28 agosto 2007

Pobre rádio local


Penso ter passado despercebido que o executivo municipal de Alcochete decidiu, em sessão de câmara de 13 de Junho passado, pôr fim ao protocolo celebrado no mandato anterior com a cooperativa Alcoojor, detentora do alvará da emissora local «Eco FM», para a realização de um programa sobre a actividade municipal.
Numa vereação de sete elementos (quatro da CDU e três do PS), a decisão foi aprovada somente pelos da maioria e fundamenta-se num parecer jurídico que – estranhamente, ou talvez não – os munícipes não podem consultar na Internet, embora faça, expressamente, parte da acta.

Sobre o assunto, a versão electrónica da acta da sessão de câmara contém somente o seguinte:

"Pelo Senhor Presidente foi apresentada uma proposta, elaborada de acordo com o parecer n.º 314/07, da Divisão Jurídica e de Fiscalização, que aqui se dá por integralmente reproduzido e que desta faz parte integrante como Doc. 3.
"Submetida à discussão e votação, a Câmara deliberou aprovar a presente proposta, por maioria, com 3 votos contra do PS e 4 votos a favor da CDU.
"O Senhor Vereador José Dias Inocêncio fez a seguinte declaração de voto, em nome do PS: «Votamos contra a proposta de denúncia do protocolo, entre a Câmara Municipal de Alcochete e a “Alcoojor”, devido ao seguinte:
"As razões não se prendem com razões objectivas, mas subjectivas, pelo facto de a pretensa quebra de audiências e alteração do estatuto editorial, não terem sido devidamente comprovadas.»
"Pelo Senhor Presidente foi prestada a seguinte informação: «A denúncia do protocolo entre a Câmara Municipal de Alcochete e a Cooperativa de Comunicação Alcoojor, fundamenta-se em factos que correspondem ao conceito da programação em vigor, existindo a percepção de um decréscimo significativo de audiência, o que constitui um prejuízo para a estratégia de comunicação da autarquia, a que acresce ainda o facto de esse instrumento jurídico (protocolo em apreço) consubstanciar uma aquisição de serviços cuja legalidade se afigura duvidosa por não terem sido cumpridos os requisitos e pressupostos concursórios que permitem a adjudicação, pela Câmara Municipal, desses mesmos serviços e que urge corrigir.»

A denúncia do protocolo com a emissora local entender-se-á como um ajuste de contas entre as actuais maioria e oposição se, por exemplo, se souber que, durante sete anos, o penúltimo chefe da edilidade (CDU) nunca se deslocou às suas instalações e que, nesse período, o último (PS) investiu nela quantia significativa.

Mais um facto lamentável, de que me apercebi há semanas, foi deparar com o automóvel da estação parado, com teias de aranha, no Largo João da Horta, em Alcochete. Hoje já lá não está.

Todos os estudos teóricos e práticos que conheço – e muitos são acessíveis via Internet – coincidem na conclusão de que as emissoras locais têm papel insubstituível nas comunidades em que se inserem, nomeadamente nos campos da informação e da divulgação, se com elas tiverem íntima ligação.
Nada tenho a ver (nem nunca tive) com a emissora local e não mantenho qualquer relação com dirigentes, colaboradores ou empregados, mas por muitas razões sou sensível aos seus delicados problemas.
À luz destes e outros pressupostos, entendo que a acima transcrita informação do chefe da edilidade é insensata e imprudente.
Deveria assumir uma posição política exemplarmente construtiva mas, com argumentos inconsistentes, limitou-se a lançar um balde de cal sobre o cadáver.
Parece-me mau serviço prestado à comunidade.

Aproveito o ensejo para chamar a atenção do(a) leitor(a) deste blogue que o controlo dos meios de informação tem sido, localmente, um dos pilares políticos do poder. Esteja atento(a) e verá como tenho razão.

P.S. – Este texto mereceu referência nos sítios radioinforma.no.sapo e A Rádio em Portugal. Grato.

1 comentário:

Anónimo disse...

É o que dá existir rádios 100% automatizadas por um computador (o caso da ECO FM), com uma emissão completamente amorfa. É sempre mais do mesmo...