18 maio 2007

Carta aberta ao comentário anónimo

Caro amigo, o teu discurso é um chorrilho de asneiras sem conto. Desculpa lá a franqueza, mas o melhor é que seja assim!
Vou fazer o levantamento e desmistificação de algumas das tuas asserções sem que não me sinta humilhado.
Começas tu : «A Humanidade é uma construção social e cultural...». Eis-nos perante a centralidade do homem, ou seja, da criatura. Isto, caro amigo, não é humanismo mas sim uma degenerescência humanista porque nenhum vulto dos séculos XV e XVI pensou que o homem se constrói a si mesmo. O antropocentrismo de um Pico Della Mirandola, por exemplo, não exclui Deus.
O meu caro amigo da evolução da Língua Portuguesa não sabe nada. Então a nossa poesia trovadoresca que vem de fins do séc. XII não é português? Essa é boa! O Renascimento o que fez foi reaproximar muitas palavras do étimo (origem). Numa cantiga de amor, o meu amigo pode ler dino, mas em Camões já lê digno, regressão que recupera o adjectivo latino dignu. Se o meu amigo quer saber a minha opinião sobre isto, obviamente que lastimo o trabalho dos clássicos quinhentistas na área focada, mas como sei olhar para o classicismo com um mínimo de cientificidade, encolho os ombros, porque a História não é aquilo que eu desejava que fosse, mas aquilo que é.
Claro que este meu realismo não me inibe de tentar neutralizar os efeitos nefastos das obras de alguns humanistas ao longo dos séculos. Por exemplo, o legado do humanista Zamenhoff (séc. XIX), fundador do Esperanto, não só ajuda o marxismo como me parece corporizar uma acentuada vertente maçónica. Já estou a ver o meu amigo a atirar-se aos ares com todo o denodo, mas não tenhas medo porque eu, cá em baixo, amparo-te a queda.
Crendo dar uma grande novidade a um professor de Língua e Literatura Portuguesas que, pachorrento, te dá troco, o meu amigo grita eureka! e escreve: «...grandes vultos da História da nossa Literatura como Camões e Gil Vicente escreviam também em Castelhano». Com certeza que escreviam porque o público-alvo deles estava na corte que era bilingue por força dos sucessivos casamentos entre as famílias reais de Portugal e Castela.
O Português em Timor não é só uma opção política. É também opção histórica, cultural e de afirmação geo-estratégica face à Indonésia e Austrália, uma vez que a Lusofonia tem peso no Mundo.
Julgará o meu amigo que me surpreende com as loucuras anti-civilizacionais que vêm do Brasil, país desgovernado pelos comunistas do PT (Partido dos Trabalhadores)? Portuganhol para mim não passa de uma palavra promíscua. Ou bem que temos Português ou bem que Espanhol. Se o meu amigo diz lua, temos Português; se diz luna, fala como nuestros hermanos. E só há duas hipóteses: ou daqui lua e de lá luna ou um destes referentes se sobrepõe ao outro. De facto eu não vejo maneira de portuganholizar o signo que refere o nosso satélite natural. Entre o Português e o Castelhano há diferentes estruturas de ordem fonética e morfo-sintáctica que delimitam o espaço linguístico daqueles dois idiomas. O mesmo não acontece com o Galego-Português porque não há diferenças estruturais, linguisticamente falando, para lá e para cá do rio Minho. Em conclusão, o poderio político-militar e cultural de Madrid não conseguiu matar o Galego, o Catalão, o Basco, etc. Quase sempre querer não é poder.
A ideia de que o Latim é uma língua morta sempre foi combatida por mim perante os meus alunos. Quando o sangue da nossa mãe nos corre nas veias, como vamos considerá-la morta? A língua latina é a mãe da nossa língua. Entre esta e aquela apenas se interpõe uma transparente e finíssima película que deixa ver as mudanças mas também as origens. Olho para a palavra véu, vejo duas vogais (a segunda em rigor semi-vogal), logo reparo que em Latim entre aquelas vogais houve uma consoante porque temos velar (cobrir com véu). Então coloco o "l" entre o "e" e o "u", obtendo velu. Esta palavra latina é o étimo de véu.
Diz ainda o meu amigo: «...seria preferível uma língua ideal [...] a termos uma única língua inglesa no mundo». O que é uma língua ideal? Eu cá não sei! Quanto à crescente progressão do Inglês pelos quatro cantos da Terra, o que preocupa o meu amigo é a visão conservadora do homem e do mundo levada por este idioma a todo o lado. Tu sabes que o marxismo só pode triunfar à escala planetária se a espinha dorsal anglo-saxónica for quebrada. Ora, caro amigo, eu não acredito que isso venha a acontecer assim em três tempos. E também não acredito no Estado laico total. Aqui, o meu amigo, entre as linhas, destila ódio contra a Igreja Católica, talvez porque esta instituição multi-secular defende a autonomia do Estado face à hierarquia eclesiástica, mas recrimina o Estado imoral, isto é, sem regras.
O meu amigo mistura Esperanto com marxismo sem desperdiçar o ingrediente maçónico, acumulando ódio das três frentes contra o mesmo alvo.

