07 janeiro 2007

Saúde no país dos cidadãos descartáveis

Porque leio regularmente o «Diário da República», já me tinha apercebido que o Centro de Saúde de Alcochete tem, há meses, nova tutela directiva, comum aos congéneres de Barreiro, Quinta da Lomba, Moita, Montijo e Baixa da Banheira.
Não abordei o assunto porque, comprovadamente, ele interessa a muito poucos e nem vale a pena pormenorizá-lo, já que os principais utentes dos centros de saúde são os velhos e, no caso de Alcochete, embora representem cerca de 19% da população residente, dessa franja da sociedade ninguém quer saber rigorosamente nada.
Aos novos – que usufruem de seguros de saúde, que nunca adoecem, que jamais envelhecerão e não querem saber dos velhos – pouco interessa que o funcionamento dos centros de saúde seja bom ou mau.
No entanto, ao contrário do que esta notícia parece sugerir – continua a espantar-me o distanciamento social e a resignação dos jornalistas da actualidade – duvido que os utentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS) sejam melhor servidos com estes métodos de gestão.
Sejamos racionais: é mais fácil gerir organizações e resolver os problemas junto delas ou a 30kms de distância?
Para mim, a promessa de os utentes usufruírem de consultas de especialidades e do apoio de hospitais de referência é música para adormecer. Na prática, amanhã as coisas estarão muito piores que anteontem, ontem e hoje.
Talvez o governo – e, em particular, o ministro da Saúde – volte a embandeirar em arco por mais uma redução de despesa no SNS.
E se esta política ocasionar a morte prematura de muitos velhos, a Segurança Social deixará também de ser preocupação?
Que país construímos se se tratam os cidadãos como descartáveis, esfolando-os com impostos durante a vida activa e retirando-lhes apoio ao pesarem no orçamento?
Entrementes, pouco importa que, diariamente, no Centro de Saúde de Alcochete, aumente o número de utentes, de médicos, de enfermeiros e de funcionários descontentes e desmotivados com esta política.

A verdade é que uns e outros continuam a refilar apenas entredentes, pelo que presumo haver medo de falar alto. Ou continuarão resignados por terem o que merecem?

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