04 outubro 2007

Mau exemplo municipal em Alcochete


A quem reclamou por não conseguir ver a imagem identificada num comentário que coloquei no texto imediatamente anterior, da autoria de Luís Pereira, aqui está ela.
Este edifício pertence ao Património Municipal, está devoluto, abandonado e em elevado estado de degradação.
Situa-se nos n.ºs 24 a 28 da Rua Ciprião de Figueiredo (a artéria do Museu Municipal), na freguesia de Alcochete, estando classificado, desde 1992, como de interesse arquitectónico municipal.
No sítio na Internet da Direcção-Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais está registado com o n.º PT031502010007 do Inventário do Património Arquitectónico e o seu enquadramento é descrito como "urbano, adossado, no limiar do antigo burgo. Fachada principal abrindo para rua de circulação automóvel e com espaço de estacionamento em frente; fachadas laterais adossadas a prédios modernos, destoantes; fachada posterior abrindo para terreno baldio delimitado por muros; para este lado situa-se zona de recente urbanização".

A descrição fornecida é a seguinte: "planta rectangular, massa simples disposta na horizontal, cobertura homogénea em telhado de duas águas com larga chaminé, na aba posterior. Fachada principal a NE. de dois registos e três panos definidos por pilastras de cantaria, munidas de bases e mísulas; remate em cornija moldurada, coroada por platibanda de balaústres intervalados de plintos no prolongamento das pilastras dos alçados (estes rematados por urnas) e no eixo dos panos. Registo inferior rasgado no pano lateral esquerdo por janelão enquadrado por arco de volta perfeita, assente em pilares, ladeado por outro janelão mas sem arco; pano central rasgado por duas portas com bandeiras curvas protegidas por gradaria de ferro forjado, pintada de branco, tendo assinaladas as inscrições "5 d'Junho" uma e "1872" a outra; o pano lateral direito repete o esquema do seu oposto. Piso nobre definido por cornija e sanca de cantaria, rasgado nos panos extremos por duas janelas de sacada munidas de gradaria de ferro forjado, e no corpo central por janelas idênticas mas unidas por sacada comum de varandim apoiado em mísulas lavradas e gradarias de ferro forjado. Todas as janelas são de verga circular com chave de fecho, com molduras de cantaria; no piso nobre as ombreiras apresentam incipientes bases e capitéis unidos entre si por moldura saliente ao correr da fachada. Gradarias e caixilharias pintados de cor verde e branca; portadas de cor verde. Fachada posterior igualmente de dois pisos, sendo o inferior de pano único rasgado por, da direita para a esquerda: janela rectangular de molduras de pedra, enquadrada por arco em ressalto semelhante ao seu oposto na fachada principal; porta de verga poligonal com chave de fecho e ombreiras semelhantes à anterior; janela igual à do 1º vão mas sem arco reentrante; afronta este alçado murete baixo com gradaria de ferro forjado entre pilares simples; no extremo esquerdo desta fachada o corpo de escadaria de dois lances, com degraus de pedra e corrimão em ferro forjado que se prolonga na gradaria da varanda, que corre todo o piso superior, e que se apoia em mísulas simples; este piso é rasgado por 6 vãos idênticos, alternando porta janela, esquema a-b-a-b; remate em cornija e beirado saliente".

Tipologia
Arquitectura civil, oitocentista, revivalista, neoclássico. Revivalismo neoclássico patente no alçado principal austero, enriquecido pelas grades em ferro forjado e alguns elementos decorativos, e animado sobretudo pelo rigor no rasgamento e tratamento dos vãos, que encontra correspondência no alçado posterior. A decoração da platibanda e as janelas em arco perfeito são elementos típicos da paisagem urbana alcocheteana. A localização do imóvel, então no limiar do antigo burgo e estabelecendo uma eficaz ligação com este, corresponde às transformações operadas na estrutura da vila a partir do Séc. 18 (a aristocracia deixa de visitar a vila abandonando os prédios urbanos que aí possui), quando se passam a adaptar e alterar as construções já existentes ao mesmo tempo que se criam zonas de exploração agrícola na periferia imediata ao centro urbano, respondendo à intensificação da produção em particular agrícola.

Características Particulares
O rigor no desenho das fachadas apontando para um arquitecto de sólida formação dentro da arquitectura revivalista de finais de oitocentos.

Outra informação conhecida
Neste edifício funcionaram, na década de 60 do século passado, a primeira sede e a "sopa dos pobres" da Fundação João Gonçalves Júnior e, posteriormente, o Centro de Saúde.

Bibliografia útil
Questões de actualidade. O Extinto Concelho de Alcochete e os seus antigos munícipes, Aldeia Galega, 1897; COSTA, Cor. Eduardo Avelino Ramos da, O Concelho de Alcochete, 1902 (2ª edição, Alcochete, 1988); PEREIRA, Esteves e RODRIGUES, Guilherme, Dicionario Historico, chorografico, heraldico, biographico, bibliographico, numismático e artístico, Vol. 1, Lisboa, 1904; COSTA, Américo, Dicionário Chorografico de Portugal Continental e Insular, Vol. 1, Porto, 1929; CUNHA, Francisco Leite da, Subsídios para a História de Alcochete, A Voz de Alcochete, Novembro de 1948; CRUZ, João Luís da, Concelhos Ribeirinhos da Margem Sul do Tejo, Estremadura - Boletim da Junta de Província, n.º 38 - 40, Lisboa, 1955; ESTEVAM, José, O Povo de Alcochete. Apontamentos históricos sobre a terra e o pessoal, Lisboa, 1950; IDEM, Anais de Alcochete. dados históricos desde o séc. XIII, Lisboa 1956; NUNES, Luís Santos, Vila de Alcochete e seu concelho, 1972; NABAIS. António J. C. M., Foral de Alcochete e Aldeia galega (Montijo) - 1515, Alcochete - Montijo, 1995; GRAÇA, Luís Maria Pedrosa dos Santos, Edifícios e Monumentos Notáveis de Concelho de Alcochete, Lisboa, 1997.

1 comentário:

Alcochetano disse...

Existem várias instituições alcochetanas que se interessaram no local para sua utilização como sede social, chegando mesmo ao ponto de elaborarem de projectos de melhorias ao edifício sem que fosse necessário colaboração da CMA.

Resposta da CMA: Nenhuma!

No entanto, as portas do edifício continuam fechadas até apodrecerem.