13 agosto 2007

A propósito da noite da sardinha assada

Agradeço que ninguém tome o que se segue como uma crítica à organização das Festas do Barrete Verde e das Salinas, porque sei bem e reconheço o esforço e a dedicação com que tão poucos dirigentes, amigos e voluntários do Aposento do Barrete Verde contribuem para o divertimento geral.
Move-me apenas o desejo de que, no futuro, residentes e não residentes saibam distinguir churrascos públicos e privados e, desse modo, muito mais gente participe e se sinta envolvida numa festa colectiva.
Abordo o assunto, sobretudo, porque ontem escutei por aí várias conversas sobre esta questão e por eu próprio me ter apercebido, pelo segundo ano consecutivo, que algo corre menos bem e a responsabilidade não cabe à organização.
Como é sabido, na noite da sardinha assada a organização das Festas do Barrete Verde e das Salinas distribui, no centro histórico da vila de Alcochete, fogareiros, carvão e sardinhas que, graciosamente, põe ao dispor das dezenas de milhar de pessoas que aí afluem.
Sucede que, abusivamente, logo após a distribuição dessas vitualhas pelo recinto, há grupos organizados de residentes (e não só) que puxam os fogareiros para o pé da porta, guardam caixas de sardinhas e apropriam-se daquilo que, com tanto esforço e dedicação, a organização colocou ao alcance de todos.
Até porque campeia indisciplina generalizada acerca dos locais de venda de bebida e comida e armam-se balcões ou barracas na rua de forma desregrada, inaceitável e sem qualquer benefício directo ou indirecto para a organização. Por mais estranho que possa parecer, algumas das pessoas e organizações envolvidas nisso apropriam-se do que o Aposento do Barrete Verde pôs ao dispor de todos!
É claro que, quando chega a meia-noite e toda a gente procura abeirar-se dos fogareiros, dificilmente se distingue quais são os públicos e os privados.
Numa primeira reacção, as pessoas seguem adiante em busca de alternativas. Mas depois de darem duas voltas à zona histórica da vila e não entenderem o que está a passar-se – nem ninguém ter sequer a gentileza de convidar os passantes a juntar-se ao convívio e a envolver-se na festa – muita gente acaba frustrada e decide regressar a casa quando o pé lhe puxava para a folia.
Este ano saí um pouco mais cedo para a rua e procurei observar a logística e os movimentos de pessoas em pontos distintos do circuito de distribuição.
Sinceramente, desagradou-me o que testemunhei logo a seguir à passagem do veículo que procedia à distribuição das vitualhas. Não é justo, nem aceitável, que se desvie o que a todos é oferecido.
Por volta das 00h30, no triângulo entre o Largo de São João, a sede do Aposento do Barrete Verde e o Largo Coronel Ramos da Costa, somente em dois locais qualquer pessoa entendia poder usufruir livremente do que a organização pusera ao dispor de todos.
Alcochete sempre foi uma terra de gente simples e hospitaleira. E a noite da sardinha assada é, nos dias de hoje, quase a única oportunidade de, colectivamente, se demonstrar que essa tradição não está perdida.
Mude-se então o comportamento, porque a gula e a mesquinhez de alguns tem consequências e será prejudicial a todos.
Para ser bem sucedida, a noite da sardinha assada depende do espírito de entreajuda entre organização, colectividades e moradores do centro histórico de Alcochete. Além disso, o que a todos é oferecido a todos pertence.
O mínimo que se pede a um(a) verdadeiro(a) alcochetano(a), nessa noite, é estar atento(a) a quem passa e procurar envolver muita gente no convívio. A festa é popular e creiam que vale a pena ser simpático, até com desconhecidos.

3 comentários:

Anónimo disse...

Correcto este depoimento.Lamento que assim seja e senti o desagrado de milhares de visitantes que nada comeram enquanto alguns tinham as travessas cheias de sardinhas do Barrete Verde.

Anónimo disse...

Isto apenas confirma aquilo que já há uns anos venho afirmando, e que me valeu até o estatuto de personna non grata junto de alguns lobbies tauromáquicos alcochetenses: Alcochete transforma-se numa anarquia durante as Festas de Agosto.
Durante esses dias, as esplanadas dos cafés ocupam a via pública de tal forma que nem resta espaço para os peões circularem, sem que ninguém se digne a fiscalizar; qualquer morador pode montar um bar à porta de casa, e facturar a seu bel-prazer, sem que exista qualquer licença para tal, com evidente prejuízo para os proprietários de bares e cafés; qualquer morador pode fechar uma rua inteira para montar a esplanada do seu restaurante ou da sua casa ou do seu bar (vide início da Rua Ruy de Sousa Vinagre/ Beco dos Correios, Rua António Maria Cardoso, Beco das Canas, Largo da República, etc etc); o vómito e o odor a urina abundam pelas ruas da vila (é até comum ver, durante o dia, à descarada, energúmenos a urinar de encontro às paredes – fora das Festas não seria um atentado ao pudor?!); os amontoados de bosta de cavalo são em número avassalador pelas ruas, inclusive ruas que não pertencem ao Centro da Festa – e depois fazem-se campanhas de recolha de dejectos caninos...
Já conheço as Festas há perto de 40 anos, e, muito sinceramente, não me recordo da bandalheira ser tanta como de há uns 3 ou 4 anos para cá. A continuarem assim, não sei onde irão parar as Festas. E porquê? Porque quer o Aposento do Barrete Verde, quer a Câmara Municipal, se demitem das suas funções fiscalizadoras deste tipo de acontecimentos; ambos se limitam apenas a montar as Festas e deixá-las decorrer sem entraves (umas Festas bem liberais, portanto!).

Soares

Anónimo disse...

Bem fiz eu que me "caguei" para as festas e fui passar fora umas boas férias. Alcochete para além de não oferecer nada de novo e de qualidade mostra a sua mesquinhês nesta altura