A propósito deste meu texto, recebi do leitor Sousa Rego uma mensagem que agradeço e deixo à consideração geral.
Acrescentarei apenas concordar com as suas recomendações, porque a elas fiz referência em vários textos arquivados neste blogue.
Estive a consultar outras actas!
Dessa consulta considerei oportuno dizer o seguinte:
Samouco e Aldeia-Galega.
Uma integração frustrada.
Em 14 de Novembro de 1840 a Acta das Sessões da Câmara dos Senhores Deputados da Nação Portuguesa registava o seguinte:
-Ministério do Reino. Um Orneio enviando uma representação da Câmara Municipal do Concelho de Alcochete pedindo que não se atenda ao requerimento dos moradores do Logar de Samouco que pretendem ser anexados ao Concelho de Aldegallega do Riba-Tejo.
Uns anos depois, mais concretamente em 6 de Abril de 1883, e na mesma Câmara dos Senhores Deputados consta da acta e com o título “Representações”, o seguinte:
-Da junta de paróquia e moradores da freguesia de S. Braz do Samouco actualmente do concelho de Alcochete pedindo que se faça uma lei no sentido de anexar aquela freguesia ao concelho de aldeia Gallega.
Estas duas pretensões espaçadas no tempo por mais de 40 anos revelam uma realidade histórica e sociológica até ao momento pouco explorada.
A questão que se coloca é a de saber quais os motivos profundos que terão levado as gentes do Samouco a pedir a anexação da sua terra à vizinha Aldeia Gallega, separando-se, assim do concelho de Alcochete?
De um ponto de vista geográfico o Samouco está mais perto da então vila de Aldeia Gallega, hoje a cidade de Montijo, do que da sua sede de concelho, a vila de Alcochete.
Durante o passado século XX, para os assuntos mais importantes da vida diária das populações, era costume recorrer-se mais ao Montijo do que a Alcochete.
Com a nova era da globalização talvez tudo se tenha alterado um pouco.
Porém, estamos certos que esta tendência “histórica” se está a manter dado estar enraizada no sentir colectivo de toda uma população.
A Alcochete e para as gentes do Samouco só se vai se a tanto se for obrigado.
Certamente que a proximidade geográfica sempre foi um factor de importância a fortalecer as pretensões de anexação ao Montijo.
Sucede que terão existido outros factores a alimentar o movimento de separação do concelho de Alcochete.
De entre esses múltiplos factores que normalmente se conjugam em questões desta natureza, cabe salientar o sentimento das gentes do Samouco a considerarem que a sua terra, ao longo dos tempos, tem vindo a ser prejudicada face à vizinha sede do Concelho que é Alcochete.
E isto em inúmeros aspectos, sendo aqueles que o povo mais nota, no campo das “obras públicas vivas” e das realizações culturais e recreativas.
O “défice” é manifesto. Mas, diga-se em abono da verdade, ainda é maior relativamente às outras freguesias e povoações do concelho de Alcochete.
Esta realidade ”histórica” traduz, como não podia deixar de ser, ”culpas colectivas”.
Estamos agora em pleno Século XXI e no momento oportuno e inadiável para a “expiação” dessas “culpas colectivas”.
E, a “expiação dessas culpas”, passa pela efectiva concretização da freguesia do Samouco ser tratada, por direito próprio, em plena proporcionalidade e igualdade com a sede do concelho e demais freguesias.
E isto para não se estar à espera que surja, de novo, um movimento,-“ pedindo que se faça uma lei no sentido de anexar aquela freguesia ao concelho de Aldeia Gallega-“.
É preciso estar atento aos sinais dos tempos e às legítimas e justas aspirações das gentes do Samouco.
1 comentário:
Queixas antigas ou actuais?
Da consulta das actas da Câmara dos Pares do Reino e relativa à sessão de 25-6-1889, não resisto a transcrever a seguinte excerto:
-580 DIARIO DA CAMABA DOS DIGNOS PARES DO REINO
-“O sr. Visconde de Azarujinha: — Sr. presidente, eu pedi & palavra para chamar s, attenção do sr. ministro das obras publicas para o seguinte assumpto, que considero não só de grande importancia para o thesouro e para a propriedade, mas de verdadeira e indiscutivel justiça.
Entre as freguezias de Alcochete e Aldeia Gallega existe um largo tracto de terreno occupado por valiosas marinhas, ….Estas valiosas propriedades estão actualmente quasi abandonadas, o seu valor altamente diminuido, e a cultura e producção é ruinosa para os que ainda persistem em a tentar.
A rasão d’este facto tão prejudicial para aquelles proprietarios, para a população trabalhadora que n’ellas se empregava e para o estado, que deixará em breve de receber os respectivos impostos, consiste em que o rio do Samouco que, communicando com o Tejo, lhes ministra a agua para, a cultura, e para os esteiros para onde navegam os barcos que exportam o sal, está quasi entupido, obstando já a entrada dos barcos mesmo em aguas vivas, de forma que aquellas valiosas propriedades estão condemnadas em breve a não poderem ter saida alguma para os seus productos.
É necessario, pois, fazer obras de limpeza e desentupimento para ser desobstruida a communicação com o rio Tejo.-“
Será que esta denúncia e recomendação feita em 1889 pelo Visconde de Azarujinha se mostra actual?
Quer-nos parecer que sim! O “Rio do Samouco” persiste com um assoreamento elevado e que se tem vindo a agravar nestes últimos anos.Dizem as pessoas mais antigas que esse “Rio do Samouco” era limpo e “desobstruído” com as frequentes aberturas das comportas das salinas e marinhas ali existentes.
Actualmente a quem pertence essa responsabilidade?
A Fundação das Salinas do Samouco não poderá alijar tais responsabilidades.E o mesmo sucederá ao Município de Alcochete pois, ao integrar o respectivo Conselho de Administração ,terá sempre algo a dizer sobre essas e outras matérias,sendo esta de “verdadeira e indiscutível justiça” para um efectivo equilíbrio ambiental de toda a zona.
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