11 julho 2007

Camelos ou beduínos? (2)

A 28 de Maio escrevi este texto, tal como vários outros desde Dezembro passado, a propósito de casos pontuais de quebra de pressão da água de consumo público em Alcochete.
Perante o ruidoso silêncio dos responsáveis, desde então eu próprio tentei investigar o assunto, contactando algumas pessoas que me tinham feito chegar indicações acerca do problema.
Consultei também o Regulamento do Serviço de Distribuição de Água, cujo art.º 48.º despertou a minha particular atenção: "A Câmara Municipal procede oficiosamente à substituição do contador uma vez em cada período de 5 anos e sempre que tenha conhecimento de qualquer anomalia".
Sendo munícipe e consumidor há muito mais de cinco anos, no meu caso jamais a câmara procedeu à substituição dos contadores instalados no prazo previsto.
Suspeitando que o mau estado dos contadores poderia ser a causa das queixas, pedi a duas pessoas com insuficiente pressão de água que me permitissem acompanhar a progressão da contagem dos respectivos aparelhos, ao longo de alguns dias.
Resultado: os contadores estão inoperacionais, não contam coisa alguma e, presumivelmente, impedem o fornecimento normal de água.
Isto porque, tendo num dos casos sido já pedida a substituição do contador, de imediato cessaram os problemas. O contador estava bloqueado devido à visível acumulação de barro!
A anomalia pode ter origem em obras de reparação na rede ou qualquer outra causa desconhecida que alguém deveria esclarecer, sendo caso disso.

Deixo um alerta aos restantes munícipes com problemas de pressão de água: vigiem atentamente a evolução da leitura dos vossos contadores. Se notarem que, em condições de utilização normal, passados alguns dias não houve alteração significativa dos valores apresentados, peçam de imediato a sua substituição.
Ninguém se iluda, porque o regulamento de água prevê métodos para determinar consumos não facturados e a conta posteriormente apresentada pode ter um valor surpreendente se a paragem do contador for longa:
"Artigo 56.º
"Em caso de paragem, funcionamento irregular ou de ausência de leitura do contador, o consumo de água é avaliado por estimativa, tendo em consideração:
"a) O consumo médio apurado entre duas leituras consideradas válidas;
"b) O consumo registado em equivalente período do ano anterior, quando não existir a média referida na alínea anterior;
"c) A média do consumo apurado nas leituras subsequentes à instalação do contador, na falta dos elementos mencionados nas alíneas anteriores".
De tudo isto resultam algumas perguntas óbvias, que deixo à consideração de quem de direito: então a câmara compromete-se a proceder à substituição do contador uma vez em cada período de 5 anos e não cumpre essa norma? Na câmara ninguém sabe que o barro introduzido nas canalizações é susceptível de bloquear os contadores? Na câmara não há ninguém disponível para analisar o histórico de consumos dos munícipes, nem repara que, durante vários meses consecutivos, se numa casa habitada não há consumo de água registado tal pode indiciar eventual anomalia no contador?
Já agora, se algum munícipe nunca o fez, levante a tampa do depósito da água ou abra o autoclismo e repare na quantidade de barro acumulado nas paredes e dispositivos que regulam o funcionamento do aparelho. Fiquei pasmado!
Porque a água é um bem público escasso, quero que o município continue a ser a única entidade responsável pela captação, tratamento e distribuição de água ao domicílio. Enquanto puder, farei tudo o que estiver ao meu alcance para que assim seja por muitos e longos anos.
No entanto, considero inaceitável que num serviço essencial à vida humana haja anomalias como as acima descritas e que um departamento municipal não cumpra aquilo que os órgãos autárquicos aprovaram.
A qualidade do serviço é, nos dias de hoje, um valor distintivo das organizações, sejam elas públicas ou privadas.

2 comentários:

Unknown disse...

Devo aqui dizer que há tempo considerável pago importâncias insignificantes de água. Por exemplo, nos últimos dois meses paguei 2.99 euros de consumo do precioso líquido.
A semana pasada mudaram-me o contador, mas daí para cá a esquentação da água não é a mesma. Será do novo aparelho de medição ou do calor que ultimamente se faz sentir? Vamos ver!

Fonseca Bastos disse...

Considerando que uma factura de água no valor de 2,16€ corresponde apenas a taxas fixas de disponibilidade, provavelmente o seu contador também estava louco.
Se após a mudança de contador nota a água mais quente, não é do estado do tempo mas da pressão da água. Aliás, a dificuldade em obter água quente de um esquentador a funcionar correctamente é possível indício de que não há pressão suficiente de água.
Nesses casos, convém vigiar o funcionamento do contador da água (anotando as leituras ao longo de alguns dias). Além disso, se o valor das últimas facturas apresentadas for inferior à média habitual do agregado familiar (por exemplo, um ano antes), é possível indício de que o contador emperrou. E, neste caso, pode bloquear a entrada de água na rede doméstica.