A propósito do atraso no pagamento dos compromissos contratuais do Estado com o Município de Alcochete, gostava de poder demonstrar solidariedade aos autarcas com funções executivas. Porém, o caso parece-me demasiado nebuloso.
Aponto três causas principais para este sentimento:
1. Os mesmos autarcas que, há meses, mandaram colocar nas caixas de correio um papel contestando opiniões de dirigentes de agremiação desportiva de Samouco, até ao momento entenderam dispensável o uso de qualquer meio de informação do município para se dirigirem directamente aos cidadãos e explicarem o assunto em detalhe;
2. Dessa ausência de informação factual e objectiva queixara-se já um vereador da oposição (PS), em sessão de câmara, razão pela qual os três representantes dessa força política decidiram não votar uma moção proposta pelo executivo;
3. Contudo, dias depois, sobre o mesmo assunto seria votada, por unanimidade, uma moção na Assembleia Municipal. Muitos dias passados sobre esta sessão, PS e PSD entenderam desnecessário explicar aos seus 3.099 votantes nas últimas eleições autárquicas o que qualquer cidadão atento interpretará, no mínimo, como estranho.
O teor da moção mudou entre a sessão de câmara e a do órgão deliberativo? Há no município grupos socialistas antagónicos? Os dois eleitos do PSD alinharam porquê?
Parecem-me erros excessivos de comunicação política em Alcochete, flagrantemente contraditórios com profissões de fé nas virtudes do envolvimento dos cidadãos nas matérias autárquicas.
Naturalmente, desses incompreensíveis comportamentos resultarão consequências negativas, como distanciamento e indiferença dos cidadãos, desprestígio dos partidos, descrédito das pessoas eleitas e fragilização da democracia representativa.
Acredito que muitos alcochetanos se sentirão magoados enquanto forem tratados pior que camelos. Porque a estes os beduínos fornecem comida e água, em troca dos serviços prestados. Aos cidadãos de Alcochete saca-se dinheiro e pedem-se votos, mas entre mais de três dezenas de eleitos nem um(a) único(a) sente ter o dever de se explicar sobre coisa alguma.
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