Há cinco dias, a maioria dos presidentes de câmara do distrito foi ao Governo Civil de Setúbal protestar contra "o crescente desinvestimento na região de Setúbal por parte da administração central".
A julgar pelas imagens por mim observadas, terão comparecido dez chefes de edilidade eleitos pela CDU e faltaram três eleitos pelo PS (Alcácer do Sal, Grândola e Montijo), embora a iniciativa se tenha inserido, alegadamente, no âmbito da Associação de Municípios do Distrito de Setúbal, na qual estão inscritos todos os municípios da região.
O protesto faz todo o sentido. Mas discordo da redacção, o que poderá explicar a aparente falta de unanimidade.
Estranho duas coisas: que nas imagens estejam visivelmente ausentes eleitos do PS e no documento sejam omissas as assinaturas, ficando sem se saber se assinaram os 13 ou apenas a dezena da CDU.
Politicamente é relevante apurar se esta tomada de posição foi unânime ou se, embora maioritária, apresenta contornos nitidamente partidários, tanto mais que – autarcas à parte – nas organizações que compareceram frente ao governo civil há claro predomínio do Partido Comunista.
Chamem-lhes "forças vivas" ou o que quiserem, porque sem a compreensão e o apoio do povo autêntico – o principal interessado e prejudicado – dificilmente iniciativas deste jaez produzirão os efeitos pretendidos. Pelo contrário, propiciarão reacções contraproducentes como a da governadora civil.
Vem a talhe de foice recordar que os autarcas deste distrito têm um sério problema entre mãos, relativamente ao qual não vejo nenhuma acção positiva: o povo revela crescente indiferença pelo poder local e em seis concelhos a abstenção está acima de 50%.
Repare-se na abstenção verificada nas últimas eleições locais no distrito de Setúbal (entre parêntesis o nome da força política que elegeu o actual chefe da edilidade):
Alcácer do Sal (PS), 38,8%
Alcochete (CDU), 38,7%
Almada (CDU), 51,87%
Barreiro (CDU), 46,2%
Grândola (PS), 31,7%
Moita (CDU), 50,6%
Montijo (PS), 52,9%
Palmela (CDU), 52,2%
Santiago do Cacém (CDU), 41,7%
Seixal (CDU), 53,4%
Sesimbra (CDU), 49,1%
Setúbal (CDU), 50,9%
Sines (CDU), 42,3%
Em três décadas, a abstenção verificada em Alcochete teve a seguinte evolução:
1976 - 30,5%
1979 - 23,4%
1982 - 23,8%
1985 - 31,5%
1989 - 32,5%
1993 - 31,6%
1997 - 38,6%
2001 - 37,8%
2005 - 38,7%
Somem-se os cerca de 1.300 residentes que nunca mudaram o seu recenseamento eleitoral para Alcochete e chegar-se-á facilmente à conclusão que três em cada cinco munícipes estão-se nas tintas para o poder local que temos.
Sem comentários:
Enviar um comentário