03 janeiro 2008

ASAE, restaurantes e cafés



Não foi a primeira vez que o presidente da ASAE afirmou – tal como na última edição do semanário «Sol» – que metade dos restaurantes e cafés portugueses são incapazes de cumprir regulamentos comunitários e não têm viabilidade económica.
Também dissera termos quase o dobro da média europeia dos estabelecimentos similares, afirmação que prendera a minha especial atenção pelo contra-senso de existir, há muitos anos, uma coisa chamada Iniciativas Locais de Emprego (ILE).
Trata-se de subsídios de desemprego convertidos em capital-semente para a criação de pequenas empresas e postos de trabalho, na origem de boa parte dos restaurantes e cafés abertos na última década.
No caso específico de Alcochete, basta consultar as actas da câmara dos últimos cinco anos para avaliar o impacte desses subsídios no licenciamento de restaurantes e cafés. Mas se Portugal e Alcochete os têm em excesso, que deverei pensar quando constato que as ILE continuam a privilegiar esses negócios e não há notícias locais de pareceres camarários contrários?
Graças às conveniências de multinacionais alimentares, à cegueira dos "eurocratas" de Bruxelas e Estrasburgo e dos burocratas mudos e surdos de Lisboa, certo é que inúmeros empresários hoteleiros e postos de trabalho de Alcochete estão na corda bamba. Com a agravante de os restaurantes serem o único pequeno comércio ainda florescente nestas paragens. Contudo, a sua sobrevivência está em risco e implica mudanças.
A solução correcta seria um associativismo propiciador do encerramento dos pequenos, incómodos e mal equipados estabelecimentos actuais, raros dos quais terão condições para satisfazer a ASAE e cumprir as regras do sistema HACCP.
Sou menos severo que os fiscais e, confesso, há anos que frequento os mesmos três ou quatro restaurantes que me suscitam confiança até prova em contrário.
O entendimento e a partilha de conhecimentos, de interesses e de capitais da maioria dos actuais empresários permitiria acautelar o futuro, erguer maiores e melhores explorações agrícolas e pecuárias, boas e assépticas unidades hoteleiras e similares, contratar pessoal especializado, promover a cozinha local em larga escala e encarar o futuro com algum optimismo.
Alcochete tem a rara potencialidade de ser, na região da Grande Lisboa, um dos concelhos em que da horta, do pomar e da agro-pecuária à mesa do consumidor distam poucas centenas de metros. Alguém pensou na mais-valia que isto significa? Alguém tem coragem de dar um passo em frente?
É este o meu entendimento após consultar sítios na Internet (como o da segurança alimentar), nos quais me informei acerca do "famoso" Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controlo (do inglês HACCP, Hazard Analysis Critical Control Points), modelo preventivo para alimentos inócuos, sustentado na aplicação de princípios técnicos e científicos na produção e manuseamento dos alimentos desde o campo até à mesa do consumidor.
O sistema HACCP tem sido mais um foco de tensões num país em que os cidadãos estão em pé-de-guerra com o Estado por muitas outras razões justas.
Mas há três opções e venha o Diabo para as escolher: saímos da Comunidade Europeia? Acaba-se com o Estado? Faz-se uma revolução?

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