11 junho 2007

Aeroporto: processo a seguir (4)

O sr. Mário Lino, autor do tristemente célebre "discurso do deserto", deu hoje vagas esperanças a quem julga que o novo aeroporto da Área Metropolitana de Lisboa não deve ser construído na Ota.
Disse-o no parlamento, lendo um texto cuja versão original deve ser lida aqui.
A mim parece-me que a localização na Ota é, desde há anos, decisão política irreversível e que, com este aparente compasso de espera, apenas se ficará a saber que, por 1001 razões, o Campo de Tiro de Alcochete não pode ser considerado como alternativa.
Conheço o campo de tiro e algumas áreas envolventes, assim como documentos fundamentais respeitantes às Reservas Naturais dos estuários do Tejo e do Sado (ambas integradas na rede europeia Natura 2000 e na
Lista de Sítios da Convenção de Ramsar) e, sem muita dificuldade, prevejo uma dúzia de justificações para um parecer técnico negativo.
Daí que encare o suposto compasso de espera de seis meses, para a análise comparativa entre Ota e Campo de Tiro de Alcochete, sem o optimismo que tenho visto estampado em certos rostos.
E creio que pessoas com responsabilidades políticas a nível local deveriam começar por se justificar junto de quem lhes confiou o poder. Não me consta que tenha havido, em Alcochete, um único esclarecimento ou debate público sobre o assunto, embora me pareça prudente que, em matérias delicadas, previamente se tome o pulso à opinião pública. Porque os riscos são enormes quando se rema em sentido oposto ao desejo da maioria.
Gostaria de recordar que, mesmo a nível político, o assunto é controverso. Até agora, quantos autarcas socialistas da Península de Setúbal deram a cara no debate "Ota versus campo de tiro"? Nenhum! Só gente da CDU. Inclusive, a presidente da câmara de Montijo saiu em defesa do aquífero de Poceirão (considerado a maior reserva de água da Península Ibérica, o qual, segundo técnicos da especialidade, também abrange o campo de tiro e se estende até à Ota).
De aviação civil sei o suficiente para recomendar muita cautela e caldos de galinha, porque se um aeroporto intercontinental bem planeado e gerido pode potenciar o desenvolvimento de extensas áreas envolventes, também implica condicionamentos e problemas cuja complexidade a maioria (autarcas incluídos) estará muito longe de prever.
Leiam-se na Internet, por exemplo, petições e movimentos de cidadãos residentes em torno de aeroportos como Barajas (Madrid), Charles de Gaulle (Paris), Zurique (Suíça) ou Heathrow (Londres). Assim como casos de alguns modernos aeroportos europeus que se têm revelado verdadeiros fiascos, nomeadamente porque as taxas cobradas a companhias de aviação e passageiros são exageradas. Já escrevi aqui sobre o assunto e não me alongarei agora na matéria.
Era bom que, a nível local, se principiasse por informar e esclarecer a opinião pública, embora me pareça que um aeroporto vizinho de Alcochete é fogo-fátuo.

3 comentários:

Unknown disse...

Estes homens conseguem tirar-me do sério!
Há vinte anos o alargamento do Campo de Tiro de Alcochete mexia com patos e flamingos; mas parece que hoje a construção de um aeroporto intercontinental no mesmo Campo de Tiro já não mexe com as ditas aves! Então onde está a coerência destes homens? A isto chamarão eles pragmatismo, mas eu chamo oportunismo.
Não será tempo de abrirmos todos os olhos?

Anónimo disse...

A Ota não parece ser decisão política irreversível, assim indiciam as notícias de hoje na televisão sobre visita da vice-presidente da Quercus ao Campo de Tiro de Alcochete.
A Quercus coloca ambas as opções Ota e Campo de Tiro em pé de igualdade. Ambas más no que respeita aos impactes ambientais.
Em todas as outras perspectivas Alcochete ganha.

Unknown disse...

O que diz o anónimo imediatamente anterior tem tanto de inocente como a minha repulsa pelos ambientalistas.