7 comentários:

Anónimo disse...

Este seu texto suscita-me uma questão que, admito, poder ser filha de alguma ignorância.
De qualquer modo ei-la:
- os defensores, advogam que a "cultura dos touros" se inscreve na cultura portuguesa;
- neste seu texto refere, a propósito do expressar-se em português ou em castelhano que:

"Ou bem que temos Português ou bem que Espanhol. Se o meu amigo diz lua, temos Português; se diz luna, fala como nuestros hermanos. E só há duas hipóteses: ou daqui lua e de lá luna ou um destes referentes se sobrepõe ao outro. De facto eu não vejo maneira de portuganholizar o signo que refere o nosso satélite natural. Entre o Português e o Castelhano há diferentes estruturas de ordem fonética e morfo-sintáctica que delimitam o espaço linguístico daqueles dois idiomas."

Então pergunto: a terminologia usada na tal cultura dos touros, de cariz "castelhana" não contraria o cariz português de que a reputam? O seu marcado pendor castelhano não a subtrai à matriz cultural tradicional portuguesa? Não será a cultura do touro, tal como é praticada um resquício de “acastelhamento” resultante da corte quinhentista “que era bilingue por força dos sucessivos casamentos entre as famílias reais de Portugal e Castela”?

Anónimo disse...

Boa anónimo, dá-lhe!

Unknown disse...

Quais defensores? E defensores do quê?
Em Portugal, a "cultura dos toiros" é anterior à própria fundação da nacionalidade. Já os Romanos a tinham encontrado quando aqui chegaram!
A terminologia grega na Filosofia alguma vez pôe em causa a especificidade da nossa cultura?
A mesma pergunta se faça sobre a terminologia do Direito Romano, da própria linguagem científica, etc.
Marra-se conta as línguas naturais, contra a Igreja, contra a tourada, etc., mas eu sei o fio condutor que atravessa tudo isto: a cartilha marxista. Há muita gente que o que tem na cabeça é esta cartilha, ainda que não vote comunista nem socialista. Estão intoxicados sem se dare conta. Para mim são os mais perigosos porque idiotas úteis.

Anónimo disse...

Então, a cultura dos touros não faz parte da cultura portuguesa... "é anterior à própria fundação da nacionalidade. Já os Romanos a tinham encontrado quando aqui chegaram!"... ou seja ... é pagã !!!...

Depois: "A terminologia grega na Filosofia alguma vez pôe em causa a especificidade da nossa cultura?"
Então, qual é problema de se usar QUaLQUER língua para expressar as ideias? Estas é que são importantes!

Finalmente:
1)não argumentou... fez julgamentos!
2)não respondeu à questão posta!

PS - ao anónimo de 20 de Maio: não estou aqui para "dar" nada a ninguém nesses termos!

Anónimo disse...

