22 janeiro 2007

Mais duas catedrais de consumo


Para alguns ainda será novidade estarem a caminho duas novas catedrais de consumo em Alcochete.
A primeira, com 1.050m2 de área, é já bem visível na confluência da pomposa variante com a estrada da Atalaia, em Alcochete.
Dizem-me que aquele edifício com aspecto de armazém, naquele local, tem surpreendido muita gente. A mim já nada me espanta.
Para que não haja mais surpresas, consulte-se aqui a lista das superfícies comerciais autorizadas até 20/10/2006, ao abrigo da Lei n.º 12/2004, de 30 de Março.
Se se reparar nos campos 764 a 772 do documento, referem-se todos a Alcochete. E com uma simples subtracção tudo se esclarece: quem de 9 lojas licenciadas tira sete já existentes, sobram duas. Aquela em construção e outra ainda maior, com 1.499m2, que aparecerá aí qualquer dia.
Estava "apontada para reabilitar um antigo espaço comercial, servindo uma nova e crescente área habitacional do concelho". São só vantagens... Não sejam pobres e mal agradecidos. Vá, agradeçam a S.ªs Ex.ªs. Chapelada neles!
Saiba-se que as catedrais de consumo com área até 2.999m2 são autorizadas por comissões municipais, constituídas por representantes da Associação de Comércio e Serviços do Distrito de Setúbal, assembleias e câmaras municipais envolvidas, associação de consumidores DECO e Direcção-Regional da Empresa.
Creio que, há pouco mais de um ano, terei lido um programa eleitoral autárquico que prometia "revitalização do comércio tradicional", "incentivar a formação e a qualificação dos serviços prestados pelos estabelecimentos locais de comércio", "acções promocionais de rua com vista à dinamização e revitalização do comércio tradicional", "criar incentivos para a promoção visual dos pontos de venda de comércio tradicional" e "estudar, em articulação com o comércio e os serviços locais, a implementação do Passaporte Alcochete, como incentivo à sua utilização, em articulação com espaços e eventos culturais e desportivos".
Li esse programa eleitoral, tenho a certeza. E desculpem não me lembrar a quem pertencia e se os proponentes foram ou não eleitos. Quem votou neles que trate disso.
Muito mais importante é reparar-se que, por causas jamais estudadas, minimizadas ou resolvidas, na última década encerraram no centro histórico de Alcochete dezenas de estabelecimentos, como o de electrodomésticos cuja fachada reproduzo na imagem acima.
A imagem tem pouco mais cinco anos e, quem passar hoje pelo Largo da República, verá que a frente da loja continua intocável. Só a porta está encerrada, embora o interior continue repleto de mercadoria. A realidade crua é o papel colado na porta: «trespassa-se».

4 comentários:

Anónimo disse...

Estou estarrecido... Alcochete está a ser assassinado. Nada parece obedecer a um planeamento urbanístico decente.

A técnica, aqui, é: abre-se um arruamento (leia-se faixas de circulação automóvel pavimentadas e uns passeios manhosos - quando os há) e plantam-se as margens com construções.

Eu nem quero imaginar a ligação da variante actual até à freeport. Temia um atentado ao bom gosto (já não seria o único). Agora temo um atentado à inteligência!

Só há uma explicação - suspeito que há muita gente a ganhar com isto tudo!

E não há um grama de crítica em Alcochete … com as excepções que sabemos – parece que pouco acompanhada!

Anónimo disse...

«O meu nome é Octávio... sou director de marketing. Sim sou eu o tipo que vos impinge porcaria caros consumidores.É verdade ... sou uma espécie de poluidor universal. Sou o tipo que vos faz sonhar com coisas que vocês jamais terão. Um céu sempre azul , miúdas giras a rodos , enfim ... uma felicidade perfeita retocada na Photoshop. Quando , à custa das vossas economias , vocês conseguirem pagar algum dos vossos desejos , aqueles que eu vos injectei na minha última campanha publicitária , eu já os terei tornado «fora de moda». Estou sempre três passos à vossa frente e vou arranjar sempre maneira de vocês se sentirem frustrados.O Glamour ...o Glamour é um país distante onde vocês jamais chegarão. Sou eu que vos forneço a droga da novidade , uma novidade que nunca é novidade , pois existirá sempre uma novidade que envelhece a novidade anterior. Fazer-vos babar de vontade de consumir , de comprar , de querer ter , é esse o meu sacerdócio. Essa enorme frustração de tudo querer e nada vos conseguir satisfazer or muito tempo é o meu «doping». Na minha profissão chamamos-lhe « Depressão Pós-Compra». Querem muito comprar uma coisa , mas assim que a compram já querem outra. Qual é o lema da nossa sociedade: «EU GASTO LOGO EXISTO». Para criar essa necessidade incontrolável de consumir é contudo fundamental atiçar um sentimento. A INVEJA E A INSATISFAÇÃO PERMANENTE. A vontade incontrolável de termos o que os outros têm. Essa é a verdadeira especialidade de um profissional do Marketing.~São esses sentimentos que são as nossas munições. E o ALVO SÃO VOCÊS.

Tradução livre de minha responsabilidade desde o francês de excerto do livro de Frederic Beigbeder - «99 F» editado pela Grasset ( desconheço de à edição portuguesa)

Luis Proença

Anónimo disse...

Correcção:

Desconheço se há edição portuguesa desta obra.

Recomendo vivamente!

Frederic Beigbeder : «99 F»

Luis Proença

Anónimo disse...

Ah boa então parece que vem para ai mais um Pingo Doce e um Minipreço ... deve ser para tar as moscas como o Plus. Só fugindo daqui para manter bem guardada a imagem da minha linda vila porque daqui a uns tempos nada existirá.