, o foco do problema. Se se gasta dinheiro em espectáculos sem afluência, desperdiça-se o que pagamos com sacrifício e prejudicando a satisfação de outras necessidades. O esforço financeiro é nosso!
Ao invés de agradecer, critico este estado de coisas.
Por exemplo: em 2006, o Município de Alcochete gastou 70,5€ por habitante em cultura e desporto, representando essas despesas 8,4% do total do ano. Em termos nacionais e regionais é excessivo, tanto mais que, conforme refere Paulo Benito e muita gente sabe, há espectáculos com mais artistas que audiência.

Revelei há algum tempo, neste blogue, que mesmo encerrado o fórum cultural custava ao município, em 2005, mensalmente, 10.000 euros.
Dentro em breve completará três anos de existência e não só continua com acessos e estacionamento inacabados como ainda se aguardam soluções visando cativar a maioria da população e tornar suportável a sua manutenção pela autarquia.
Mudar isto deve ser um desígnio de todos. Inclusive dos "estrangeiros", o que será impossível a quase 1/3 deles sem actualizarem o seu recenseamento eleitoral para Alcochete!

5 comentários:

Unknown disse...

Há aqui um "qui pro quo" que urge desfazer.
A Câmara não faz cultura, mas, à custa dos dinheiros públicos, propaganda ideológica. Quero dizer, partindo da pseudo-cultura, o que a Câmara faz é inculcar subrepticiamernte na mente das pessoas visões do homem e do mundo de natureza marxista.
O mais trágico no meio disto tudo é que as pessoas não acreditam, o que facilita sobremaneira todos os projectos dos comunistas na área focada.
Por exemplo, o teatro que muitas vezes aparece em Alcochete é o chamado teatro do absurdo. Este teatro caracteriza-se pela quase ausência de discurso, abundância de gestos, movimentos rápidos, barulhos, culto do corpo, etc. Em conclusão, este teatro induz-nos ao esquecimento da memória, condição "sine qua non" para o trinfo final da revolução.
De facto, a memória que os comunistas pretendem varrer da cabeça das pessoas opõe-se ao avanço dos contra-valores marxistas, razão por que urge matraqueá-las até à completa destruição da herança legada pelos nossos pais e avós.

Anónimo disse...

Sectarismo é doença?

Anónimo disse...

Claro que sim, Sr. Marafuga!E quem melhor que os Clã para difundir essa ideologia malévola e maquiavélica que é o comunismo?!?!

Poupe-nos, por favor!

Paula Pereira

Unknown disse...

Sempre que ataco os comunistas na medula, aparece esta Paula Pereira que não sei quem é - e quererei morrer sem saber quem é - a defender o indefensável.
Porque o problema é este: quem levará a vitória? Todos os valores cuja água rumorejante corre de antanho ou a inversão de todos eles para a instauração de uma nova ordem que não divisamos bem qual seja? Ora toda a gente atenta sabe que a resposta definitiva a esta pergunta tê-la-emos DENTRO dos próximos dez anos. Se ganhar a Paula, nem sequer o estatuto do "paulus" restará para mim. Mas a Paulinha não sabe Latim, razão por que não me está a perceber.
Esperem-na e vê-la-eis a destilar ódio contra mim em resposta a este post.

pontos disse...

Ainda bem que não me incluo neste grupo, pois das primeiras coisas que fiz quando me mudei foi ir fazer novo BI e recencear-me!
Nunca fiquei, nem acho que se deve ficar, sentada no sofá à espera que me venham dizer quais as propostas culturais e não só à disposição, mas faço por procurá-las. Sei que a divulgação está um pouco por baixo e a agenda cultural dava muito jeito, mas só isso não é razão.
Mas não sei se o problema ser´s só mesmo a falta de informação. Tenho por hábito ir às ofertas culturais dos concelhos limítrofes e posso dizer que já por várias vezes estive ao fim-de-semana a ver filmes no Auditório da biblioteca do Pinhal Novo e no Auditório do Seixal em que eu e o meu companheiro éramos os únicos espectadores! Deve-se por isso acabar com as ofertas culturais? Porque são caras? O
Posso tambêm acrescentar que já fiz parte de uma companhia municipal de teatro da zona oeste em que havia entradas livres para os espectáculos e também quase não havia público além dos amigos e conhecidos...
Falando por mim, não me custa nada pagar para continuar a ter espectáculos, mesmo com pouca afluência, custar-me-á sim é não ter espectáculos!