Você já deu para perceber que é muito bom em retórica mas em discernimento sobre o mundo em que vivemos já não poderei dizer o mesmo. A sua mentalidade leva a concluir que prefere ser um bispo de uma paroquia a ser padre numa catedral, com essa mentalidade é que o mundo está como está e assim não vamos a lado nenhum, temos que por fim a esta mentalidade paroquiana, como é o caso do meu caro que escreve neste bloge de forma tão reaccionária, conservadora, instalado e acomodado no pedestal burguês em que se encontra, distanciado da realidade e alheio à globalização selvagem em que vivemos.
Meu caro o Castelhano era falado por largas camadas da população portuguesa desde o século XV ao século XVII, nós fomos pioneiros ao iniciar a globalização nesta época, assim como o Português naturalmente era falado e falava-se não somente na corte apenas devido à politica de casamentos e alianças que existia em toda a Europa daquele tempo, este aprofundamento mais intenso vêm desde D. João II, que antes do tratado de Tordesilhas negociou uma união dinástica na casa de Avis entre Portugal e Espanha tendo a morte do seu filho posto fim a esse ideal e tendo o cunhado D. Manuel I sucedido, mas devido também às intensas relações comerciais, literárias, cientificas, era comum haver intercâmbio entre universidades dos dois países, mas a determinada altura isso terminou porque a geopolítica entretanto alterou-se devido a guerra da restauração da nossa independência, à guerra da sucessão em Espanha, em que fomos aliados de Inglaterra e da Alemanha para por fim à união dinástica da Espanha com a França, devido também por fim às guerras Peninsulares a mando de Napoleão, ficamos de costas voltadas para Espanha e foram as elites que nos governavam que acabaram por impor esse destino identitário, cultural e linguístico ao nosso povo, alas coisa que a elite de outros povos fizeram por esse mundo fora. Em Timor pouco se fala actualmente o Português mas isso não impede de se seguir esse caminho, o que senhor fez foi baralhar e dar de novo.
O que o meu caro nega é a contaminação linguística e a construção social e cultural dos povos, são os seres humanos que estão no centro do seu destino e também a natureza que o rodeia, tudo o resto são balelas que só têm causado mal ao mundo por esses séculos fora como a cruzada contra o Iraque apoiada pelos governos que estiveram na cimeira dos açores, o meu caro deve ter votado nesse governo em 2001 que infelizmente ganhou minoritariamente e ficou a dois por cento de ser derrotado, trazendo tanto mal ao mundo não acha que muita gente com as mãos manchadas de sangue no meio de isto tudo?!
Os políticos do Brasil têm mais visão e pragmatismo que o meu caro, eles já perceberam melhor que o senhor o que é o Multiculturalismo e mais que isso o Interculturalismo na actualidade, você demonstra uma preocupante estreiteza de pontos de vista, o que só contribui para o domínio do Inglês Anglo-saxónico e da industria da sua Cultura neste mundo a saque em que vivemos. Os povos anglo-saxónicos e germânicos são aquilo que ficou de fora do domínio de Roma e da Civilização Clássica, mas parece que isso já não o incomoda tanto, combate os bárbaros dentro mas esquece os bárbaros que vem de fora, o que não deixa de ser surpreendente, sabendo o que se passou no final do império Romano. O Portuganhol, o Esperanto são caminhos a trilhar e demonstra uma grande inteligência politica, cultural e identitária dos povos do futuro, este debate linguístico veio para ficar, cada vez é mais premente para os povos que querem deixar alguma da sua mundivivência ao mundo, mas infelizmente já é muito tarde para muitos povos, sobretudo ao nível do movimento dos povos indígenas.
O meu caro devia saber que quando faz mau tempo no canal da mancha os ingleses dizem que o continente está isolado, eu penso que isso é muito mau para a Europa e para o mundo, mas isso não lhe passa pela aba do casaco sequer.
A nossa mãe será sempre nossa mãe mas isso não significa que ela não morra um dia de forma material, bem sei que parte do que nos transmitiu ainda existe em nós, mas tudo o que ela representa morre um dia. Com o Latim passa-se o mesmo é uma língua morta e encapsulada no tempo, não é uma língua viva construída pelos seus falantes, o latim coloquial revelou ser mais vivo que o latim que o senhor estudou, assim como as línguas românicas que lhe seguiram e donde surgirá mais tarde o Galaico-Português.
Mas parece que o meu caro tem vontade especial de desenterrar os mortos que lhe convêm, porque nega a dinâmica social do ser humano e só foca a língua da Igreja o Latim e quanto muito o outro idioma clássico o Grego em que foram escritos os últimos evangelhos.
O seu conservadorismo cega-o em relação à progressão do inglês isso já ficou claro, bastante claro aliás.
Meu caro em relação ao laicismo o senhor revela uma ignorância abismal e uma retórica falaciosa, se a igreja quer ser autónoma do estado então que comece por denunciar o tratado da concordata e se submeta à lei comum como qualquer outra religião. A igreja tem os seguintes privilégios ou vacas sagradas: isenções fiscais, ensino de religião no ensino oficial financiado pelos nossos impostos, ordenamento urbanístico em relação às suas igrejas e templos, ministrar cursos no ensino superior, patentes nas forças armadas do pais, outras crenças não beneficiam destas garantias e desta forma. A igreja Católica Apostólica Romana tem prerrogativas que só um estado independente possui, como diplomacia própria, assinar tratados e ter um corpo diplomático que é a hierarquia eclesiástica nos outros estados em que está representada, têm um Banco do Vaticano com leis especiais, têm património acumulado, só as santas casas da mesiricordias são as maiores proprietários do pais à conta de legados de séculos, já para não falar nas receitas do monopólio do jogo. Porque é que a igreja não desenvolve a sua actividade e ensina a sua doutrina nos seus templos e nas suas igrejas sem a muleta do estado? O meu caro sabe o que em Portugal nós temos? Uma boa lei de liberdade religiosa mas uma péssima lei de igualdade religiosa. O Estado é imoral por não ter regras, mas é muito mais imoral e a igreja também por ter regras destas. Mas as igreja e a sua hierarquia só se lembra das regras que lhe convém, pois porque se for a aplicar as escrituras sagradas, as encíclicas, as actas dos concílios, dogmas decretados pelos diversos papas, direito canónico e toda a doutrina social da igreja completamente anacrónica em todo o seu rigor e com todas as suas consequências o meu caro deixaria de ser Católico Apostólico Romano em menos de nada e já não quereria saber da igreja para nada, se não lhe desse um curto circuito cerebral entretanto!
Porque a hipocrisia é tanta assim como assim como a cegueira e a falta de discernimento por esse mundo, sabia que a pena de morte existe nas leis em latim do estado do Vaticano, mesmo que não seja aplicada há cerca de duzentos anos, mas o principio está lá inscrito.
A igreja está prostituída com a política meu caro e mata em nome de Deus como fez aqui ao lado em Espanha durante a guerra civil, já para não falar no silêncio da igreja durante o holocausto e o nazismo. E os arquivos secretos do Vaticano e os segredos obscuros que ainda subsistem, se são assim tão secretos é porque coisa boa não há lá para os nossos historiadores vasculharem e a igreja sabe disso muito bem meu caro é tudo fachada mas cheio de podre por dentro que até transandra. Fátima nunca foi reconhecida oficialmente pela igreja mas é conveniente andar associada a ela, que credibilidade querem ter quando muita gente já tomou consciência dos embustes que a igreja sempre prega em toda a sua história, mesmo quando se apropriava dos ritos pagãos para colar o seu calendário litúrgico em cada um dos recantos do antigo Império Romano convertido oficialmente ao Cristianismo.

