12 dezembro 2007

Fábrica vira urbanização (2)


Há quase um ano escrevi texto relacionado com o encerramento da fábrica de cortiça Orvalho, agora em processo de desmantelamento para que o espaço seja ocupado por urbanização habitacional.
Negócio rendoso para o loteador e melífico para autarcas com funções executivas no município de Alcochete, porque 92 habitações em edifícios de quatro pisos rendem, do dia para a noite, muitíssimo mais dinheiro que a fábrica de derivados de cortiça ali implantada durante 53 anos.
Todavia, a longo prazo todos perderemos muito com o encerramento de mais uma unidade industrial em Alcochete. Para já, dezenas de habitantes locais foram privados dos postos de trabalho. Uns engrossarão o desemprego e outros o exército de ociosos que povoa incómodos bancos de jardim.
Pouco importa tal se às mentes "brilhantes" do Largo de São João interessa, acima de tudo, juntar dinheiro para inaugurar "elefantes brancos" à beira de eleições locais. Com tanta gente distraída isso poderá até perpetuá-los no poder e a perda de empregos é coisa menor nos dias de hoje.
No entanto, vale a pena recordar que Manuel Joaquim Orvalho criou esta fábrica em Novembro de 1954, para a preparação de granulados de cortiça. Concretizava então o sonho de se tornar industrial, num terreno adquirido ao preço de 5$00 o metro quadrado, erguendo a fábrica munido de um simples contrato-promessa de venda do espaço.
Venho hoje recordar que, no texto escrito há um ano, levantava três questões ainda sem resposta:
1. Ninguém explicou as razões da ida dessa unidade industrial para outro concelho. Era evitável, ao que parece, pois assisti a trocas de mimos entre autarcas – cujos papéis estão hoje politicamente invertidos nos órgãos de município de Alcochete – e penso serem devidas justificações pelos protagonistas no processo, quase todos ainda no exercício de funções autárquicas;
2. Quanto ao estacionamento de veículos, o novo loteamento está mal dimensionado. A área total sujeita a intervenção é de 25.460 m2 e a de construção acima do solo de 12.800m2. A previsão de lugares de estacionamento próprio coberto é de 200, a que se adicionam mais 222 lugares de parqueamento na via pública. É pouco, muito pouco espaço para estacionar automóveis numa zona já hoje visivelmente crítica. Tenho a certeza que, em menos de cinco anos, haverá veículos arrumados sobre passeios, como sucede noutras urbanizações de construção recente;
3. Até hoje a autarquia nada disse sobre o que pensa fazer com os exíguos 14.485m2 cedidos para infra-estruturas e espaços verdes. Falta saber, de resto, de que infra-estruturas se trata e qual a área efectiva destinada a zonas verdes e de lazer, excepto haver a intenção de que o actual estacionamento de veículos na Rua do Norte (no Bairro das Barrocas, entre a igreja da Senhora da Vida e o Museu de Arte Sacra) transite para essa nova urbanização.

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