Agradeço que ninguém tome o que se segue como uma crítica à organização das Festas do Barrete Verde e das Salinas, porque sei bem e reconheço o esforço e a dedicação com que tão poucos dirigentes, amigos e voluntários do Aposento do Barrete Verde contribuem para o divertimento geral.
Move-me apenas o desejo de que, no futuro, residentes e não residentes saibam distinguir churrascos públicos e privados e, desse modo, muito mais gente participe e se sinta envolvida numa festa colectiva.
Abordo o assunto, sobretudo, porque ontem escutei por aí várias conversas sobre esta questão e por eu próprio me ter apercebido, pelo segundo ano consecutivo, que algo corre menos bem e a responsabilidade não cabe à organização.
Como é sabido, na noite da sardinha assada a organização das Festas do Barrete Verde e das Salinas distribui, no centro histórico da vila de Alcochete, fogareiros, carvão e sardinhas que, graciosamente, põe ao dispor das dezenas de milhar de pessoas que aí afluem.
Sucede que, abusivamente, logo após a distribuição dessas vitualhas pelo recinto, há grupos organizados de residentes (e não só) que puxam os fogareiros para o pé da porta, guardam caixas de sardinhas e apropriam-se daquilo que, com tanto esforço e dedicação, a organização colocou ao alcance de todos.
Até porque campeia indisciplina generalizada acerca dos locais de venda de bebida e comida e armam-se balcões ou barracas na rua de forma desregrada, inaceitável e sem qualquer benefício directo ou indirecto para a organização. Por mais estranho que possa parecer, algumas das pessoas e organizações envolvidas nisso apropriam-se do que o Aposento do Barrete Verde pôs ao dispor de todos!
É claro que, quando chega a meia-noite e toda a gente procura abeirar-se dos fogareiros, dificilmente se distingue quais são os públicos e os privados.
Numa primeira reacção, as pessoas seguem adiante em busca de alternativas. Mas depois de darem duas voltas à zona histórica da vila e não entenderem o que está a passar-se – nem ninguém ter sequer a gentileza de convidar os passantes a juntar-se ao convívio e a envolver-se na festa – muita gente acaba frustrada e decide regressar a casa quando o pé lhe puxava para a folia.
Este ano saí um pouco mais cedo para a rua e procurei observar a logística e os movimentos de pessoas em pontos distintos do circuito de distribuição.
Sinceramente, desagradou-me o que testemunhei logo a seguir à passagem do veículo que procedia à distribuição das vitualhas. Não é justo, nem aceitável, que se desvie o que a todos é oferecido.
Por volta das 00h30, no triângulo entre o Largo de São João, a sede do Aposento do Barrete Verde e o Largo Coronel Ramos da Costa, somente em dois locais qualquer pessoa entendia poder usufruir livremente do que a organização pusera ao dispor de todos.
Alcochete sempre foi uma terra de gente simples e hospitaleira. E a noite da sardinha assada é, nos dias de hoje, quase a única oportunidade de, colectivamente, se demonstrar que essa tradição não está perdida.
Mude-se então o comportamento, porque a gula e a mesquinhez de alguns tem consequências e será prejudicial a todos.
Para ser bem sucedida, a noite da sardinha assada depende do espírito de entreajuda entre organização, colectividades e moradores do centro histórico de Alcochete. Além disso, o que a todos é oferecido a todos pertence.
O mínimo que se pede a um(a) verdadeiro(a) alcochetano(a), nessa noite, é estar atento(a) a quem passa e procurar envolver muita gente no convívio. A festa é popular e creiam que vale a pena ser simpático, até com desconhecidos.
3 comentários:
Correcto este depoimento.Lamento que assim seja e senti o desagrado de milhares de visitantes que nada comeram enquanto alguns tinham as travessas cheias de sardinhas do Barrete Verde.
Isto apenas confirma aquilo que já há uns anos venho afirmando, e que me valeu até o estatuto de personna non grata junto de alguns lobbies tauromáquicos alcochetenses: Alcochete transforma-se numa anarquia durante as Festas de Agosto.
Durante esses dias, as esplanadas dos cafés ocupam a via pública de tal forma que nem resta espaço para os peões circularem, sem que ninguém se digne a fiscalizar; qualquer morador pode montar um bar à porta de casa, e facturar a seu bel-prazer, sem que exista qualquer licença para tal, com evidente prejuízo para os proprietários de bares e cafés; qualquer morador pode fechar uma rua inteira para montar a esplanada do seu restaurante ou da sua casa ou do seu bar (vide início da Rua Ruy de Sousa Vinagre/ Beco dos Correios, Rua António Maria Cardoso, Beco das Canas, Largo da República, etc etc); o vómito e o odor a urina abundam pelas ruas da vila (é até comum ver, durante o dia, à descarada, energúmenos a urinar de encontro às paredes – fora das Festas não seria um atentado ao pudor?!); os amontoados de bosta de cavalo são em número avassalador pelas ruas, inclusive ruas que não pertencem ao Centro da Festa – e depois fazem-se campanhas de recolha de dejectos caninos...
Já conheço as Festas há perto de 40 anos, e, muito sinceramente, não me recordo da bandalheira ser tanta como de há uns 3 ou 4 anos para cá. A continuarem assim, não sei onde irão parar as Festas. E porquê? Porque quer o Aposento do Barrete Verde, quer a Câmara Municipal, se demitem das suas funções fiscalizadoras deste tipo de acontecimentos; ambos se limitam apenas a montar as Festas e deixá-las decorrer sem entraves (umas Festas bem liberais, portanto!).
Soares
Bem fiz eu que me "caguei" para as festas e fui passar fora umas boas férias. Alcochete para além de não oferecer nada de novo e de qualidade mostra a sua mesquinhês nesta altura
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