Porque houve um comunicado distribuído nas caixas de correio de residentes, significativo número de alcochetanos saberá que a Associação Desportiva Samouquense (ADS) pode encerrar uma vez mais.
É a segunda vez que, nos últimos anos, uma instituição se dirige directamente aos residentes, não para pedir o seu apoio e empenho – o que seria normal embora, surpreendentemente, seja muito raro – mas para algo menos prosaico: criticar um executivo municipal.
A primeira foi a Misericórdia de Alcochete e a acção teve, como é sabido, um efeito político devastador. Porque não foi nem pelo trabalho nem pela qualidade dos autarcas que a CDU alcançou ampla maioria municipal, em Outubro de 2005, mas por essa acção de "agit-prop". Ainda não se chegou a meio do mandato e a factura começa a ser paga, o que deveria suscitar atempada reflexão nas suas hostes.
Agora o cerne do problema é que a ADS está bloqueada, aparentemente, porque quem lidera a sua Comissão Administrativa não parece ser simpático à maioria localmente eleita há menos de dois anos.
Descreio no encerramento definitivo dessa colectividade porque, desde sempre, os problemas têm sido sobretudo políticos. Logo que o terreno fica livre para avançarem protagonistas afectos às maiorias do momento, a ADS acaba por dar a volta por cima e sobrevive, melhor ou pior, durante mais uns tempos.
Em boa verdade, porém, a crise na ADS é a ponta de um enorme problema que antigos e actuais membros de órgãos municipais conhecem mas sempre se recusaram a enfrentar: as colectividades dependem demasiado dos humores de quem está no município.
Embora a criação de instituições associativas seja, há muitos anos, desnecessária e proporcional ao desinteresse que pela maioria nutrem os residentes, continuam a aparecer novas quase mensalmente. Vulgarmente, delas só há conhecimento porque surgem ligadas a manifestações organizadas ou patrocinadas pelo município, o que pressupõe poder haver na sua génese inexplicáveis conveniências políticas.
A verdade é que dezenas de colectividades existentes no município de Alcochete sobrevivem, sobretudo, da subsídio-dependência municipal. A regra é generalizada, contando-se pelos dedos de uma mão as reuniões camarárias anuais sem atribuição de subsídios a colectividades.
Está por demonstrar a representatividade e o interesse público da esmagadora maioria, raras se esforçam por ter gestão rigorosa e equilibrada com meios próprios e algumas mais parecem feudos privados de quem quer mandar em algo para se evidenciar.
Se houvesse equidistância municipal os subsídios seriam excepção e concedidos apenas mediante a satisfação de determinadas condições, nomeadamente a proporcionalidade de sócios com quotas em dia face à população residente ou desde que garantida participação significativa de praticantes locais ou de residentes em manifestações por elas organizadas.
Enquanto a maioria da população viver alheada de tudo – inclusive de colectividades imprescindíveis, o que me parece particularmente grave – e os dirigentes associativos pouco ou nada fizerem para a cativar, enfrentarão tremendas dificuldades. Agravadas, nomeadamente, sempre que os seus dirigentes desagradam a executivos municipais.
Eu não deveria pagar impostos, taxas e licenças para o município subsidiar instituições sem representatividade, que dispensam o apoio e o empenho da população e cujo interesse público nunca foi demonstrado.
Pago tudo o que me exigem com imenso esforço e sinto-me agredido quando vejo o dinheiro ser malbaratado inutilmente.
4 comentários:
Viva,
Sou Samouqueiro (como bem sabem!) e sinto-me honrado com o destaque que por vezes vocês dão ao que se passa no Samouco em particular e no concelho em geral.
Em relação ao encerramento da ADS, tb já fiz a minha parte ao colocar esse enredo, no ''meu'' blog.
Não imagina como concordo com aquilo que escreveu, destaco o seguinte e passo a citar "as colectividades dependem demasiado dos humores de quem está no município". Acrescento ainda que dentro dos muitos problemas da ADS destaco um: - quase todos os membros do CA da ADS são de fora, e isso faz confusão a muita gentinha, gente que gosta de criticar no alto do buraco feito no sofá lá da sala onde passam dias e noites a fio a comentar as ultimas dos morangos e mandar calar os fedelhos que correm em seu redor! É caso para dizer “não fazem nem deixam fazer” , raios parta a esta mentalidade de província e este espírito antidemocrático!
Por ultimo de deixar um palavra de apreço pelo vossos post na generalidade, de isenção e sempre com critica construtiva!
Abraço e um grande bem Haja.
"keep on the good work"
Viva Tony!
Sei que quase todos os membros do CA da ADS são "de fora". E sei muito mais coisas do passado recente da ADS, que decidi não reproduzir. Espero que quem está melhor documentado sobre o assunto sopre mais forte no trombone.
Sei também que o anátema de ser "de fora" tem servido para os caciques desmobilizarem quem ainda tenta remar contra a maré. Isso é particularmente notório em Samouco e o caso da ADS é um bom exemplo.
Pena é que haja poucos "de fora" dispostos a fazer uma revolução e a acabar de vez com o caciquismo.
É urgente que os "de fora" se cheguem à frente e apareça uma nova geração de intrépidos alcochetanos sem receio de enfrentar os caciques.
Sigo o vosso blogue e espero que o prossigam com determinação!
Obrigado pelo encómio.
FAÇAM O FAVOR DE LER O COMUNICADO QUE A CÂMARA EMITIU... E DEIXEM-SE DE TRETAS!!!!
Gostava que o Tony agora se manifestasse. A ADS encerrou. Onde est�o agora os "de fora". Pasa a ADS c� para Alcochete porque isso a� n�o d� nada.
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