Dizem os historiadores que, por volta de 1672, enquanto os donos das marinhas de sal de Alcochete se queixavam de intromissões de "zangarros" estrangeiros no negócio, os habitantes de Lisboa tinham engendrado uma curiosa forma de protesto contra os autos-de-fé da Inquisição: deitavam para a rua toda a porcaria que tinham em casa, deixando a cidade imunda.
Actualmente, em Alcochete, parece-me haver ainda quem tenha saudades desses e doutros tempos menos recuados, em que se colocava o vaso da noite à porta para o carro de bois da câmara recolher os dejectos e lançar no rio.
Está nas actas do município que isso sucedeu até, pelo menos, meados da década de 40 do século passado, quando se construiu a primeira rede de saneamento básico da vila hipotecando o orçamento de três anos.
Ainda agora não é raro observar alguém a despejar baldes de água suja na rua. Há até quem o faça, regular e diariamente, da varanda abaixo, originando pequenos charcos que os mosquitos transformam em maternidade.
Provavelmente nem valerá a pena explicar a essa gentalha a insentez e incivilidade de tais actos, porque o mais certo seria replicarem que esta é a sua terra e fazem o que bem lhes apetece.
Mais estranho me parece não haver forma de penalizar quem nada aprendeu na escola e na vida, porque no Município de Alcochete continua inexistente um regulamento de higiene e limpeza pública. Se houvesse talvez fosse fácil, também, exigir aos proprietários a limpeza de terrenos devolutos, tendo em conta o bem-estar dos vizinhos, o asseio público e condições de higiene, bem como a salubridade e segurança públicas.
Os autarcas poderiam nem ter dinheiro para "mandar cantar um cego" mas, pelo menos, observar e estudar minudências do dia-a-dia, aproveitando o tempo para redigir, publicar e fazer cumprir normas que pusessem na ordem alguns (felizmente poucos) munícipes incivilizados.
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