05 junho 2007

O maior desperdício


Há ano e meio, quando iniciei este blogue, escrevi um texto acerca das opções de localização do novo aeroporto para servir a Área Metropolitana de Lisboa.
Acabara de ler os relatórios então disponíveis na Internet – coisa que, suponho, a maioria jamais terá feito – e deles depreendi que a decisão financeira, técnica e politicamente correcta seria Rio Frio, porque, ao contrário da localização na Ota, além de não haver limitações de segurança e operacionais relevantes, aí o aeroporto poderia funcionar e expandir-se durante mais de meio século.
Convém lembrar, a propósito, que o actual aeroporto da capital tem mais de 60 anos de existência. Na década de 40 apresentava o aspecto que a imagem acima reproduz.
Meio século é tempo suficiente para estudar, planear e desenvolver o território metropolitano até à fronteira Leste, com base numa nova plataforma aeroportuária, decisão urgente e oposta à que o sr. Mário Lino defendia, recentemente, no célebre discurso do "deserto", também comentado mais abaixo.
E isto por ser errada a tendência das últimas três décadas, de termos a maioria da população concentrada numa estreita faixa litoral, com cerca de 50kms de largura, entre Viana do Castelo e Setúbal.
Poucas coisas mudaram nos 19 meses decorridos desde que escrevi aquele texto, excepto o aparecimento de novas ideias de localização, tais como Poceirão, Faias e Campo de Tiro de Alcochete. E em todas elas cabe um aeroporto do tamanho da cidade de Lisboa (8.000 hectares).
Veio-me isto à memória, a noite passada, no final do longo debate no programa «Prós e Contras». Duvido que muitos telespectadores tenham resistido até às duas da madrugada. E foi pena porque se falou, entre outras coisas, também de Alcochete.
Pela primeira vez, num debate televisivo, fez-se alguma luz sobre um tema complexo e delicado. E parece-me ter-se clarificado muita coisa nebulosa, como aquele novo empreendimento logístico espanhol, em Castanheira do Ribatejo, viabilizado após representantes do Estado prometerem que o aeroporto iria mesmo para a Ota.
Pequeno mas significativo exemplo de que os dados parecem viciados e o jogo talvez não seja inteiramente limpo.
Infelizmente, no debate passou-se ao lado de muitas questões para mim intrigantes, como a das taxas a cobrar a companhias aéreas e passageiros pela utilização do futuro aeroporto da Área Metropolitana de Lisboa.
Creio que, devido aos custos muitos superiores se o empreendimento se localizar na Ota, as taxas aeroportuárias serão excessivamente elevadas, o que diminui a sua competitividade e inviabiliza a possibilidade de termos uma plataforma transatlântica de carga e passageiros no eixo de algumas das mais movimentadas rotas aéreas mundiais.
A questão das taxas aeroportuárias é, na actualidade, uma das mais críticas, até pelo exemplo que passo a expor.
Hoje, por uma viagem de ida e volta Lisboa-Londres, em voo regular e para dois passageiros adultos, as companhias aéreas mais baratas cobram à roda de 220 euros. No entanto, acresce um sobrecusto de 180,98 euros de taxas aeroportuárias.
Repare-se que dois aeroportos dividem entre si quase metade daquilo que os passageiros gastam, cobrando um preço excessivo para movimentar duas malas de 20kgs e, eventualmente, pagar o papel higiénico, o sabonete e a água consumidos numa fatal ida aos sanitários (quando há tempo para isso).
Bem sei que, pelos exemplos dados no final do programa televisivo por um dos intervenientes, nós parecemos um país das Arábias. Mas estamos de tanga (perdão, de parra!) e pagamos caro os inúmeros disparates políticos dos últimos 25 anos.
E o maior de todos talvez seja já irreversível.

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