30 janeiro 2008

Malditos amontoados de gente!


Em finais do século passado, prometia-se fazer de Alcochete a "Cascais do séc. XXI" mas davam-se facadas nas costas dos alcochetanos com o mamarracho da Av.ª dos Combatentes (aquele edifício com ar de hospital, situado entre a ex-fábrica de cortiça e o miradouro Amália Rodrigues) e as urbanizações dos Flamingos, dos Barris, da Praia dos Moinhos, do Cerrado da Praia (cuja segunda fase está em construção) e várias outras nas três freguesias do concelho.
Circule-se em qualquer dessas urbanizações, à noite ou nos fins-de-semana, para perceber as consequências do planeamento autista da maioria dos dormitórios locais, onde metade dos residentes dependem da "garagem estrela" para estacionar o automóvel. Observe os edifícios de ambos os lados e repare que 2/3 dos veículos existentes ocuparão a via pública.
O disparate continua imparável até hoje e ninguém parece disposto a pôr-lhe termo. Há cerca de um mês, abordei caso recente neste texto.
Como poderá comprovar quem aceder a recentes actas do executivo da câmara, continua a permitir-se construção habitacional com estacionamento livre e coberto para menos de dois veículos por fogo, quando inúmeras famílias já possuem três e mais.
Entre 1991 e 2005 a população residente aumentou para mais do dobro. A média actual é de 2,1 habitantes por fogo. Sobretudo desde a abertura da ponte Vasco da Gama, a 29 de Março de 1998, acumulam-se erros indesculpáveis de planeamento urbanístico.
Alcochete passou de vila pacata a reino da balbúrdia no estacionamento em novas áreas residenciais: automóveis sobre os passeios, deficientes e mamãs com carrinhos sem saber por onde andar em segurança, miúdos em patins e skate a brincar nas faixas de rodagem por insuficiência de espaços adequados perto de casa.
Realidades facilmente perceptíveis mas ignoradas pelos eleitos, nenhum dos quais sugere e muito menos impõe o aumento das áreas de estacionamento próprio e as destinadas a recreio e convívio.

O caos instala-se e, fatalmente, cada tentativa de pôr ordem nas coisas suscita um coro de protestos. Os erros vêm de trás e a solução ideal era demolir tudo e voltar ao princípio. Qualquer acção, além dessa, representa mero paliativo.
Contudo, consultados os programas eleitorais de que existe rasto, há mais de uma década que nenhuma força política ignora lindas promessas, como "crescimento sustentado e qualidade de vida", "requalificação urbana e ambiental", "especulação imobiliária e fundiária que urge claramente repudiar", etc. Assim se alimenta o ego e angariam votos de distraídos.
E após as eleições?
Os vencidos tratam da sua vida e esquecem compromissos fúteis e fátuos.
Os vencedores andarão quatro anos, de "calças na mão", a juntar dinheiro para as despesas fixas mensais, que engolem 70% ou 80% do orçamento. Desesperados, autorizam tudo porque cada licença de construção gera receitas significativas imediatas. Densas cortinas de fumo ocultarão essa luta inglória de sobrevivência política.
Em tudo isto vislumbra-se "a prossecução de interesses próprios das populações", conforme consta do texto constitucional?

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