A hipocrisia e o descrédito da igreja e da cúria Romana do tempo da idade média chega ao ponto de casar pessoas em Vestido de Branco, sabendo nós que fornica dores é o que não falta, algumas chegam a casar grávidas e conheço inúmeros casos, os padres deveriam ser logo os primeiros a ser excomungados. E o meu caro não se indigna enquanto Católico Apostólico Romano haver milhares de casados em segundas núpcias e outras núpcias em Portugal com uma pessoa e o senhor sabe que estão casados pela igreja com outra pessoa, já não civilmente em Portugal mas sim no estado do Vaticano, isso não o incomoda como Católico? E por fim que história é essa de ser Católico praticante e não praticante, ou se é Católico ou não se é Católico e portanto não é salvo, ou então é tudo salvo ao molho e fé em Deus! Chega de hipocrisia e deixe de dar lições de moral, quando não tem moral para isso!

Anónimo disse...

Já agora meu caro se gosta de touros a serem estoucados, porque não é adepto de haver gladiadores a lutarem até à morte e com pão e circo para o povo à mistura à boa maneira da roma Antiga, talvez instituir a escravatura, servindo todos estes idiotas úteis para fazerem vassalagem para deleite do clero e de burgueses como o meu caro e outras elites. Digamos que convinha não afrontar as pagãos, porque a autoridade do estado tem limites e os principios é só para quando é conveniente aplicar.

Unknown disse...

Desde quando é que a cultura dos toiros, por ser anterior à própria fundação da nacionalidade, não faz parte da cultura portuguesa?
Mas com quem é que eu estou a falar? Que lógica é a do seu pensamento?
Claro que a festa de touros é de raiz pagã. E depois? Desde quando é que o sentido cristão fica impedido de baixar sobre a mesma festa?
Meu amigo, qualquer língua natural é um veículo dos mais longínquos traços culturais no campo da religião, dos usos, costumes e tradições. Ora isto é um obstáculo à progressão do marxismo, razão por que esta ideologia vê com bons olhos os esforços dos esperantistas. De facto, a língua artificial destes não é veículo de qualquer cosmovisão que venha da bruma dos tempos e se oponha à construção do "novo homem", utopia assustadora.